Conversa Afiada
Não se faz omelete com a Globo – PHA
Saiu no Blog do Miro:
Por Rosane Bertotti, no site do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC):
A militância venceu. A verdade venceu. A força popular foi maior. Mas
até quando os setores progressistas resistirão à correlação desigual de
forças? A Comunicação precisa passar por duas iniciativas principais se
os setores progressistas quiserem continuar avançando em termos
políticos e democráticos.
A atuação das mídias nas eleições 2014 mostrou claramente o papel
central da Comunicação no processo democrático de um país. Ela consegue,
entre outras coisas, fortalecer um poder estabelecido, construir
simbologias e estabelecer significados compartilhados na sociedade. Ela,
na clássica concepção funcionalista, de cima para baixo, ou na nova
concepção de redes – horizontal – pode pautar e discutir assuntos na
sociedade. Ou, ainda, contrapor.
Nesta eleição, a batalha entre informação e desinformação dominou o terreno da política.
De um lado da disputa, veículos alinhados historicamente às elites e ao
capital financeiro se portaram como porta-vozes daqueles que tinham no
candidato neoliberal a sua esperança de livre mercado. No afã de
colocá-lo na presidência, romperam com a ética jornalística, com o
compromisso público com a sociedade e se prestaram a uma tentativa vil
de atacar a presidenta. Onde deveria imperar a disputa de projeto, a
oposição se empenhou na criação de factóides, no desrespeito pessoal e
em promover situações de incitação ao preconceito e ao ódio – que tem
consequências muito mais profundas no tecido social do que em uma
simples corrida eleitoral.
O estudo apelidado de “Manchetômetro” – realizado pelo Instituto de
Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ) -, que compara as manchetes favoráveis e contrárias a
cada candidato publicadas durante as eleições presidenciais, mostra em
gráficos as diferenças de tratamento dadas pela imprensa.
Na semana de 7 a 13/9, Aécio Neves não teve nenhuma manchete negativa,
enquanto Dilma teve 15. De 14 a 20/9, Dilma teve 11 manchetes negativas e
Aécio, uma – mesma quantidade da última semana da corrida presidencial.
Isto, se tratando de jornais diários de grande circulação.
O ápice do ataque perpetrado pela mídia foi a atuação da já
desacreditada Revista Veja, que antecipou sua edição às vésperas da
eleição para publicar uma matéria sem provas ou fundamentos, acusando a
presidenta de envolvimento com corrupção. Nem mesmo a matéria confirma a
afirmação e a credibilidade da revista é tão baixa que não houve
repercussão em outros órgãos da grande mídia.
De outro lado da disputa, os movimentos sociais, sindicais e a população
não condescendente com a atuação da mídia na corrida eleitoral se
contrapuseram fortemente às informações passadas pela grande imprensa,
que, acostumada a se comportar como um quarto poder, ainda acredita ser a
única voz ecoando na sociedade. Com a força da internet, das redes
sociais e da mídia independente, os setores de esquerda argumentaram
organizadamente para desconstruir as sequenciais mentiras plantadas
contra a candidata.
A militância venceu. A verdade venceu. A força popular foi maior. Mas
até quando os setores progressistas resistirão à correlação desigual de
forças? A Comunicação precisa passar por duas iniciativas principais se
os setores progressistas quiserem continuar avançando em termos
políticos e democráticos.
A primeira é a regulação da mídia. A segunda, a expansão da Internet. Ambas contam com propostas da presidenta eleita.
Durante a campanha, a presidenta Dilma se referiu à regulação econômica
da mídia como uma das principais bandeiras de seu novo governo. Como um
setor dos mais importantes – seja do ponto de vista econômico, cultural
ou político -, o setor de radiodifusão necessita de medidas que garantam
o foco de suas ações voltado para o interesse público, acima do
interesse dos acionistas da empresa. Apesar de pequena, é uma
sinalização de que algo, finalmente, será feito.
A Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) já sinalizava, em 2009,
a organização da sociedade em torno desta luta. O Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação (FNDC) tem histórico na luta pelo
equilíbrio da mídia e acreditamos que há mais a ser feito do que a
simples regulação econômica. É preciso regulamentar os artigos 5, 21,
220, 221, 222 e 223 da Constituição Federal; garantir pluralidade
regional na produção de mídia; combater o monopólio midiático; eliminar a
propriedade cruzada dos meios de Comunicação; basear as concessões de
TV no interesse público, sempre lembrando que as empresas de
radiodifusão ocupam, sim, espectros públicos.
O Projeto de Lei de Mídia Democrática, o FNDC e a Campanha Para
Expressar a Liberdade são símbolos desta batalha pela Comunicação de
qualidade, e há anos lutam pelo prevalecimento do interesse público.
Há, ainda, a luta pela expansão da Rede Banda Larga, que busca garantir a
universalização do acesso e o espaço plural e democrático para a
produção de conteúdo.
Respaldada pela aprovação do Marco Civil da Internet e o conceito de
neutralidade da rede, a Internet vem se consolidando como um meio
democrático de consultas populares, organização militante e, porque não,
de aprofundamento democrático. Apesar da batalha pelo Marco ainda não
estar ganha – o FNDC luta pela regulamentação da Lei e, ao ser
regulamentada, lutará pela sua efetiva implementação – ela pode ser
fortalecida e acompanhada pela atuação na rede.
Para garantir a atuação na rede, um passo fundamental é garantir que cidadãos de todo o Brasil tenham acesso a ela.
Durante o evento Diálogos Conectados, realizado em parceria com
movimentos sociais da Comunicação, a presidenta Dilma propôs a
possibilidade de extensão da infraestrutura de Internet Banda Larga a
80% do território brasileiro, no período de 4 anos. Ao justificar a
ausência dos outros 20%, a presidenta salientou a necessidade de
construção de satélites e outras infraestruturas que, pela complexidade,
custo e tempo, não ficariam prontas no período de um mandato. Mas
garantiu o cumprimento da expansão da Banda Larga.
Com essas duas medidas iniciais – regulação da mídia e expansão da Rede
banda Larga – os movimentos conseguem, minimamente, disputar com mais
equidade a correlação de forças na sociedade. É apenas o primeiro passo
para a conquista de muitos outros avanços, mas é chegada a hora. O
processo de discussão pela democratização é mais urgente do que nunca.
A militância tem função fundamental neste processo. Ela tem o poder de
pressionar o governo, o Estado e as instituições, além de esclarecer a
população sobre o que significa a disputa em curso. Precisamos articular
a sociedade para que a luta árdua pela Democratização das Comunicações
seja popularizada, para que a desinformação em torno do tema seja
esclarecida e para que, cada vez mais, haja união na luta.
Quem organiza e luta, vence. A sociedade, organizada, vencerá.
* Rosane Bertotti é secretária de comunicação da CUT e coordenadora do FNDC.
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Postado há 12 hours ago por Blog Justiceira de Esquerda
Do Blog Justiceira de Esquerda.
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