Ao terminar a campanha eleitoral, vários assessores de Dilma Rousseff
garantiram que ela havia aprendido bastante com a campanha. Entendeu
melhor a complexidade do país e, mais do que isso, o papel da
Presidência - de articuladora política, de regente da orquestra, e não
de gerente.
De fato, aprendeu bastante. Mas, em termos práticos, o que muda?
Dilma entendeu a importância de se escolher um Ministério de peso.
Depois, a importância de sair da gestão do dia a dia e atuar mais
politicamente - isto é, relacionando-se com os meios político, econômico
e social.
* * *
Esses assessores apenas não garantiam se a Presidente mudaria tanto seu
estilo, a ponto de abrir a discussão das políticas públicas à
sociedade civil e deixar de lado as decisões autocráticas.
Mas - lembravam - tendo uma equipe de peso dando forma, conteúdo e
cronograma às suas propostas, haveria sensível diminuição da ansiedade
de Dilma e, por conseqüência, do seu voluntarismo.
* * *
Os primeiros movimentos do segundo governo são encorajadores.
Foi precisa a forma como indicou os Ministros da Fazenda, Joaquim Levy,
e do Planejamento, Nelson Barbosa. Ambos assumem com o compromisso de
um ajuste fiscal gradativo. Ou seja, Dilma reconheceu a necessidade de
um ajuste mas, fiel ao que defendeu na campanha, fugiu das soluções
extremadas. Colocar um ortodoxo para gerenciar um ajuste fiscal
não-radical é a melhor combinação custo-benefício.
Os demais movimentos seguem uma lógica político-administrativa. Deverá
indicar a polêmica líder ruralista Katia Abreu para a Agricultura e
Armando Monteiro para o Desenvolvimento. E terá que dar a contrapartida
aos movimentos sociais.
Ontem, recebeu no Palácio frei Betto e Leonardo Boff, a quem garantiu
que trabalhará pessoalmente na recomposição de laços com os movimentos
sociais. Mais tarde, em uma solenidade com movimentos sociais, reforçou o
compromisso com a inclusão, a melhoria de renda e o não sacrifício
dos trabalhadores.
* * *
Indo nessa direção, o futuro Ministério refletirá a diversidade de
forças sociais e econômicas do país, trazendo uma enorme lufada de ar
fresco ao seu governo.
Resta saber como tratará as seguintes questões:
Os modelos de participação social.
Há uma enorme variedade de fóruns de participação que perderam
expressão nos últimos anos: o CDES (Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social), os fóruns de produtividade da ABDI (Agência
Brasileira para o Desenvolvimento Industrial), os conselhos e
conferências sociais.
Não se sabe como pretenderá agir já que, por incompatibilidade de
gênios, perdeu o melhor condutor dessas políticas, Gilberto Carvalho.
2. As políticas integradas de infraestrutura.
Os investimentos em infraestrutura tem potencial para relançar a
próxima etapa de crescimento do país. Mas demandam uma preparação
cuidadosa, para identificar os principais obstáculos, resolvê-los,
montar estratégias para atração de capital privado nacional e
internacional, para fortalecer as médias empreiteiras e até para montar
um +Engenheiros, aproveitando a enorme capacidade ociosa na Europa.
Esse trabalho estava sendo conduzido por Bernardo Figueiredo, na EPL
(Empresa de Planejamento e Logística). Saiu por incompatibilidade de
gênios. É importante dar continuidade.
3. As estrategias jurídicas-políticas
É evidente a fragilidade institucional no governo junto ao Judiciário,
Polícia Federal e Ministério. Em um ambiente de turbulência
institucional, Ministro da Justiça é figura mais relevante que o próprio
Ministro da Fazenda.
A Presidente terá dois desafios: nomear um Ministro da Justiça com
peso, como foi Márcio Thomas Bastos, capaz de recuperar o
profissionalismo da Polícia Federal, dialogar com os tribunais. E,
também, indicar Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) com luz
própria e suficiente respeitabilidade e caráter para resistir às
pressões dos grupos de mídia.
Luiz Nassif
No GGN
Também do Blog CONTEXTO LIVRE.
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