247 – Dos
quadros mais graúdos à militância de base, o PT se agitou inteiro em
torno da tempestade perfeita a que vai sendo submetido o banco
Santander. A partir de uma orientação de investimentos dirigida, na
sexta-feira 25, a clientes de alta renda, associando uma piora nas
condições da economia ao crescimento da presidente Dilma Rousseff nas
pesquisas de opinião, a instituição espanhola não tem parado de sofrer.
Enquanto isso, o PT experimenta uma saudável movimentação, capaz de
tirar a ferrugem de suas engrenagens de características oposicionistas.
Numa expressão, o PT se revoltou contra a atitude do Santander. Um
movimento pelo fechamento de contas correntes na instituição vai
ganhando corpo entre os militantes do partido e seus simpatizantes. A
CUT, no mesmo dia em que manifestou apoio formal à reeleição de Dilma,
também destacou, pelo presidente nacional Vagner Freitas, sua
concordância com a crítica ao relatório de investimentos. Citando
nominalmente o banqueiro Botín, o ex-presidente também usou um palanque
montado pela central sindical para, com sua linguagem típica, dizer ao
"querido Botín" que o analista financeiro que, em seguida, teve sua
demissão anunciada pelo banco, "não entende porra nenhuma de Brasil e de
Dilma".
Na Prefeitura de Osasco, o titular Jorge Lapas teve uma reação rápida ao
que considerou ser uma "tomada de posição partidária" do banco
espanhol. Após receber seguidas reclamações de mau atendimento do
Santander no recebimento de contas do município, Lapas cancelou um
convênio mantido entre a Prefeitura e o banco.
Todas essas ações, mais uma intensa troca de informações nas redes
sociais, contribuíram para dar novo fôlego à militância num momento
decisivo da campanha eleitoral: o começo. Dirigentes do PT entendem que a
polêmica com o banco ajudou a despertar a velha garra e poder de
pressão da legenda, recolhida diante do crescimento dos ataques da
oposição ao governo. Para esses líderes petistas, o caso não poderia ter
acontecido em melhor hora, exatamente quando a luta começa a ficar mais
renhida e decisiva.
Quem se apressou em defender o relatório do Santander como um marco da
liberdade de expressão, a exemplo de colunistas do circuito Globo-Abril
Merval Pereira, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, se deu mal. Pela
fala de seu próprio presidente mundial, o Santander admitiu que não é
correto, do ponto de vista da orientação financeira, um analista cravar
com tanta ênfase, como aconteceu, que a reeleição da presidente
significaria, necessariamente, a entrada do Brasil numa crise econômica.
Este tipo de previsão de futuro pós-eleitoral é simplesmente um palpite
que não deveria ser repassado num canal de comunicação com a clientela.
"A pessoa responsável foi demitida porque fez a coisa errada", disse um
irritado Botín, no Rio de Janeiro.
PRIVATIZAÇÃO MAL DIGERIDA - Em
meio a todo o burburinho provocado pelo relatório, a presença de Botín
no Brasil apenas aumentou a dimensão de repercussão da gafe. Ele veio
para abrir o 3º Encontro Internacional de Reitores, sob patrocínio de
seu banco, mas precisou explicar muito mais a análise estabanada do que
falar sobre o evento. Além disso, Botín amargou a ausência, em protesto,
de Dilma e do vice-presidente Michel Temer para o ato.
O problema, para o Santander, é que a tempestade, porque é perfeita,
ainda não acabou. Na quinta-feira 31, os líderes do banco no Brasil
apresentarão ao mercado os resultados do primeiro semestre – e novamente
sobre eles recairão perguntas e mais perguntas sobre o episódio que
irritou Dilma. Além disso, internamente os executivos do banco já
começam a contabilizar os efeitos do movimento de militantes do PT pelo
fechamento de contas correntes.
Desde a privatização do Banespa, no ano 2000, durante o governo Fernando
Henrique, o partido não tem boas lembranças da instituição. O Santander
fez uma série de demissões entre os bancários e despertou, assim,
também a oposição dos sindicalistas ligados ao partidos. Eles estão
aproveitando o momento para causar o maior dano possível ao banco que
entrou para a categoria dos adversários do governo.
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