Por Altamiro Borges, em seu blog
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou na semana passada um estudo que mostra os estragos causados pela crise de abastecimento de água que atinge a população paulista. O levantamento foi feito entre os dias 12 e 26 de maio com 229 empresas de micro e pequeno porte (até 99 empregados), 140 de médio porte (de 100 a 499 empregados) e 44 de grande porte (500 ou mais empregados). Ele revela que já foram fechados mais de 3 mil postos de trabalho devido à falta de água. As demissões decorrem da redução do ritmo da produção e da queda da produtividade das indústrias. A tendência, segundo a Fiesp, é que o quadro se agrave ainda mais nos próximos meses.
Segundo Eduardo San Martin, diretor de meio ambiente da entidade patronal, a região de Campinas, com seus 5,5 milhões de habitantes, é uma das mais prejudicadas. As indústrias são abastecidas pela Bacia do PCJ – formada pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e que atende mais de 70 municípios nesta região do interior paulista. “A escassez de água está levando à redução da produtividade.
Não há números oficiais, as empresas são cautelosas na divulgação de informações, mas o problema já chegou até nós. Existem empresas que já eliminaram um turno de produção, há vários exemplos negativos para o desenvolvimento produtivo da região: 3 mil postos de trabalho deixaram de existir por causa desse problema”.
O estudo ainda apontou que, em cada três empresas, duas estão preocupadas com a possível interrupção no fornecimento de água na região. A possibilidade de racionamento ainda neste ano é um fator de preocupação para 67,6% das 413 indústrias entrevistadas pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp. “Já pensando nas consequências da interrupção no fornecimento, 64,9% das empresas avaliam que a medida teria impacto sobre seu faturamento: 17,9% avaliam que o impacto seria ‘forte’, enquanto para 47% ele seria ‘pequeno’. As empresas de grande porte foram as que mais indicaram impacto sobre o faturamento”, descreve o jornal Valor de quinta-feira (17).
O “volume morto” está morrendo
A Fiesp ainda não divulgou estudos sobre a região metropolitana de São Paulo, a mais afetada em função do colapso do Sistema Cantareira. Mas há relatos de que várias indústrias da capital e do entorno já sofrem com a crise de abastecimento. Na semana passada, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) divulgou relatório confirmando o vertiginoso aumento das reclamações dos consumidores residenciais. O Sistema Cantareira abastece 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Para evitar um racionamento oficial – já que na realidade ele já existe – o governo tucano decidiu utilizar a reserva estratégica do reservatório, o chamado “volume morto”, mas a medida paliativa também está se esgotando.
Na segunda-feira (14), a própria Sabesp confessou o crime. Quase dois meses após o início do bombeamento do “volume morto”, o nível de água atingiu 18,2% no Sistema Cantareira, segundo a empresa estatal. Em 16 de maio, quando as bombas começaram a sugar a reserva técnica, o nível saltou 8,2 pontos percentuais em um dia, para 26,7%, com acréscimo de 182,5 bilhões de litros de água. Agora, ele já esta novamente em perigo, com a queda dos últimos dias. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), porém, insiste em afirmar que não haverá racionamento e que as reservas são suficientes até início de 2015 – ele poderia admitir que elas são suficientes até pouco depois de outubro, numa prova do estelionato eleitoral!
São Pedro é inocente!
O governador tucano, candidato à reeleição, também insiste em culpar São Pedro pela crise da água em São Paulo – no que conta com a ajuda da mídia chapa-branca. As manchetes falam sempre em seca, sem responsabilizar o PSDB – que hegemoniza o Estado há quase duas décadas – pela falta de investimentos e planejamento no setor. Mas São Pedro é inocente! De 2004 a 2013, a Sabesp distribuiu R$ 4,8 bilhões de lucros aos seus acionistas no Brasil e no exterior. Neste mesmo período, porém, ela sequer cumpriu as diretrizes fixadas pela outorga do Sistema Cantareira de 2004, quando houve outra crise de abastecimento em São Paulo. Elas já previam ações e investimentos para atender às demandas da população.
Em 2004, Geraldo Alckmin já ocupava o Palácio dos Bandeirantes em seu primeiro mandato – os tucanos no poder são sempre os mesmos! Na época, ele também pediu para a população economizar água e rezou aos céus por mais chuvas. Diante da crise, o texto de renovação da outorga já indicava as medidas urgentes: 1) Redução da dependência do Sistema Cantareira, criando fontes alternativas; 2) Combate às brutais perdas de água da Sabesp; 3) Aumento da coleta e do tratamento do esgoto.
Nenhuma delas foi executada a contento. Para saciar o apetite dos acionistas, houve redução dos investimentos no setor e a Sabesp ainda demitiu trabalhadores e reduziu a manutenção do sistema.
Atualmente, dos 3 trilhões de litros de água captados nos reservatórios, a Sabesp perde 750 bilhões em vazamentos na coleta e distribuição. Ela também trata apenas 64% dos esgotos domésticos sob sua responsabilidade. E não dá para afirmar, como gostam os neoliberais tucanos, que estes crimes decorrem de problemas de caixa. A Sabesp fatura R$ 11 bilhões por ano com suas tarifas elevadas. A atual crise de abastecimento em São Paulo, como as anteriores, não pode ser debitada exclusivamente na conta de São Pedro. Ela decorre da falta de investimentos e de planejamento do PSDB, do famoso “choque de indigestão” dos tucanos, que privilegia dos acionistas em detrimento da população!
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