E ainda esses filhos da puta têm o desplante de falar no SUS.Veja bem: quase R$ 7 bilhões de reais foram torrados por esses bandidos.Se isso ocorresse em outro país essa gangue já estaria presa.
Carta Capital 26/02/2010
Remédios por juros
por Leandro Fortes
Auditoria aponta que governos de SP, DF, MG e RS usaram recursos do SUS para fazer ajuste fiscal
Sem alarde e com um grupo
reduzido de técnicos, coube a um pequeno e organizado órgão de terceiro
escalão do Ministério da Saúde, o Departamento Nacional de Auditorias do
Sistema Único de Saúde (Denasus), descobrir um recorrente crime
cometido contra a saúde pública no Brasil. Em três dos mais
desenvolvidos e ricos estados do País, São Paulo, Minas Gerais e Rio
Grande do Sul, todos governados pelo PSDB, e no Distrito Federal,
durante a gestão do DEM, os recursos do SUS têm sido aplicados, ao longo
dos últimos quatro anos, no mercado financeiro.
A manobra serviu aparentemente
para incrementar programas estaduais- de choques de gestão, como manda a
cartilha liberal, e políticas de déficit zero, em detrimento do
atendimento a uma população estimada em 74,8 milhões de habitantes. O
Denasus listou ainda uma série de exemplos de desrespeito à Constituição
Federal, a normas do Ministério da Saúde e de utilização ilegal de
verbas do SUS em outras áreas de governo. Ao todo, o prejuízo gerado aos
sistemas de saúde desses estados passa de 6,5 bilhões de reais, sem
falar nas consequências para seus usuários, justamente os brasileiros
mais pobres.
As auditorias, realizadas nos 26
estados e no DF, foram iniciadas no fim de março de 2009 e entregues ao
ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em 10 de janeiro deste ano. Ao
todo, cinco equipes do Denasus percorreram o País para cruzar dados
contábeis e fiscais com indicadores de saúde. A intenção era saber
quanto cada estado recebeu do SUS e, principalmente, o que fez com os
recursos federais. Na maioria das unidades visitadas, foi constatado o
não cumprimento da Emenda Constitucional nº 29, de 2000, que obriga a
aplicação em saúde de 12% da receita líquida de todos os impostos
estaduais. Essa legislação ainda precisa ser regulamentada.
Ao analisar as contas, os
técnicos ficaram surpresos com o volume de recursos federais do SUS
aplicados no mercado financeiro, de forma cumulativa, ou seja, em longos
períodos. Legalmente, o gestor dos recursos é, inclusive, estimulado a
fazer esse tipo de aplicação, desde que antes dos prazos de utilização
da verba, coisa de, no máximo, 90 dias. Em Alagoas, governado pelo
também tucano Teotônio Vilela Filho, o Denasus constatou operações
semelhantes, mas sem nenhum prejuízo aos usuários do SUS. Nos casos mais
graves, foram detectadas, porém, transferências antigas de recursos
manipulados, irregularmente, em contas únicas ligadas a secretarias da
Fazenda. Pela legislação em vigor, cada área do SUS deve ter uma conta
específica, fiscalizada pelos Conselhos Estaduais de Saúde, sob gestão
da Secretaria da Saúde do estado.
O primeiro caso a ser descoberto
foi o do Distrito Federal, em março de 2009, graças a uma análise
preliminar nas contas do setor de farmácia básica, foco original das
auditorias. No DF, havia acúmulo de recursos repassados pelo Ministério
da Saúde desde 2006, ainda nas gestões dos governadores Joaquim Roriz,
então do PMDB, e Maria de Lourdes Abadia, do PSDB. No governo do DEM, em
vez de investir o dinheiro do SUS no sistema de atendimento, o
ex-secretário da Saúde local Augusto Carvalho aplicou tudo em
Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Em março do ano passado,
essa aplicação somava 238,4 milhões de reais. Parte desse dinheiro,
segundo investiga o Ministério Público Federal, pode ter sido usada no
megaesquema de corrupção que resultou no afastamento e na prisão do
governador José Roberto Arruda.
Essa constatação deixou em
alerta o Ministério da Saúde. As demais equipes do Denasus, até então
orientadas a analisar somente as contas dos anos 2006 e 2007, passaram a
vasculhar os repasses federais do SUS feitos até 2009. Nem sempre com
sucesso. De acordo com os relatórios, em alguns estados como São Paulo e
Minas os dados de aplicação de recursos do SUS entre 2008 e 2009 não
foram disponibilizados aos auditores, embora se tenha constatado o uso
do expediente nos dois primeiros anos auditados (2006-2007). Na
auditoria feita nas contas mineiras, o Denasus detectou, em valores de
dezembro de 2007, mais de 130 milhões de reais do SUS em aplicações
financeiras.
