De volta ao passado: o objetivo então era levar ao segundo turno. Levaram |
por Luiz Carlos Azenha
O “novo escândalo” da Veja, sobre suposto vazamento de perguntas — que
de qualquer forma seriam públicas — aos que foram ouvidos na CPI da
Petrobras me parece uma manobra diversionista para mudar de assunto.
Tirar o noticiário de Cláudio e Montezuma e trazer Dilma Rousseff mais
uma vez para o domínio absoluto das manchetes.
Quando eu era repórter da TV Globo, em 2005, antecedendo minha primeira
cobertura de eleições presidenciais no Brasil — havia morado quase duas
décadas nos Estados Unidos –, uma investigação que fizemos sobre caixa 2
em Goiás acabou em uma das CPIs que trabalhavam simultaneamente em
Brasília.
Vi com meus próprios olhos uma importante jornalista da Globo, de alta
patente, que me ciceroneava em um ambiente desconhecido, visitando
gabinetes de deputados e senadores para troca de informações. No do
então deputado ACM Neto, que participaria do depoimento do homem
investigado por nós, houve até entrega de documentos e sugestão de
perguntas. Eu vi isso acontecer e, francamente, não me espantei.
Se o objetivo de uma CPI é esclarecer os fatos, não há perguntas, nem
assuntos secretos. Os depoentes devem trazer todos os esclarecimentos
que forem necessários à opinião pública. A existência de parlamentares
de diferentes correntes políticas é garantia de que teremos todo tipo de
pergunta, das “levantadas de bola” às “pegadinhas”, das críticas às
bajulatórias. Bancadas inteiras combinam estratégias. Não há motivo para
guardar nenhuma informação em sigilo, se se pretende de fato esclarecer
o assunto.
Qual é o problema de perguntas serem organizadas para facilitar os
esclarecimentos do depoente? Isso não significa que ele vá responder
apenas àquelas perguntas, já que a oposição estará presente. O problema
está nas mentiras do deponte, não nas perguntas feitas a ele. Não há
nada de errado quando um governo tenta vender à opinião pública sua
versão dos fatos, desde que a oposição possa, igualmente, fazê-lo. Vamos
combinar que não falta espaço na mídia à oposição brasileira, certo?
Portanto, trata-se de uma denúncia tola, transformada em manchete por uma gravação subterrânea, vendida como “comprometedora”.
O que me chamou a atenção naquela CPI de 2005, na verdade, foi que o
homem por nós investigado, dono de uma seguradora, quando abriu os
arquivos em seu depoimento deixou claro que havia feito doações por fora
a todos os partidos políticos, não só ao PT mas também ao PSDB, PMDB,
PFL e outros. Assim que isso ficou explícito e demonstrado, acabou nossa
investigação. Fui mandado de volta a São Paulo…
Naquele período eleitoral, também constatei por dentro a mecânica da
mídia: denúncia na capa da Vejaentre sexta e sábado, repercussão
acrítica no Jornal Nacional de sábado, bola rolando a partir de domingo
na Folha, Estadão e O Globo.
Não foi o que se chama de “nota pelada” do Jornal Nacional, algo
passageiro, sem imagens, na edição de ontem. Foram 4 minutos e 42
segundos falando sobre a denúncia de Veja, uma enormidade! Se fosse em
comerciais, teria um custo próximo dos R$ 4 milhões. Frequentemente,
quando eu era correspondente em Nova York, precisava explicar assuntos
complexos, como a crise que precedeu a invasão do Iraque, em 60
segundos.
O que a Globo fez ontem se chama no meio jornalístico de “dar pernas” a uma denúncia.
Eu mesmo, num plantão, fui convocado para fazer uma destas
“reportagens”, que envolvia um irmão do então presidente Lula.
Argumentei com meu chefe direto que seria impossível fazer uma apuração
independente do conteúdo da revista. Estávamos dando tudo aquilo como
límpido e verdadeiro. O certo seria fazer nossa própria apuração a
partir dos dados trazidos pela Veja. E se as informações não se
confirmassem? Resposta dele: é isso mesmo, é apenas para reproduzir
trechos da revista.
Foi nesse quadro que, mais tarde, houve um revolta interna na redação da
Globo de São Paulo, que envolveu um grande número de profissionais,
resultou na demissão de Rodrigo Vianna e, mais tarde, influenciou minha
decisão de pedir rescisão antecipada de meu contrato, que venceria quase
dois anos depois, para estudar internet nos Estados Unidos. Não me
arrependo e, a julgar pelo que aconteceu neste fim-de-semana, vejo que o
método da mídia corporativa não mudou. Saiu na capa de Veja, teve
grande repercussão no Jornal Nacional e…
A suspeita que eu tinha então agora está desfeita. Não duvido mais que
seja tudo combinado. Se não fosse, por que a denúncia da Folha sobre o
aeroporto de Cláudio não detonou imediatamente o mesmo rolo compressor
investigativo?
Talvez a existência dos blogs e das redes sociais tenha acabado com as
mentiras mais deslavadas. A manipulação da mídia corporativa agora é
exercida na escolha da pauta e nos recursos direcionados para apurar
este ou aquele assunto, de acordo com as conveniências políticas,
econômicas ou ideológicas. De volta a 2006!
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Postado há 17 minutes ago por Blog Justiceira de Esquerda
Do Blog Justiceira de Esquerda.
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