Aécio foi cobrado a ser mais duro e
assertivo do que o usual e centrar fogo na crítica à política econômica e
ao leilão de Libra.
Aécio Neves ocupou a tribuna do Senado na terça (22) para fazer um duro
discurso contra o leilão do pré-sal. Na quinta-feira da semana anterior
(17), ele havia se encontrado com seu mentor intelectual, o
ex-presidente FHC, e seu mentor de bate-pau, Tasso Jereissati, para
discutir a campanha, chorar as mágoas contra José Serra e definir
estratégias.
Aécio foi cobrado a ser mais duro e assertivo do que o usual e centrar
fogo na crítica à política econômica. Um dos pontos altos desta semana
deveria ser a crítica ao leilão de Libra. O triunvirato tucano ali
reunido definiu a linha: bater no leilão, sem dó nem piedade, e criticar
seu resultado.
O problema é que, com base nas informações que tinha em mãos, a
conclusão foi a de que a crítica certeira seria ao chavismo do governo
do PT e do quanto isso estava se encaminhando para contaminar a economia
do país. Explique-se: até antes do leilão, a aposta que se fazia era a
de que Libra seria arrematada por consórcio formado exclusivamente pela
Petrobrás em aliança com os chineses. Ou seja, seria uma exploração 100%
estatal.
O carimbo da crítica ao chavismo havia sido recém ressuscitado por
Marina Silva e daria boas manchetes para a semana, além de fornecer uma
imagem que assusta o empresariado. É o discurso que desce redondo em
financiadores de campanha, que são também os grandes financiadores da
mídia.
Só tinha um problema: a estratégia brilhante estava baseada em um
palpite infeliz. O consórcio vencedor do leilão acabou sendo formado
pela Petrobrás (em 40%), duas estatais chinesas, a CNPC e a CNOOC (10%
cada), a anglo-holandesa Shell (20%) e a francesa Total (20%).
Aécio teve que engolir o discurso preparado, que deve agora estar no
lixo, a caminho de uma usina de material reciclável. Às pressas, uma
nova peça retórica teve que ser escrita para o dia seguinte. Daí saiu o
arremedo de nacionalismo para que se "reestatize a Petrobras".
A linha destoou da que o alto tucanato gostaria de atacar, enfatizando a
rejeição ao modelo de partilha e ao fato de o leilão ter tido apenas um
concorrente.
Pesou aí a relação estreitada recentemente entre Aécio e Paulo Pereira
da Silva, o Paulinho da Força Sindical, a quem o mineiro deve favores
pela criação do partido Solidariedade. Paulinho convenceu Aécio de que
era hora de se aproveitar do ruído sindical provocado entre os petistas e
dentro da CUT com o leilão. Esse Paulinho é o mesmo citado no livro de
Palmério Dória ("O Príncipe da Privataria") pedindo financiamento de
campanha a Benjamin Steinbruch em troca do "favor" que fez ao grupo que
arrematou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN):"eu lhe dei a CSN" -
teria dito ele a Steinbruch, conforme o relato de Dória.
Aécio prometeu que, em um governo do PSDB, a Petrobras seria regida pela
meritocracia, ou seja, por técnicos, e não por indicações políticas.
Não comentou nada sobre o que faria com a Agência Nacional de Petróleo
(ANP), que FHC fez questão de confiar a seu próprio genro, à época,
David Zylbersztajn, num claro exemplo de como funciona a meritocracia em
governos tucanos. Também não disse se a gestão do metrô de São Paulo é
um bom exemplo desse tipo de meritocracia.
O carimbo do chavismo fica para uma outra oportunidade; ou, quem sabe, para um discurso de Marina Silva.
No Carta Maior
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