O Rio Grande do Sul foi o último
estado a ser auditado, após um adiamento de dois meses solicitado pelo
secretário da Saúde da governadora tucana Yeda Crusius, Osmar Terra, do
PMDB, mesmo partido do ministro Temporão. Terra alegou dificuldades para
enviar os dados porque o estado enfrentava a epidemia de gripe suína.
Em agosto, quando a equipe do Denasus finalmente desembarcou em Porto
Alegre, o secretário negou-se, de acordo com os auditores, a fornecer as
informações. Não permitiu sequer o protocolo na Secretaria da Saúde do
ofício de apresentação da equipe. A direção do órgão precisou recorrer
ao Ministério Público Federal para descobrir que o governo estadual
havia retido 164,7 milhões de recursos do SUS em aplicações financeiras
até junho de 2009.
O dinheiro, represado nas contas
do governo estadual, serviu para incrementar o programa de déficit zero
da governadora, praticamente único argumento usado por ela para se
contrapor à série de escândalos de corrupção que tem enfrentado nos
últimos dois anos. No início de fevereiro, o Conselho Estadual de Saúde
gaúcho decidiu acionar o Ministério Público Federal, o Tribunal de
Contas do Estado e a Assembleia Legislativa para apurar o destino tomado
pelo dinheiro do SUS desde 2006.
Ainda segundo o relatório, em
2007 o governo do Rio Grande do Sul, estado afetado atualmente por um
surto de dengue, destinou apenas 0,29% dos recursos para a vigilância
sanitária. Na outra ponta, incrivelmente, a vigilância epidemiológica
recebeu, ao longo do mesmo ano, exatos 400 reais do Tesouro estadual. No
caso da assistência farmacêutica, a situação ainda é pior: o setor não
recebeu um único centavo entre 2006 e 2007, conforme apuraram os
auditores do Denasus.
Com exceção do DF, onde a
maioria das aplicações com dinheiro do SUS foi feita com recursos de
assistência farmacêutica, a maior parte dos recursos retidos em São
Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul diz respeito às áreas de
vigilância epidemiológica e sanitária, aí incluído o programa de combate
à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Mas também
há dinheiro do SUS no mercado financeiro desses três estados que deveria
ter sido utilizado em programas de gestão de saúde e capacitação de
profissionais do setor.
Informado sobre o teor das
auditorias do Denasus, em 15 de fevereiro, o presidente do Conselho
Nacional de Saúde, Francisco Batista Júnior, colocou o assunto em pauta,
em Brasília, na terça-feira 23. Antes, pediu à Secretaria de Gestão
Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, à qual o Denasus é
subordinado, para repassar o teor das auditorias, em arquivo eletrônico,
para todos os 48 conselheiros nacionais. Júnior quer que o Ministério
da Saúde puna os gestores que investiram dinheiro do SUS no mercado
financeiro de forma irregular. “Tem muita coisa errada mesmo.”
No caso de São Paulo, a
descoberta dos auditores desmonta um discurso muito caro ao governador
José Serra, virtual candidato do PSDB à Presidência da República, que
costuma vender a imagem de ter sido o mais pródigo dos ministros da
Saúde do País, cargo ocupa-do por ele entre 1998 e 2000, durante o
governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo dados da auditoria do
Denasus, dos 77,8 milhões de reais do SUS aplicados no mercado
financeiro paulista, 39,1 milhões deveriam ter sido destinados a
programas de assistência farmacêutica, 12,2 milhões a programas de
gestão, 15,7 milhões à vigilância epidemiológica e 7,7 milhões ao
combate a DST/Aids, entre outros programas.
Ainda em São Paulo, o Denasus
constatou que os recursos federais do SUS, tanto os repassados pelo
governo federal como os que tratam da Emenda nº 29, são movimentados na
Conta Única do Estado, controlada pela Secretaria da Fazenda. Os valores
são transferidos imediatamente para a conta, depois de depositados pelo
ministério e pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS), por meio de
Transferência Eletrônica de Dados (TED). “O problema da saúde pública (em São Paulo) não é falta de recursos financeiros, e, sim, de bons gerentes”, registraram os auditores.
