Virou uma zona federal. Não tem mais hora, nem lugar, nem limite. |
O que até outro dia era uma ação de bandos de vândalos mascarados de preto que apareciam quebrando tudo ao final de manifestações ditas pacíficas, nas últimas semanas alastrou-se pelo país afora numa onda de banditismo que fugiu ao controle das autoridades de segurança pública estaduais.
E o governo federal faz de conta que não tem nada com isso, a não ser
no dia do leilão de Libra, na segunda-feira passada, em que
convocou tropas do Exército e da Força Nacional para garantir a ordem no
Rio. As tropas voltaram aos seus quartéis e a baderna continuou nas
ruas das principais cidades do país.
Alertei aqui mesmo no dia 8 de outubro, há 19 dias, portanto, em artigo
sob o título "Que espera o governo federal para agir contra onda de
vandalismo?":
"Já passou da hora de o Ministério da Justiça acionar a Força Nacional
para, junto com as polícias estaduais, tomar medidas concretas para
evitar que esta onda se alastre pelo resto do país, com a formação de
outros grupos organizados, inspirados nos chamados "black blocs", e
tome proporções incontroláveis quando a campanha eleitoral esquentar no
próximo ano".
Só na noite desta segunda-feira, depois que manifestantes fecharam a
rodovia Fernão Dias, cortando a ligação de São Paulo com Belo Horizonte,
atearam fogo a duas carretas, cinco ônibus e um carro parados na
pista, e saíram roubando e depredando por onde passavam, finalmente o
secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, telefonou
para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para pedir ajuda
federal.
"Conversamos sobre a melhor articulação entre ações", informou depois o
ministro da Justiça, sem entrar em maiores detalhes sobre como se dará
este trabalho. A princípio, segundo assessores de Cardozo, a parceria
se dará entre a Polícia Rodoviária Federal e a polícia de São Paulo
para conter os protestos nas estradas. Só hoje, terça-feira,
representantes dos governos federal e estadual vão se reunir "para
definir uma estratégia policial comum em manifestações desse tipo".
Nada se falou sobre o envio das tropas da Força Nacional, o que deve
ser solicitado pelo governo estadual, mas também nada impede que o
ministro da Justiça faça uma visita a São Paulo para conversar com o
governador Geraldo Alckmin e se informar sobre a gravidade da situação. O
governador, por sua vez, limitou-se a enviar uma mensagem pelo
Twitter.
O problema é que a onda de banditismo, pois é disso que se trata, é
muito maior, e não se limita ao fechamento de rodovias. Desde o começo
de julho, quando se multiplicaram os atos de violência contra bens
públicos e privados, interditando ruas e avenidas centrais das grandes
cidades - faz quatro meses, portanto - a polícia tem se limitado a
efetuar algumas prisões, que logo são revogadas por determinação da
Justiça, sem que até hoje qualquer vândalo tenha sido punido.
Só no último protesto em São Paulo, que começou no domingo após um
policial matar o jovem Douglas Rodrigues, de 17 anos, com um tiro no
peito, mais de 90 pessoas foram presas, entre elas o soldado Luciano
Pinheiro Bispo, autor do disparo. O policial alegou que o tiro foi
acidental.
Na sexta-feira, 92 pessoas foram detidas depois que manifestantes
espancaram e tentaram linchar o coronel PM Reynaldo Simões Rossi, na
região central de São Paulo. Apenas oito presos foram indiciados por
crimes como danos ao patrimônio, formação de quadrilha, tentativa de
homicídio e uso de explosivos.
Para se ter uma ideia de como as nossas cidades - e não apenas as
grandes metrópoles - estão virando uma terra de ninguém, na mesma noite
de domingo em que uma região de São Paulo virou praça de guerra, um
grupo de jovens e policiais militares se enfrentaram durante duas horas
nas ruas de Sorocaba, a 90 quilômetros de São Paulo.
Segundo a PM, os vândalos empinavam motocicletas, circulavam com seus
carros na contramão, com o som ligado no volume máximo e alguns foram
flagrados fumando tranquilamente um baseado, sem dar a menor bola para a
polícia. E seguiu-se o de sempre: policiais jogaram bombas de gás
lacrimogêneo para dispersar a turba, que revidou atirando garrafas
contra a tropa. Ninguém foi preso.
Enquanto as forças de segurança demoram a agir, o fato concreto é que a
bandidagem perdeu o medo e o respeito pelos homens de farda
encarregados de manter a ordem pública. E faltam apenas seis meses para
começar a Copa do Mundo no Brasil. Quem ainda se habilitará a vir para
cá no meio desta guerra?
Ricardo Kotscho
No Balaio
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