Marina não é de esquerda. Não bastassem as acusações de “chavismo” ao
atual governo, seu fundamentalismo religioso provavelmente a coloca à
direita de Aécio Neves. Ambos devem ter o mesmo programa econômico –
produzido por inquilinos da Casa das Garças e órfãos de FHC – com uma
diferença: até aqui Aécio não fala em ensinar criacionismo nas escolas e
nem se coloca contra avanços nos costumes.
Mas essa seguramente é opinião de um setor minoritário da população.
Para a maioria, Marina foi ministra do Meio-ambiente de Lula, defende a
natureza e saiu do governo por causa da “velha política” (algo tão
indefinível quanto “rede sustentabilidade”). Além disso, ela e Eduardo
Campos foram ministros e aliados de primeira hora da gestão petista.
Todos integrariam um condomínio político semelhante e representam – aos olhos das maiorias – um racha no campo progressista.
Como diferenciar?
Como se diferenciarão as candidaturas de Dilma e Marina/Eduardo Campos em 2014?
Tudo indica que não será pelo contraste político. A postulante petista
não poderá falar que o PSB tem como aliados Bornhausen, Heráclito Fortes
e Paulo Skaf, integrantes da fina flor da direita brasileira. A aliança
petista com Sarney, Collor, Sérgio Cabral, Blairo Maggi, Paulo Maluf e
Katia Abreu (para não falar de Gleici Hoffmann, Paulo Bernardo e José
Eduardo Cardozo) deixarão a presidente sem argumentos, se for retrucada à
altura.
Zero a zero até aí.
No segundo turno de 2010, Dilma atacou pesadamente seu oponente José
Serra, em debate pela TV Bandeirantes. Acusou-o de ser privatista e de
planejar vender o pré-sal. Eleita, ela rendeu-se à fúria privatizante –
estradas, portos e aeroportos - e quer passar nos cobres parte do
pré-sal .
Jogo empatado.
Lula, nesta semana,
deu mais uma contribuição à geleia política. Afirmou que o projeto do
PT para a Constituição de 1988, “se tivesse sido aprovado, certamente
tornaria o país ingovernável”. E detalhou os motivos: “O PT queria um
texto mais avançado, contemplando reforma agrária, estabilidade no
emprego, imposto sobre fortuna, criação do Ministério da Defesa”. Ou
seja, uma plataforma democrática básica, segundo o ex-presidente,
tornaria o país “ingovernável”.
É mais menos ou que dizia José Sarney, em 1988, e o empresariado nacional nos anos seguintes
Marquetagem
A diferença em 2014 será também marcada por quem tiver o marqueteiro
mais competente (e mais caro). A julgar pelas arrecadações de campanha
de três anos atrás, Dilma levará a melhor nesse quesito.
A presidenta poderá alardear os êxitos dos governos petistas em elevar
salários e manter a estabilidade da moeda. Mas estará discursando sobre o
passado, enquanto campanhas pedem mais. Pedem planos para o futuro.
Eduardo Campos não exibe conteúdo algum em suas falas. Ninguém sabe ao
certo o que pensa da vida. Mas sempre que pode, propaga que fará “mais” e
“diferente”. Numa campanha esvaziada de demarcações claras, é um
começo.
Economia e protestos
Um componente importante da disputa de 2014 estará largamente pautado
pelo desempenho da economia e pela volta ou não das manifestações de
junho.
Apesar do crescente déficit externo, nada parece indicar uma queda
abrupta nas expectativas. Emprego, renda e inflação seguem estáveis. O
governo escolheu a senda da contração – através da agressiva política de
elevação dos juros básicos – e devemos ter mais um ano de PIB medíocre.
Mas não um solavanco, como em 2009.
Uma nova explosão social às portas das eleições (na época da Copa, por
exemplo) pode ter efeito devastador para a candidatura oficial. Mas aqui
adentramos, por enquanto, no terreno do imponderável.
Saída pela esquerda?
O 1º vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, em entrevista à Carta Maior,
afirmou sobre a candidatura Eduardo Campos (possivelmente extensiva
hoje à Marina) que “A minha expectativa é que ele seja uma pontuação à
esquerda da candidatura da Dilma. Uma oposição pela esquerda”.
Se for verdade, a postulação Marina/Campos poderá ter algumas consequências importantes na conjuntura eleitoral:
A. Tornará o apoio do PMDB ainda mais vital para o PT. Com isso, teremos
uma bolha especulativa no preço do apoio da agremiação de Michel Temer;
B. Pode forçar alguma definição política entre as candidaturas.
C. Mandará para o limbo as pretensões do PSDB e seu candidato.
D. Uma postulação mais à esquerda, com maior nitidez, pode se destacar.
Até aqui, Dilma tem ampla vantagem. O que se desenha agora é um possível segundo turno. Mas há muito tempo pela frente.
Gilberto Maringoni,
jornalista e cartunista, é professor de relações internacionais da
Universidade Federal do ABC. Doutor em história pela Universidade de São
Paulo, é autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e
intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
No Carta Maior
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