A lua parece ter perturbado a política brasileira Foto do Instagram do Palácio do Planalto |
Campanha eleitoral. A presidente Dilma Rousseff dá uma entrevista pouco
usual no Palácio do Planalto, em pleno domingo. Hora de ocupar espaços
na mídia. A Folha interpreta a declaração como resposta de
Dilma a Marina Silva, que a respeito da propaganda eleitoral da petista
afirmou que o Brasil não precisa de uma gerentona.
Curiosamente, Aécio Neves está ausente do debate. As três capas de
revistas semanais, nos mostra Alexandre Alencar no Facebook, trazem
Marina.
Em seu blog, Renato Rovai especula,
sobre pesquisas: “Dilma teria 36%, Marina, 28% e Aécio, 18%. Marina já
teria ultrapassado Dilma em São Paulo e no Rio, onde estaria em
situação de empate técnico. Além disso, venceria com folga no DF. Na
classe média, ela teria aberto uma frente bastante razoável dos dois
candidatos. Tanto no PSDB quanto no PT as avaliações são de que esse
crescimento de Marina ainda não é sustentável, mas já há desconfiança de
que ela dificilmente baixará de 25% dos votos válidos”.
Na mesma entrevista no Planalto, sem citar Marina, Dilma falou em
“experiência administrativa”. Em campanha eleitoral, nada acontece por
acaso. É provável que o PT já esteja ensaiando uma reação contra a
ascensão de Marina nas próximas pesquisas.
Existe potencial para um tsunami? A desconfiança é de uma colega
jornalista. Não entendo de pesquisas, mas depois de viajar intensamente
pelo interior de Minas Gerais, Ceará, São Paulo, Alagoas e Pernambuco,
reafirmo aqui o que escrevi faz algumas semanas: o antipetismo se
espraiou mesmo aos rincões de apoio mais tradicional ao partido.
Somou-se à antipolítica, dos que querem mudar “tudo o que está aí”. Sem
resposta convincente das instituições aos protestos de 2013, sobrou
para quem ocupava o Planalto e desaguou em quem encarna o “novo”.
Antipetismo + antipolítica + novo. A ironia é que a direita, através de
seu braço midiático, trabalhou diuturnamente durante mais de uma
década nesta fórmula. Estava certa de que em 2014 resultaria na ascensão
de um certo senador de Minas Gerais, que parece agora a caminho do
naufrágio.
Por sua vez, Marina Silva fez, na semana passada, uma mexida no
tabuleiro digna de Lula. Despachou Maria Alice Setubal, a Neca,
coordenadora de seu programa de governo, para uma entrevista ao UOL.
Fernando Rodrigues, o entrevistador, queria saber se Marina cumpriria os
compromissos assumidos anteriormente por Eduardo Campos, o candidato do
PSB.
Neca, obviamente, não vê qualquer conflito de interesses em sua
participação, como acionista de um dos maiores bancos do país, na
formulação do programa de um governo que lidará com interesses, vamos
dizer, “menores” do Itaú.
A frase-chave da entrevista é a que segue:
É o que o “mercado” esperava de Marina, a Carta aos Brasileiros dela, a tranquilização que os paulistas queriam ouvir antes de pensar em abandonar de vez o mineiro Aécio Neves.
Os afagos posteriores em José Serra, com o qual Marina disse que pode
governar — no caso dele se eleger senador — apontam na mesma direção.
Mesmo com Aécio derrotado, parece dizer Marina, os tucanos paulistas
terão um ninho bem ali, ao lado de Neca.
Para completar o quadro um tanto exótico desta campanha, a propaganda
eleitoral quase consegue ser apolítica. Parece até uma corrida
eleitoral entre três personagens de novela.
Do ponto-de-vista televisivo, como notou nossa comentarista MC em “O anjo, o estadista e a mãezona”, João Santana surrou a concorrência por 7 a 1.
No primeiro programa, justamente quando se falava em “crise”, uma
criança aparece beijando Dilma. Até parece tirado de um livro de Michael
Deaver, o guru do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, que não
se importava com as palavras ditas na TV. Deaver insistia: falam as
imagens. Comentava-se, à época, em Washington, que Deaver assistia as
reportagens sobre Reagan na TV, mesmo as que continham críticas, sem
som: só se importava com os cenários nos quais o ex-ator de Hollywood
era enquadrado.
Pois este é o estágio em que se encontra, hoje, a política brasileira.
Para completar o quadro, vamor ouvir Neca Setubal, formada em Ciências
Sociais pela USP e doutora em psicologia da Educação pela PUC, sobre a
visão “sonhática” da política no século 21:
Por um momento ela me fez esquecer que Margaret Thatcher governou, de maneira bem “feminina”, no século 20.
Em uma palavra: Socorro!
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