Pelos cálculos do Ministério da
Saúde, o governo paulista deixou de aplicar na saúde, apenas nos dois
exercícios analisados, um total de 2,1 bilhões de reais. Destes, 1
bilhão, em 2006, e 1,1 bilhão, em 2007. Apesar de tudo, Alckmin e Serra
tiveram as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado. O mesmo
fenômeno repetiu-se nas demais unidades onde se constatou o uso de
dinheiro do SUS no mercado financeiro. No mesmo período, Minas Gerais
deixou de aplicar 2,2 bilhões de reais, segundo o Denasus. No Rio Grande
do Sul, o prejuízo foi estimado em 2 bilhões de reais.
CartaCapital solicitou
esclarecimentos às secretarias da Saúde do Distrito Federal, de São
Paulo, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Em Brasília, em meio a
uma epidemia de dengue com mais de 1,5 mil casos confirmados no fim de
fevereiro, o secretário da Saúde do DF, Joaquim Carlos Barros Neto,
decidiu botar a mão no caixa. Oriundo dos quadros técnicos da
secretaria, ele foi indicado em dezembro de 2009, ainda por Arruda, para
assumir um cargo que ninguém mais queria na capital federal. Há 15
dias, criou uma comissão técnica para, segundo ele, garantir a
destinação correta do dinheiro do SUS para as áreas originalmente
definidas. “Vamos gastar esse dinheiro todo e da forma correta”, afirma
Barros Neto. “Não sei por que esses recursos foram colocados no mercado
financeiro.”
O secretário da Saúde do Rio
Grande do Sul, Osmar Terra, afirma jamais ter negado atendimento ou
acesso à documentação solicitada pelo Denasus. Segundo Terra, foram os
técnicos do Ministério da Saúde que se recusaram a esperar o fim do
combate à gripe suí-na no estado e se apressaram na auditoria. Mesmo
assim, garante, a equipe de auditores foi recebida na Secretaria
Estadual da Saúde. De acordo com ele, o valor aplicado no mercado
financeiro encontrado pelos auditores, em 2009, é um “retrato do
momento” e nada tem a ver com o fluxo de caixa da secretaria. Terra
acusa o diretor do Denasus, Luís Bolzan, de ser militante político do PT
e, por isso, usar as auditorias para fazer oposição ao governo. “Neste
ano de eleição, vai ser daí para baixo”, avalia.
Em nota enviada à redação, a
Secretaria da Saúde de Minas Gerais afirma estar regularmente em dia com
os instrumentos de planejamento do SUS. De acordo com o texto, todos os
recursos investidos no setor são acompanhados e fiscalizados por
controle social. A aplicação de recursos do SUS no mercado financeiro,
diz a nota, é um expediente “de ordem legal e do necessário bom
gerenciamento do recurso público”. Lembra que os recursos de portarias e
convênios federais têm a obrigatoriedade legal da aplicação no mercado
financeiro dos recursos momentaneamente disponíveis.
Também por meio de uma nota, a
Secretaria da Saúde de São Paulo refuta todas as afirmações constantes
do relatório do Denasus. Segundo o texto, ao contrário do que dizem os
auditores, o Conselho Estadual da Saúde fiscaliza e acompanha a execução
orçamentária e financeira da saúde no estado por meio da Comissão de
Orçamento e Finanças. Também afirma ser a secretaria a gestora dos
recursos da Saúde. Quanto ao investimento dos recursos financeiros, a
secretaria alega cumprir a lei, além das recomendações do Tribunal de
Contas do Estado. “As aplicações são referentes a recursos não
utilizados de imediato e que ficariam parados em conta corrente
bancária.” A secretaria também garante ter dado acesso ao Denasus a
todos os documentos disponíveis no momento da auditoria.
Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Também mantém um blog chamado Brasília, eu vi
Um comentário:
Epa! repasse de verba remete a prestação de contas, documentos comprobatórios de gastos. Como pode o gov. federal repassar verbas para a saude dos estados, onde governadores não precisam comprovar gastos?
Parece que o esquema esteja favorecendo falcatruas de ambos lados. Se houvesse cobrança desta aplicação ficaria transparente a verificação da má gestão estadual e certamente a culpabilidade dos governadores.
Falo isso com propiedade por ser gestora da educação, e as verbas recebidas pelo FDE me obrigam a demonstra-la detalhadamente sob pena de suspensão.
É mais que urgente que o gov. federal publique com estardalhaço na midia o montante repassado à saude a cada estado.
O montante destinado à publicidade governamental deve contemplar estes esclarecimentos e que tal o "pig" ser "obrigado" a publicar?!
Postar um comentário