Editorial (!) da Folha de S. Paulo:
O trem tucano
Nas investigações sobre a CPTM, um escândalo engata-se a outro, e a
omissão das autoridades paulistas tem garantido a impunidade geral
Tornam-se cada vez mais comprometedoras as notícias em torno da CPTM
(Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e seus contratos
milionários. As suspeitas incidem sobre sucessivos governos tucanos no
Estado.
O caso já é antigo, mas foi reavivado recentemente pela empresa alemã
Siemens, que, em troca de imunidade nas investigações, levou às
autoridades brasileiras documentos que indicam a existência de um cartel
no sistema metroferroviário paulista --com a partilha de encomendas e
elevação de preço das concorrências.
Ao menos seis licitações teriam sido fraudadas, segundo documentos
internos da Siemens, que apontavam conluios durante as administrações de
Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.
Diante das denúncias, o governador Alckmin não apenas anunciou
diligências --que se revelaram bem menos rápidas do que o prometido--
mas também acentuou que, até aquele momento, não havia indicações de
participação de autoridades públicas no esquema.
Pois bem. Enquanto se bloqueavam as tentativas de realizar uma CPI sobre
o escândalo, surgiram nomes de possíveis beneficiários de propina no
governo.
Outra empresa associada ao cartel, a francesa Alstom, vinha sendo
acusada de corromper governos em diversos países. Documentos obtidos por
autoridades suíças sugerem que João Roberto Zaniboni, ex-diretor da
CPTM, teria recebido US$ 836 mil (cerca de R$ 1,8 milhão) da Alstom.
Revela-se agora que, em 2011, as autoridades suíças pediam ao Ministério
Público brasileiro investigações sobre quatro suspeitos, inclusive o
próprio Zaniboni.
Nenhuma investigação foi feita, entretanto. E o motivo alegado para a
omissão é de molde a desafiar a credulidade até mesmo dos mais ingênuos.
É que o pedido vindo da Suíça foi arquivado numa pasta errada. Assim
declara o responsável pelas investigações no Brasil, o procurador
Rodrigo de Grandis.
Como esta Folha revelou no sábado, passados três anos, a Suíça desistiu de prosseguir no caso; as suspeitas foram arquivadas.
Não bastassem as notórias dificuldades brasileiras para julgar, condenar
e aplicar penas aos suspeitos de corrupção, vê-se, no caso Alstom, a
intervenção de um fator acabrunhante: o engavetamento puro e simples.
Desaparece o pedido, perde-se o prazo, enterra-se o assunto,
reconhece-se a "falha administrativa". Que não fique por isso mesmo,
para que o trem tucano não prossiga até a muito conhecida estação
chamada Impunidade.
Um comentário:
Alguém duvida que esse escândalo da CPTM vai cair no esquecimento, mesmo com editorial da "Folha"?!
Impressiona a blindagem do PSDB pelo PIG!
E o mensalão mineiro, quando vai a julgamento?!
Postar um comentário