Dificuldades da oposição
André Singer
Apenas hoje saberemos se Marina Silva vai se filiar a algum partido a tempo de poder disputar a eleição de 2014.
Independentemente disso, ao ver barrado o registro da Rede pelo TSE na
noite de quinta-feira, o grupo da ex-senadora deu mostras de uma
fragilidade organizativa inexplicável. Mesmo que tenham ocorrido
boicotes cartoriais, como afirmam os sonháticos, caso a coleta de
assinaturas tivesse começado há mais tempo -- os anos de 2011 e 2012
foram perdidos sem motivo aparente--, a agremiação da ex- senadora não
correria hoje qualquer risco.
As duas opções restantes para o que venho chamando de "novo centro" são
ruins do ponto de vista da estruturação de uma terceira força na
política nacional. A primeira é ficar fora da corrida do ano que vem.
Nada impede, é certo, que, uma vez registrada a Rede, o que certamente
acontecerá nos próximos meses, Marina seja candidata competitiva em
2018. No entanto, como mostrou a experiência de Lula, as candidaturas
presidenciais no Brasil são poderosas alavancas para organizar partidos.
Com isso, quatro anos seriam desperdiçados.
Caso opte por filiar-se a qualquer sigla, Marina pagará o preço de, a
todo momento, ter de explicar se cedeu à ambição, uma vez que pretende
regenerar os hábitos políticos brasileiros e acabou por usar uma espécie
de legenda alugada apenas para ser candidata. Em função disso, uma
parcela (mesmo que minoritária) mais engajada do seu eleitorado vai se
afastar, reforçando o desencanto com as instituições.
De outro lado, a maneira pela qual José Serra conduziu o processo que o
levou, no final das contas, a ficar no PSDB indica o estado de desunião
em que se encontram os peessedebistas. O longo flerte de Serra com o PPS
mostrou o quanto o ex-governador de São Paulo está incômodo com a
prevalência de Aécio Neves no ninho tucano.
Ao ser eleito presidente do partido em maio passado, o ex-governador de
Minas adquiriu controle sobre a máquina, tornando praticamente inviável
qualquer pretensão serrista a ser candidato à Presidência da República.
Em troca, as chances de apoio efetivo ao mineiro por parte do paulista
são próximas de zero.
Não obstante os problemas organizativos e de unidade da oposição que
ficaram claros nesta semana, a sua dificuldade de fundo ainda é
encontrar uma via para tornar-se popular. Se não conseguir atingir o
chamado "povão" --para isso, precisará mostrar algum compromisso com as
necessidades materiais das camadas de baixa renda--, ficará apenas na
dependência de uma piora na economia, com reflexo na inflação, no
emprego e na renda.
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