O
título é apenas uma versão mais radical do comportamento da imprensa
brasileira, até agora, em relação ao vazamento de petróleo junto à
plataforma de perfuração da Chevron-Texaco no Campo de frade, ao largo
de campos, no Rio de Janeiro. Mesmo com a determinação da presidenta
Dilma Rousseff para que fosse investigado, na sexta-feira, o assunto,
quando não é ignorado pela mídia, é abordado em matérias que se parecem
press-releases de um empresa que, além de demorar mais de 24 horas para
tornar público o problema, chegou a dizer que o fenômeno era “natural” e que, até agora, não deu infomações básicas sobre as circunstâncias do acidente.
Não deu, reconheça-se, porque aparentemente nenhum jornal o pediu.
Ao contrário, reproduzem assim os releases da companhia:
“Chevron mobiliza equipe global para conter vazamento”.Este é o título da matéria do Estadão, reproduzida pela Exame (Abril), enquanto o G1, do grupo Globo, destaca: Frota de 17 navios tenta controlar mancha após vazamento no RJ.
Para colaborar, este Tijolaço ajuda com uma lista de perguntas à empresa, que não foram feitas desde quarta feira passada.
1- A que profundidade (na lâmina d´água e no solo marinho)estava sendo feita a perfuração próxima ao vazamento?
2-Esta perfuração já tinha registrado depósitos de óleo? A que
profundidade?Em caso positivo, houve injeção de fluidos pressurizados
para testes de vazão?
3- Até que profundidade o poço seria perfurado?
4- A perfuração era revestida e cimentada, como prevê o estudo de impacto ambiental apresentado pela companhia em seu plano de exploração?
5- O mesmo estudo, elaborado pela consultoria Ecologus, refere-se
à presença de muitas falhas geológicas no campo de Frade, inclusive ao
fato de três poços perfurados pela Chevron-Texaco terem sofrido desvios
por conta de existência de fraturas no subsolo. Havia falhas geológicas
detectadas junto a este poço nos estudos sísmicos efetuados?
4- Considerando que a empresa prevê a a perfuração em
“batelada”, onde os poços são perfurados até um determinado ponto,
tampados e abandonados para perfuração de outro, próximo, para que todos
estejam em etapas semelhantes e os custos sejam reduzidos, havia outras
perfurações próxima, revestidas e tampadas, como prevê o estudo
apresentado pela empresa ao Ibama?
5- Em que condições a plataforma Sedco 706, construída em 1976 e que já foi chamada pelo Wall Street Journal
de obsoleta e aproveitável apenas como “motel marinho” foi
reaproveitada no campo de Frade? Qual a razão de seu aluguel ser de US$
315 mil dólares dia, cerca de 50% menor que o cobrado pelo aluguel de
sondas ultraprofundas no mercado internacional? Porque a contratação de
uma sonda capaz de perfurar até 7.600 metros, quando as ocorrências de
óleo no Campo estão todas à metade desta profundidade?
6- Porque a empresa, que afirma ter detectado no fundo oceânico a
“exsudação” de petróleo não libera as imagens do vazamento ou da mancha
por ele provocada? Como foi estimada a quantidade de petróleo vazada?
7- A frota alegadamente enviada para deter o vazamento é composta
de que embarcações? Qual a sua finalidade, apenas espalhar bóias de
retenção? Aspergir diluidores sobre a mancha? Alguma delas tem
equipamento para selar a fenda de onde brotaria o óleo? Em caso
negativo, como a empresa espera que o vazamento cesse? Se ele pode parar
naturalmente, isso tem relação com a paralisação dos trabalhos de
perfuração?
Certamente estas e outras perguntas não foram feitas à Chevron por
incompetência dos jornalistas, que as teriam feito – e muitas outras –
se o poço fosse da Petrobras.
Mas, como é da Chevron, só falta nossos jornais, além de louvarem o
esforço da empresa em parar um “desastre natural”. como chegou a dizer a
empresa, agradecerem pelo acidente que mostra como a petroleira
americana ainda nos faz o favor de tampar, embora não possamos
apressá-la, não é?
Do Blog TIJOLAÇO.COM
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