terça-feira, 11 de novembro de 2014

A lição de bons modos que Alckmin deu a Míriam Leitão


O déficit civilizatório de Míriam Leitão
Meu pai, Emir Macedo Nogueira, estudou latim.


Era um conhecedor profundo do português. Durante anos, ele manteve na Folha de S. Paulo uma coluna chamada A Língua Nossa de Cada Dia, em que abordava o português do cotidiano das pessoas.


Papai costumava dizer que a língua portuguesa é, acima de tudo, generosa. Há poucos pontos em que ela é irredutível, e não dá alternativas a quem a usa.


Lembro que certa vez, muitos anos atrás, meu pai falou sobre o uso de presidente ou presidenta para a líder argentina Isabelita Perón.


As duas formas, explicou meu pai, são aceitáveis e defensáveis, e ali estava um pequeno exemplo da generosidade do português.


Fiz este introito porque soube, por meu irmão, que Míriam Leitão, numa entrevista, encrencou com Alckmin porque ele se referiu a Dilma como “presidenta”.




Míriam Leitão, que até então cumulava Alckmin de sorrisos e engoliu passivamente todos os números que ele lhe enfiou para tentar explicar a seca de São Paulo, ficou brava com o “presidenta”.


Segundo ela, quem chama Dilma de presidenta é petista. Me pareceu que ela fez uma careta ao falar “petista”, mas pode ter sido impressão apenas.


Alckmin, com sua mediocridade simpática e sorridente, se saiu muito bem. Disse que chama as pessoas como elas gostam de ser chamadas.


Se a série confusa de estatísticas que ele apresentou para Míriam Leitão não resolve a falta de água dos paulistas, sua atitude civilizada ao explicar por que “presidenta” merece aplausos.


Míriam Leitão, em compensação, faz jus a vaias de pé.


Se a língua portuguesa é generosa, como falava um dos jornalistas que a conheciam com mais profundidade, Míriam Leitão mostrou pequenez e mesquinharia.


Os jornalistas que decidiram chamar Dilma de “presidente” têm, vamos ser francos, razões muito mais ideológicas do que vernaculares.


Eles são mais versados no “odiojornalismo”, para usar a expressão da pesquisadora Ivana Bentes, do que no português.


Não estão protegendo a língua com o “presidente Dilma”. Estão atacando Dilma, gratuita e maldosamente.


Imagine, apenas a título de exercício, que a mulher de Roberto Irineu Marinho assume a presidência da Globo.


Pense agora que ela gostaria de ser tratada como “presidenta”.


Como Míriam Leitão se dirigiria a ela?


Fiquemos em Roberto Irineu. Digamos que ele queira que o tratem não como presidente da Globo, mas como CEO. E então, como os bravos jornalistas da Globo se refeririam ao chefe? Numa confusa justificativa, Míriam Leitão disse que “presidente Dilma” é “mais normal” que “presidenta Dilma”.


E “CEO Roberto Irineu Marinho”, caso ele decidisse adotar esse título: é “menos normal”? Míriam Leitão, em nome dessa abstrusa normalidade, insistiria em dizer “presidente Roberto Irineu”?


Alckmin deu uma lição de boas maneiras não apenas a Míriam Leitão, mas a todos os jornalistas que só chamam Dilma de “presidente” para importuná-la.


Faltam bons modos a eles — e também conhecimento de português para sustentar seu déficit civilizatório.

Paulo Nogueira
No DCM


Um comentário:

S Rod disse...

Eu acho que o Alckmin foi civilizado, mas melhor nao da muita bola pra tucanos, deixa ele governar que eles privatizam tudo, com civilidade ou sem civilidade. Sabemos que a Sabesp e' privada e que em New York, a equivalente e' publica. Deixem o Brasil nas maos dos tucanos e vamos atrasar 20 anos em 4.