O escândalo do aecioporto foi o primeiro teste de vida real enfrentado pelo candidato do PSDB a presidente da República.
E ele foi reprovado.
Especular um pouquinho não mata ninguém, então vamos lá.
Um blogueiro amigo fez a pergunta: quem vazou a informação? Ora, agora
que temos mais dados, sabemos que não era exatamente uma informação
secreta. Há anos que Aécio usava o aeroporto de Claudio para descansar
na fazenda de sua família, a seis quilômetros dali. Todo mundo na
cidade via o aeroporto como uma propriedade privada da família Neves.
Ou seja, a informação pode ter vazado de mil maneiras. Por exemplo: o
repórter da Folha, querendo alguma matéria sobre o candidato do PSDB,
foi tomar uma cerveja num botequim em Belo Horizonte e o primeiro
pinguço que conheceu na madrugada lhe contou o “causo” do aeroporto.
Acho mais provável isso do que a teoria de que Serra está por trás, embora também não a possa descartar.
Então os editores da Folha decidiram: “vamos fazer um teste com nosso
candidato. Ele tem que mostrar couro duro se quiser ganhar eleição e
manter um mínimo de estabilidade no governo. Afinal, teremos que
publicar escândalos de vez em quando, e ele terá de aprender a lidar com
isso”.
Talvez eles não esperassem o impacto profundo do escândalo nas redes sociais. O editorial da Folha deste domingo deixa transparecer a perplexidade do jornal com a magnitude do impacto do aecioporto nas redes sociais.
E aí eu faço outra especulação.
A repercussão gigantesca do escândalo do aecioporto não tem como pano
de fundo nenhuma histeria moralista. Não acho sequer que se estourou
mais uma dessas bolhas de ódio, que frequentemente atinge o PT.
Tenho a impressão que a repercussão alastrou-se tanto porque o episódio revela a personalidade política de Aécio Neves.
Preenche uma lacuna que já começava a incomodar os brasileiros: quem é,
afinal, esse homem da oposição que apregoa ser o único capaz de
derrotar a situação?
Mais que uma denúncia, é um episódio revelador, ilustrativo, pedagógico.
Aécio Neves revelou-se, para um Brasil profundamente angustiado pelo
desejo de ter um governo mais moderno e mais ousado, um caso melancólico
e contraditório.
Um coronelzinho metido a playboy carioca.
Construiu aeroporto, com verba pública, na fazenda ao lado da sua. Na fazenda que pertencia ao tio.
Outro aeroporto construído por Aécio, em Montezuma, também fica ao lado
de uma grande propriedade que herdou do pai, o qual a obteve através
de uma bizarra operação de “grilagem” legal de terras públicas do
estado de Minas Gerais.
Á luz de tanto aero-patrimonialismo, redescobrimos que FHC também tinha
seu aeroportozinho particular, construído pela Camargo Correa num
terreno ao lado da fazenda do presidente, logo após sua vitória em 1994.
Enfim, o escândalo do aecioporto parece ter causado sérios danos nas turbinas eleitorais do candidato.
Aécio tenta fugir do assunto dizendo que “está tudo esclarecido” e atribuindo tudo a uma grande conspiração do PT.
De fato, as coisas agora ficaram bem esclarecidas.
A máscara de “moderno”, de “ético”, de Aécio Neves, caiu no chão e se quebrou.
Pior que isso: ele não consegue reagir, porque não sabe o que fazer. Durante anos, em Minas, nunca ninguém lhe contestou.
O Brasil está conhecendo Aécio Neves apenas agora.
Não dá para saber se o escândalo afetará as próximas pesquisas, mas é
fácil identificar o estrago profundo que ele já causou em sua
candidatura, visto que esta é ancorada nas classes médias e altas,
fortemente vulneráveis a essas ondas de escândalo das redes sociais.
Miguel do Rosário
No Tijolaço
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