No último dia 14 de junho, enquanto as atenções estavam voltadas para os
protestos nas ruas de São Paulo, o Diário Oficial do Estado publicou a
compra – sem licitação – de 5.200 assinaturas semestrais da revista Veja
para serem distribuídas nas escolas da rede pública. O valor contratado
foi de R$ 669.240,00, a ser desembolsado em nome da Fundação para o
Desenvolvimento da Educação, órgão do governo estadual.
Há anos os governos tucanos paulistas recebem duras críticas pela compra
em grande volume destas revistas e jornais. As críticas começam pela
dispensa de licitação, afinal há pelo menos outras três revistas
semanais no Brasil que concorrem com a Veja.
A linha editorial da publicação é, digamos assim, a mais simpática ao
governo paulista e hostil à oposição dentro do estado. E isso atrai
questionamentos aos governadores tucanos da vez, sobre haver mais
interesse político próprio do que público nesta compra.
Outro ponto polêmico é se a revista é realmente adequada para ser
direcionada ao ambiente escolar, tantas são as polêmicas em torno de
suas reportagens. E não me refiro apenas aos diversos casos que
ensejaram processos e condenações, seja de indenização por danos morais,
seja de direitos de resposta.
Há também casos de reportagens contestadas e repelidas pelo meio
acadêmico e científico, inclusive um caso de apologia ao consumo de
remédios para emagrecer que haviam sido proibidos pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa). E lembremos que, no ano passado, a
revista esteve envolvida com o escândalo do bicheiro Carlinhos
Cachoeira, cujas interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça
captaram diálogos que sugerem estreita proximidade entre o alto escalão
da Veja, bem acima do recomendável e até hoje mal explicada.
Com esse perfil editorial, que não podemos chamar de educativo, seria
melhor o governador Geraldo Alckmin deixar que quem a queira ler que a
compre, em vez de fazer distribuição compulsória para escolas com
dinheiro público.
Além disso, a revista sequer está direcionada para a faixa etária dos estudantes. A própria editora Abril publica, em seu perfil dos leitores que apenas 11% têm mais de dez e menos de 19 anos. A maior fatia de leitores tem mais de 50 anos.
Mesmo que não existisse nenhum dos argumentos anteriores, recente
pesquisa da Fundação Perseu Abramo registrou que 37% dos entrevistados
se informam pela internet, contra 24% por revistas impressas. A pesquisa
ouviu 2,4 mil pessoas de todas as idades acima de 16 anos. Se fosse
refeita só com a faixa etária de estudantes até o ensino médio, a
diferença a favor da internet seria muito maior, pois as novas gerações
usam intensamente as redes. Por isso, o mais provável é que grande parte
dos exemplares comprados para as escolas fiquem encostados em vez de
serem lidos pelos alunos, o que revela um mau gasto de dinheiro público.
Enfim, a decisão de continuar comprando estas assinaturas é muito boa
para os interesses empresariais dos donos da revista, inclusive
sustentando a tiragem artificialmente, o que segura o preço dos
anúncios. Pode ser boa também para os interesses políticos do
governador, mas é péssima para os cofres públicos paulistas e para os
estudantes das escolas públicas.
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