Para Marilena Chaui, grupo de manifestantes ataca indivíduos e não tem caráter revolucionário
Em palestra a cadetes e oficiais, professora da USP defende que protestos de setembro clamem por reformas
Os "black blocs", grupos que têm promovido atos violentos durante
manifestações, têm mais inclinações fascistas do que anarquistas,
afirmou ontem a filósofa Marilena Chaui, em palestra na Academia da
Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Para ela, os grupos têm como foco o ataque a indivíduos e não apresentam
um plano de organização social futuro, em substituição à estrutura
social vigente.
"Temos três formas de se colocar. Coloco os blacks' na fascista. Não é
anarquismo, embora se apresentem assim. Porque, no caso do anarquista, o
outro [indivíduo] nunca é seu alvo. Com os blacks', as outras pessoas
são o alvo, tanto quanto as coisas", disse ela.
Chaui afirmou ainda que as manifestações de junho em nada se assemelham
aos protestos de maio de 1968, na França. Para ela, as reivindicações
atuais dialogam com o poder constituído, o Estado.
"O grande lema [em 1968] era: é proibido proibir porque nós somos contra
todas as formas de poder. Não se reivindicou nada. [...] As
manifestações de junho não disseram não' a coisa nenhuma. Eles se
dirigiram ao poder, ao Estado e pediram diminuição da tarifa, mais verba
para educação, saúde, CPIs e auditorias contra a corrupção e contra a
Copa. Fizeram demandas institucionais ao poder."
Professora da USP e doutora honoris causa pela Universidade de Paris,
Chaui participou do ciclo de conferências sobre violência, ministrado
para cadetes em formação e oficiais da PM.
Chaui falou sobre "o mito da não violência brasileira", descrevendo a
estrutura social como "opressiva" em relação aos mais pobres.
A criação da identidade nacional como "passiva" seria uma forma de
evitar mudanças sociais radicais, que prejudiquem os detentores do poder
político e econômico.
Mas, na análise da filósofa, os "black blocs" não usam o que ela chama de violência revolucionária.
"Ela só se realiza se há um agente revolucionário que tem uma visão do
que é inaceitável no presente e qual a institucionalidade futura que se
pretende construir", afirmou.
Ela ironizou algumas reivindicações desses grupos, como estatização dos bancos e a saída de Dilma Rousseff da Presidência.
Para Chaui, o modelo "black bloc" é uma mescla de "partidos de extrema
esquerda a procura de uma linguagem intempestiva de reconhecimento
social e nacional" e "essa coisa anárquica".
A filósofa defendeu que as manifestações previstas para setembro empunhem outras bandeiras.
"É preciso que as manifestações pegassem como tema a reforma política e tributária", disse.
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