"A ex-ministra de Lula continua
pedindo "metabolização" e "completude" para "democratizar a democracia".
Isso numa reunião em que se falou em "novo padrão civilizatório" e
"inclusão cidadã". Para quem não quer dizer nada, é tudo", ironiza o
colunista Elio Gaspari; segundo ele, aliança com o PSB, de Eduardo
Campos, entrega pouca carne e muita farinha
Um discurso vazio. Assim o jornalista Elio Gaspari encara as falas da
ex-senadora Marina Silva sobre os mais diversos temas. Leia abaixo:
Falta carne na receita do PSB/Rede
Sonhando-se, metaboliza-se a completude que conseguirá os alinhamentos de um novo padrão civilizatório?
Marina Silva deu mais um passo na sua campanha para tirar o PT do
Planalto com o 1º Encontro Programático que discutiu um texto básico de
sua aliança pragmática com o governador Eduardo Campos. Um grupo
político que coloca sua reunião no ar, ao vivo, alguma coisa de bom
pretende fazer. Se até a campanha do ano que vem o PSB e o Rede
começarem a falar português claro, fará melhor.
A ex-ministra de Lula continua pedindo "metabolização" e "completude"
para "democratizar a democracia". Isso numa reunião em que se falou em
"novo padrão civilizatório" e "inclusão cidadã". Para quem não quer
dizer nada, é tudo.
Discutiu-se um texto preliminar que dizia o seguinte:
"É necessária mudança profunda do sistema político para permitir a
emergência de outro modelo de governabilidade, cujos alinhamentos se
deem em torno de afinidades programáticas, e não em torno de
distribuição de feudos dentro do próprio Estado, do desmantelamento da
gestão pública, e do uso caótico, perdulário e dispersivo do orçamento
nacional."
Muita farinha para pouca carne. Felizmente um orador propôs a redução
dos cargos em comissão (coisa que Eduardo Campos, que tem o apoio de 14
partidos, poderia começar a fazer hoje em Pernambuco) e denunciou as
"portas giratórias" montadas nas agências reguladoras de serviços. Outro
defendeu o fim da reeleição e as candidaturas avulsas. Alguma carne.
Isso acontece numa coligação onde o provável candidato a presidente diz
que não quer "ganhar perdendo", pretende "vencer o que está
ultrapassado" impondo "outro padrão de serviço público" a partir de "um
salto de qualidade da política", com uma "visão estratégica para as
próximas décadas". Pura farinha.
Célio Turino, porta-voz da Rede, disse que, "para se mudar a realidade,
primeiro é preciso sonhar". Para ficar na retórica do sonho, Martin
Luther King anunciou o seu há 50 anos depois de ralar cadeias e
passeatas, com uma agenda clara: o fim da segregação racial nos Estados
Unidos. Como? Cumprindo-se uma sentença da Suprema Corte e aprovando-se a
legislação de direitos civis que estava no Congresso. Quando ele
discursou aos pés da estátua de Lincoln, não estava sonhando. A
realidade americana já estava mudando.
Não se pode pedir a Marina Silva e Eduardo Campos que sejam específicos
um ano antes da eleição. Pedir-lhes que ouçam os discursos da doutora
Dilma seria um suplício. Se eles e seus militantes deixarem de proteger
indecisões e dúvidas com frases que não querem dizer nada, uma reunião
de cinco horas poderá acabar em 45 minutos, mas quem os ouve sairá no
lucro.
A reunião de segunda-feira foi uma discussão em torno de um rascunho.
Marina espera que as contribuições, reunidas em desafios, sejam levadas
às bases para que voltem a um plenário representativo da coligação. A
ideia é ótima e no percurso poderão botar carne no prato. Enquanto
Marina esteve no PT, de 1983 a 2009, assistiu à decomposição dessa
promessa.
Marina Silva e Eduardo não são obrigados a falar claro a respeito de
tudo. Ela explicou que a Rede e o PSB devem escutar o que diz o outro.
Ambos, contudo, precisam ser entendidos por quem os ouve.
No 247
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