sábado, 26 de julho de 2014

A direita teme o Estado

É a questão ideológica que ainda marca a iminente disputa eleitoral
Quem não se lembra da frase de George Soros, dita em 2002 e retransmitida pela mídia brasileira, “em cadeia nacional”, de que a vitória de Lula “seria o caos”?
Era a mão visível do mercado pregando o terrorismo.
Em 2014, a coisa não está tão longe disso. O ex-funcionário de Soros e ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, apontado como czar da economia se Aécio ganhar a eleição, chegou a afirmar que “a possibilidade” de Dilma vencer no primeiro turno “poderia ter o mesmo efeito que a vitória de Lula em 2002”.
Naquele ano, o dólar, premeditadamente, foi empurrado para a porta dos 4 reais e ameaçava a estabilidade econômica. Hoje, após transitar por gabinetes refinados no universo empresarial e político, eis o que pensa Fraga, interpretado por jornalistas sintonizados com os interesses conservadores, já prontos a descartar o desfecho da eleição no primeiro turno.
“A derrota do PT no segundo turno poderia fazer a Bolsa de Valores retomar o crescimento depois de ter caído quase 40% nos anos Dilma.”
Dilma significaria o caos, ou quase. Provaria isso o efeito do empate técnico, no segundo turno, projetado pelo resultado da pesquisa DataFolha mais recente. Conhecidos os porcentuais, o Ibovespa subiu “empurrado pelas ações das estatais”.
Aqui o argumento econômico não encobre mais o conteúdo político. Esse é o conflito do “lobo mau” (o Estado) com a “raposa” (o mercado), que, como se sabe, não pode ficar sozinha no galinheiro.
Não por acaso este início de disputa eleitoral mostra uma mudança no discurso da oposição. Inicialmente, Aécio cresceu quando passou a disparar contra o PT. Valeu-se da pauta de acusações que norteia os tucanos. Agora, para driblar o difícil conflito de programas administrativos, pelos quais Dilma leva vantagem, os tucanos se aproximam do terrorismo econômico para conter a influência do Estado.
O medo produz o pesadelo. Teme-se o avanço estatal se o governo continuar sob controle de Dilma. Isso expõe, com falsa razão, o contágio ideológico.
É verdade e não se trata de segredo que o Estado, no governo Dilma, tem função importante na condução das políticas de governo exatamente onde o mercado falha ou não investe por dúvidas sobre o retorno lucrativo.
Essa é a verdadeira moldura do debate da eleição de 2014.
Em dois meses, arredondando os dias, os brasileiros vão escolher quem os governará por mais quatro anos, a partir de 2015. E já não há dúvida, salvo uma mudança sobrenatural, que a disputa será mais uma vez entre petistas e tucanos. Eduardo Campos (PSB) está fora. Faz apenas o papel de coadjuvante.
O PSDB comandou o país por oito anos com Fernando Henrique Cardoso. O PT vai completar 12 anos de poder, contando os oito anos de Lula e os quatro de Dilma.
Essa é uma luta política encarniçada e vai muito além de rivalidades pessoais passadas, entre os dois ex-presidentes ou entre os atuais postulantes ao cargo. No caso de Dilma, o segundo mandato. A competição busca o poder. Expõe diferenças programáticas e consolida o embate, que não foi expulso da história, entre a direita e a esquerda.

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