Tem quem faça a linha "moderninho" e diga ser "antigo","fora de moda" o
tema ditadura no Brasil. Para quem não gosta de ditadura, de direita ou
de esquerda, algumas imagens, atos e personagens provocam asco.
Carlos Brilhante Ustra é coronel reformado do Exército. O Tribunal de
Justiça de São Paulo já o reconheceu como torturador. Muitos dos
torturados o apontaram como comandante de um centro de torturas e
assassinatos.
Ustra chefiou o tenebroso DOI-CODI entre 1970 e 1974. Entre 70 e 75, os
presos mortos no DOI-CODI em São Paulo foram 50. Passados 27 anos do fim
da ditadura o Brasil instalou uma Comissão da Verdade.
Ustra foi ouvido na última sessão da Comissão da Verdade. Quem teve
coragem para comandar centros de tortura e levar à morte quem já estava
preso, agora não tem coragem para admitir a verdade.
De maneira cínica, com uma valentia que busca esconder a covardia, Ustra
se defende agredindo quem ousou sobreviver ao pau-de-arara. Segundo
manchetes, Ustra "negou" as torturas e disse que quem resistiu à
ditadura era "terrorista".
Só ignorância, ingenuidade ou a má fé aceitam uma afirmação como essa.
Terror pratica quem rasga a Constituição de um país. Terrorista é quem
prende sem provas, tortura, mata e depois esconde os corpos. Terror
pratica quem sequestra filhos de presos políticos.
Em qualquer canto do mundo, e em qualquer tempo, quem combate ditaduras,
de esquerda ou de direita, é isso: um combatente. Alguém que, ao menos
em relação àquele período, terá um lugar de respeito na história.
Em quase todo o mundo, derrubada uma ditadura vêm as lições:
torturadores e assassinos são julgados e condenados. Como fizeram nossos
vizinhos Uruguai e Argentina. Como fizeram Alemanha e Itália pós Hitler
e Mussolini. Como fizeram alguns dos países da "Cortina de Ferro" e, há
pouco, alguns da "primavera árabe".
Dar crédito, permitir dúvidas sobre alguém como Ustra, provoca asco. É
doentio para a sociedade o tratar como iguais, em relação aos fatos, um
torturador e um torturado.
Isso pode parecer distante, "antigo", mas não é. Bolsonaro é deputado
federal. Tem filhos que são parlamentares. E nas redes sociais têm a
fascistaria que defende seus ideais: em favor da tortura, da morte e da
ditadura.
Por isso a Comissão da Verdade, o contar nossa História, são
importantes. Para que se saiba quem foi quem. Quem é quem. E quem,
apesar dos disfarces, continua sendo o que sempre foi.
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Do Blog O Esquerdopata.
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