Dilma falou, nesta segunda-feira, aos entrevistadores de um grupo de veículos da mídia conservadora |
'Relevado o fato de que a presidenta Dilma Rousseff fala aos arranquinhos, e não há fonoaudiólogo que dê jeito nisso, talvez por precisar encenar um papel diante das câmeras que quem a conhece não a poderia imaginar mais diferente do que é de fato, no cotidiano, sua entrevista nesta segunda-feira ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo foi ilustrativa para que o eleitor pudesse perscrutar a candidata do PT à reeleição, em uma de suas raras aparições. Além das minguadas conversas com jornalistas, para a chefa de Estado de um país do tamanho do Brasil, Dilma somente falou até hoje para os veículos da conhecida mídia conservadora, formada por veículos de comunicação ligados ao capital internacional, como a Folha e o portal UOL, do mesmo dono; o canal de TV SBT, do empresário Silvio Santos, integrante da ultradireita brasileira; e a rádio Jovem Pan, que segue no mesmo bojo. Isso sem considerar as demais, que se contam nos dedos, para a revista semanal de ultradireita Veja, da qual foi capa no início deste mandato; para as emissoras e demais empresas das Organizações Globo, que apoiou a ditadura militar e deve perto de R$ 1 bilhão em impostos ao fisco; e outros satélites menos cotados, mas igualmente letais para produzir um coro como aquele no Estádio do Itaquerão, durante a abertura da Copa do Mundo. Poupo os leitores do refrão.
Submete-se a mandatária até à grosseria de uma pergunta sobre os R$ 150 mil que guarda escondidos em um cofre, dentro de algum armário ou atrás de um quadro, sabe-se lá – e não é da conta de ninguém – o que faz como mania, coisa própria de quem é “de outra geração”, como admite, ou por viver em sobressaltos com uma possível quartelada, tipo relâmpago em céu aberto, coisa típica da cultura golpista que os patrões de seus entrevistadores cultivam, desde sempre. Parece até uma relação sadomasoquista na qual ela, a presidenta eleita pela maioria dos brasileiros, apanha de mão aberta, diariamente, nos meios de comunicação para os quais escolhe falar, em caráter exclusivo, e ainda lhes destina bilhões de reais do Erário em forma de publicidade, sem contar os mimos de “meus queridos” pra lá e sorrisos pra cá.
Inocente, parece que não enxerga a intenção dos interlocutores de interrompê-la, se a resposta é positiva para o perfil da estadista que é, na dissertação sobre o Programa Mais Médicos, por exemplo, ou até estourar o horário do programa, se for preciso, ao perceberem que patinou nos reais que guarda no colchão. As perguntas dos jornalistas, que deveriam ser destinadas a ajudar na elucidação dos problemas brasileiros, mais parecem ‘pegadinhas’ nas quais apostam se a ‘vítima’ conseguirá sair ilesa ou “cairá na esparrela”, como costuma dizer a economista Maria da Conceição Tavares sobre as tentativas do governo de atender aos ditames de seus algozes. Vide a recomendação do banco espanhol Santander aos clientes da Classe A, de trabalhar para a derrota da candidata petista sob pena de o Brasil falir, ou coisa parecida.
Entrevista como esta que Dilma concedeu à mídia capitalista, na tarde desta segunda-feira, equivale a contribuir para sua desmoralização muito mais do que para mostrar a pessoa que passou os melhores anos da juventude na luta por um ideal. Significa impedir que mostre ao país que governa o modelo de sociedade, mais justo e fraterno, pela qual empenhou-se a ponto de ser presa e torturada, sem que lhe mostrem um pingo de respeito por isso. Ao contrário, chegaram a sugerir que ela possa estar planejando uma fuga do país, na qual levaria os R$ 150 mil na mala, em cash.
Se Dilma pretendia gastar sal grosso no pequeno retalho podre da sociedade paulistana, que lhe vaia e xinga, a ponto de originar a reflexão de um dos inquisidores sobre o nível “radical” de enfrentamento nas ruas, entre ricos e pobres, então acertou em cheio. Embora tenha conseguido driblar a maioria das armadilhas à qual se submeteu, nessa inquisição, o esforço não parece que tenha valido a pena. A repercussão da entrevista de mais de uma hora, no elegante salão do Palácio do Planalto, aos borra-botas do capitalismo tupiniquim, será inversamente proporcional ao seu sucesso.
Mas ela insiste."
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