Recentemente, O Globo publicou reportagem comparando os governos FHC e
Lula e concluiu que as “duas heranças” tiveram aspectos positivos.
Quanta bondade e imparcialidade! No caso do petista, o jornal elogiou a
queda do desemprego e do trabalho infantil. Já sobre o reinado tucano,
ele destacou a sempre badalada estabilidade da moeda e – acredite – a
melhora dos serviços públicos, fruto da privatização de vários setores
da economia. Nesta segunda-feira (21), porém, o próprio diário da
famiglia Marinho foi forçado a desmentir a sua “generosa” tese.
Reportagem dos jornalistas Francis Bogossian e Marcio Patusco confirma
que os serviços de telefonia são caros e de péssima qualidade. “O Brasil
está estagnado na implementação de recursos de comunicações e
informática. Isso é o que mostra recente estudo da UIT (União
Internacional de Telecomunicações), órgão da ONU”. O país ocupa 62ª
posição entre as 161 nações analisados pelo órgão no oferecimento de
capacitações de tecnologias da informação e comunicações, atrás do
Uruguai, Argentina e Chile e outros em nossa região.
“Numa cesta de tarifas que inclui telefonia fixa, celular e banda larga,
ficamos num incômodo 93º lugar. Segundo a UIT, existem 92 países com
preços mais vantajosos do que os do Brasil. Também aqui não houve
progresso, já que no ano passado estávamos em 92º”. A reportagem até
insinua que a culpa por este atraso é do atual governo, mas evita
criticar o criminoso processo de privatização do setor imposto pelo reinado principado de FHC – que inibe ações mais incisivas diante dos abusos e descalabros do chamado “livre mercado”.
Um trecho da matéria, porém, serve de alerta para a presidenta Dilma
Rousseff e de puxão de orelha para o ministro Paulo Bernardo. “O mais
ambicioso plano que o governo elaborou para o atendimento de banda
larga, o PNBL, vem naufragando nos próprios números. Concebido para dar
novos acessos a cerca de 28 milhões de novos usuários de 2010 a 2014,
ele contabiliza pouco mais de 2 milhões de acessos, não havendo mais
possibilidade de sequer chegar perto da meta estabelecida. A Telebrás,
colocada como principal fornecedora desses acessos, luta por
investimentos e não vem conseguindo realizar a infraestrutura
necessária. Sem contar que todo este esforço se concentra em grande
parte no atendimento de acessos com velocidade de 1Mbps (1 Mega bit por
segundo), que muitos países já abandonaram como meta”.
O hilário é que o jornal destaca a pressão por melhorias no setor dos
empresários, os mesmos que defenderam a privatização das comunicações.
“A Firjan cobra um plano de atendimento às empresas médias e grandes,
que inexiste no Brasil, bem como uma perspectiva para depois de 2014,
quando o PNBL se encerra. Em contraposição cita planos de Argentina (80%
das empresas atendidas com 50 Mbps até 2016), Índia (universalização
dos acessos a 10 Mbps para as empresas nas grandes cidades em 2014),
Alemanha (75% das empresas com acesso a 50 Mbps em 2014), Japão
(universalização do acesso para empresas a 1Gbitp em 2015), entre
outros”.
Ao final da matéria, O Globo prega a redução de tributos para as
poderosas operadoras de telefonia e ainda aconselha em tom
editorializado: “É chegada a hora de se pensar mais seriamente na
mudança do arcabouço regulatório das comunicações nacionais, e não
insistir em remendos numa colcha de retalhos que é a atual
regulamentação do setor, deixando para trás o período das estagnações”.
Não há qualquer crítica às privatizações de FHC (também já batizada de
privataria) e nem autocrítica sobre as comparações fajutas do jornalão.
Um comentário:
O que levou à estatização das telecomunicações no Brasil, lá nos anos 60, foi exatamente a estagnação. O primeiro a ver, não poderia ser outro, foi o Brizola. Governador do Rio Grande do Sul, estatizou a CRT e a CEEE, telefonia e eletricidade, na época. Foi um "furdunço" só. O JFK, em pessoa, chamou o Jango às falas sobre as "ações" do cunhado...
Foi a gota d´água, em 64 vimos as consequências...
Só que a estagnação era tão grande que a ideia do Brizola colou! Os governos militares estatizaram tudo mais. Inclusive a poderosa, na época, CTB...
A história se repete, sempre como farsa...
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