Os problemas não são de incapacidade profissional ou de dificuldade de comunicação.
São que os contratos firmados pelo governo português estão acabando e alguns deles terão de ir embora, para desespero das populações e dos prefeitos do Alentejo, do Algarve e do Ribatejo, regiões pobres que estão ameaçadas de ficarem, outra vez, sem médicos.
O portal SulInformação noticia:
Os cinco médicos cubanos que
prestavam serviço de consultas no concelho de Odemira terminaram os seus
contratos e regressaram ao seu país, deixando mais de 14 mil utentes
sem médico de família.
Esta situação, segundo denuncia, em
comunicado, a Câmara Municipal de Odemira, «está a provocar a rotura dos
serviços médicos em Odemira, S. Teotónio, Sabóia e Vila Nova de
Milfontes e o descontentamento da população e da autarquia, que têm
vindo a expressar o seu descontentamento junto dos responsáveis locais,
regionais e governamentais sem qualquer sucesso».
A autarquia sublinha, no comunicado a
que oSul Informação teve acesso, que no litoral Alentejano prestavam
serviço 16 médicos cubanos, cinco dos quais no concelho de Odemira e não
foram substituídos, isto apesar de há alguns meses os autarcas terem
sido alertados pela direção do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do
Litoral Alentejano para a necessidade de garantir a substituição dos
médicos cubanos que terminavam contrato no final do ano de 2011.
Até o presidente da Ordem dos Médicos de Portugal, apesar da cantilena de que os médicos estrangeiros são “superiores” em qualidade profissional, reconhece:
“Naturalmente os cidadãos que
receberam os médicos estrangeiros ficaram satisfeitos. Porque até aí não
tinham médico e passaram a ter. Não com as competências adequadas e
desejáveis, mas passaram a ter um médico”
Pois é, né, doutor…Agora, para quem quiser se aprofundar mais no “choque cultural” representado pelos médicos estrangeiros em Portugal, recomendo a leitura de um trabalho de duas sociólogas e uma psicóloga na Revista Iberoamericana de Salud y Ciudadanía, coordenada pela Universidade do Porto.
Ali, são ouvidos médicos cubanos, espanhóis e colombianos que foram trabalhar em Portugal e que falaram sobre essa experiência. Trascrevo apenas um pequeno depoimento, de uma médica uruguaia que está por lá:
Tú tienes que tener un segundo para mí, dos minutos aunque sea de
camino, de acercarte al primer familiar que está y decirle „señora, está
así, hicimos esto, la cosa está así, lo voy a llevar a tal hospital,
quédese tranquila, yo lo voy a acompañar‟. Es lo mínimo. Los
médicos portugueses, entran, salen, meten el tipo y se van. Yo al
principio decía „pero esto es inhumano!‟ […] Yo hablo con los
familiares. Eso les llamó mucho la atención a los enfermeros y a los
TAE [Técnicos de Ambulância de Emergência], yo siempre busco un
minuto […]. Hay cosas que son de sensibilidad humana porque el
paciente no es una cosa o un objeto. (E2, médica uruguaia)
.
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