Gelson Domingos |
Gelson
Domingos usava um colete à prova de balas, mas o projétil ultrapassou a
proteção. Para a presidenta do sindicato, Suzana Blass, a morte do
cinegrafista foi uma tragédia anunciada, porque os coletes fornecidos
pelas empresas de comunicação não resistem a tiros de fuzil. Ela disse
que o sindicato pode recorrer à Justiça para obrigar a Bandeirantes a
amparar a família de Domingos.
“Isso
[o colete] é uma maquiagem. Os coletes não oferecem segurança para o
profissional porque não protegem contra os tiros de fuzil, a arma mais
usada pelos bandidos e também pela polícia no Rio. E as emissoras só dão
o colete porque a convenção coletiva de trabalho estabeleceu que o
equipamento é obrigatório em coberturas de risco."
Suzana
Blass disse que o sindicato propôs às empresas de comunicação a criação
de uma comissão de segurança para acompanhar a cobertura jornalística
em situações de risco, mas que a proposta não foi aceita. “Sabemos que
as condições oferecidas são precárias, mas as empresas alegam que a
comissão seria uma ingerência no trabalho delas e que iriam sugerir um
outro formato, mas até agora nada ofereceram."
“Também
já pedimos que as empresas de comunicação façam um seguro diferenciado
para as coberturas de risco, mas elas responderam que já protegem seus
funcionários e classificaram a proposta do sindicato como uma
interferência em seu trabalho”, acrescentou Blass.
Outro
problema, segundo ela, é que muitas empresas contratam operadores de
câmera externa para exercer a função de repórter cinematográfico, porque
os salários são menores, o que acarreta em prejuízos no resultado do
trabalho.
Para Suzana Blass, além
da falta de condições de trabalho, o profissional de comunicação
convive diariamente com uma questão cultural, pois está sempre em busca
da melhor imagem. “Com isso, ele acaba aceitando o trabalho sem pensar
no risco que vai correr, sem pensar na necessidade de se prevenir contra
os acidentes e também para não ficar com fama de "marrento" caso se
recuse a cumprir a pauta."
Gelson
Domingos, 46 anos, também trabalhava na TV Brasil e deixa mulher e três
filhos. Ele e o repórter Paulo Garritano ganharam, no ano passado,
menção honrosa na 32ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e
Direitos Humanos, na categoria TV Documentário, com a série sobre
pistolagem no Nordeste, exibida no programa Caminhos da Reportagem.
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