terça-feira, 27 de agosto de 2013

Vannuchi: Mais Médicos mostra que governo ganha quando enfrenta debates


Padilha, que enfrentou o debate, abriu hoje
o treinamento dos médicos estrangeiros em
Brasília / Elza Fiúza/Agência Brasil

Colunista da Rádio Brasil Atual diz que conservadores pensam que estão certos quando Executivo deixa de contra-argumentar. Para ele, vontade humanitária de médicos cubanos se opõe a corporativismo no Brasil
Redação RBA

O ex-ministro Paulo Vannuchi, colunista da Rádio Brasil Atual, afirmou hoje (26) que o governo federal encabeçado pelo PT deve apresentar seus argumentos publicamente com mais frequência, sem evitar a exposição de ideias que facilitem a busca de consensos sólidos. Para ele, a chegada de médicos cubanos, a partir do último fim de semana, levantou uma discussão muito importante para o país.

“Esse debate está sendo muito rico para o fortalecimento da democracia brasileira. Ela é uma oportunidade especial que o próprio governo Dilma e o governo Lula estão tendo”, disse em seu comentário diário. “Ao fugir, se engana quem pensa que o outro lado, o lado conservador, a direita reacionária que tem saudades da ditadura e não gosta de pobre vai ficar sensibilizada com a moderação. Pelo contrário, ela passa a achar que seus argumentos conservadores e preconceituosos são muito válidos porque ninguém rebate.”

Hoje, os primeiros 644 médicos estrangeiros que chegaram ao Brasil começaram a ter treinamento para integrar o programa Mais Médicos. A expectativa do Ministério da Saúde é de que eles atendam a população a partir do dia 16 de setembro. Deste total, 99 são brasileiros formados no exterior, e 400, cubanos, que vieram ao país após um acordo firmado na semana passada entre o governo federal e a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), vinculada à Organização Mundial de Saúde (OMS). “Estão de parabéns a presidenta Dilma e o ministro Alexandre Padilha quando decidem enfrentar essa pressão da mídia partidarizada, da mídia que é oposta a esse projeto que se alinha a um ponto de vista corporativista do segmento médico e nem é de todos os médicos do Brasil”, afirma Vannuchi.
Uma das contestações apresentadas pela Associação Médica Brasileira (AMB) é a de que os profissionais cubanos não receberão os R$ 10 mil mensais pagos aos outros médicos, mas uma quantia em torno de R$ 4 mil, que será repassada pelo governo de Cuba. Na semana passada a entidade acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) argumentando que o Mais Médicos é inconstitucional e coloca em risco a população brasileira porque os profissionais estrangeiros não terão de passar pelo exame de revalidação de diploma. A esse respeito, os médicos cubanos que chegaram neste fim de semana ao Brasil esclareceram que são funcionários de carreira do governo da ilha, e por isso recebem um salário fixo, que continha sendo encaminhado às famílias mesmo durante as missões no exterior.
Vannuchi entende que o debate é importante também para desfazer mitos em torno de Cuba, país que desde 1962 enfrenta um bloqueio imposto pelos Estados Unidos, e já atravessou dificuldades graves, como a dissolução da União Soviética, uma parceria estratégica do ponto de vista comercial e político. “Eu faço questão de lembrar que o império norte-americano não deu um ano de chance para Cuba desenvolver a sua democracia. Na guerra não é possível democracia, porque ela requer discussão, diálogo, e a guerra requer combate diário sem muita conversa. Todo mundo sabe disso”, adverte.
“Nesse espírito de solidariedade internacional, são milhares os cubanos que se formam nas boas faculdades do país e não se interessam, como muitas vezes aqui no Brasil, pelo problema da remuneração. Quanto eu vou ganhar? Eu quero servir ao povo, ao povo cubano, ao povo brasileiro, ao povo venezuelano, ao povo mexicano, ao povo angolano... onde eu for necessário.”

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