Mais do que "discutir um programa em conjunto", a reunião de 120 integrantes autênticos do PSB e informais do quase-Rede da Marina Silva inicia uma tentativa de convivência entre os dois contingentes.
Esse artifício é, por si só, demonstração clara da extrema dificuldade,
para não dizer da impossibilidade, de integração efetiva das duas
correntes. Ao menos, agora para dizer alguma coisa positiva, enquanto
não estiver decidido, de fato, quem será o candidato do partido à
Presidência.
Nenhum programa autêntico sairá desses encontros planejados pelas
cúpulas dos dois PSB, tamanhas são as diferenças de propostas. O que
podem fazer é acrescentar mais um mal à artificialidade partidária
brasileira, com outra contrafação de programa.
Só o propósito da Rede de suscitar um enfrentamento com o agronegócio,
por exemplo, basta para impossibilitar entrosamento autêntico com o PSB
de Eduardo Campos, que tem todo o interesse no entendimento com a
riqueza e a força política desse setor.
Em sua oração pela unidade, diz a deputada Luiza Erundina que "Marina se
juntou ao PSB para construir um caminho comum às duas forças, mas cada
uma delas mantendo as identidades e os compromissos". Uma beleza.
Mas, primeiro, Marina Silva juntou-se ao PSB para assegurar-se uma
perspectiva que o seu frustrado partido não pôde dar. Se houvesse
identificação com o PSB, "para construir um caminho comum", Marina não
precisaria "concentrar-se sozinha" para escolher sua adesão, uma vez
negada a existência ao seu partido.
Além disso, as duas correntes "mantendo as identidades e os
compromissos" é justamente o que as impedirá de serem "algo novo" como
partido, ainda no dizer de Erundina. Ou "um jeito novo de fazer
política", nas palavras de Marina. A franqueza é um jeito velho, mas
ainda é melhor.
O PAGADOR
Presidente da Alstom quando a empresa fechou ricos contratos com
governos do PSDB em São Paulo, José Luiz Alquéres diz que, se houve
corrupção, os pagamentos de suborno foram por conta do lobista Arthur
Teixeira e que a este, portanto, cabe "arcar com as consequências
perante a Justiça".
O argumento é forte. Ou será, quando e se Alquéres explicar por que um
lobista, contratado por sugestão do próprio Alquéres, daria dinheiro a
integrantes do governo se os negócios não eram para ele.
MAU SINAL
O "recall", quando fabricantes chamam consumidores para reparo de um
defeito de fabricação, é mal visto por equívoco. Trata-se de um avanço
na relação Fabricante/vendedor/consumidores. Mas, no Brasil, precisa de
regulamentação rigorosa. Ou, com frequência, não passa de farsa para
dar cobertura ao fabricante em caso de processo.
De vez em quando é transmitido um "recall" de carros Audi
deliberadamente incompreensível. Lidos com mal intencionada velocidade,
os números de série dos carros, com dezenas de algarismos e letras, não
podem ser memorizados nem no mínimo necessário. A explicação do
"recall" segue o mesmo truque de publicidade indesejada. O defeito é
grave, porém. É no sistema de alimentação de combustível e implica até
risco de incêndio.
Se o "recall" não considera a gravidade do problema, subordinando-se à
imagem do produto, não cumpre a sua função. Em vez de louvor, merece
punição legal. E assim são eles com frequência, na indústria
automobilística.
Janio de Freitas
No fAlha
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