A burguesia rejeita Dilma?
Sim, o ambiente econômico é grande eleitor, mas é a mídia que se empenha para alimentar o ódio
por Mauricio Dias
Um possível clima de ódio, nascido de decisões da presidenta, rejeitadas por parte do empresariado, é refletido na mídia.
Em longo e consistente artigo para a revista trimestral Inteligência,
em circulação na próxima semana, o historiador João Bettencourt e o
jornalista Luiz Cesar Faro tentam decifrar o que identificaram como
“indiscreto ódio da burguesia” à presidenta Dilma Rousseff.
O esforço inédito joga luz forte sobre esse “desamor” entre as partes.
Os articulistas mergulham fundo nas relações conflitadas entre um lado e
o outro e emergem com uma pergunta: “Tem culpa ela?” A resposta é não,
dizem os autores do estudo.
Dilma, segundo eles, “deslulou a governança”, embora tenha mantido e
aprofundado os ganhos sociais promovidos pelo antecessor. Esta seria a
origem, ou uma delas, dessa desavença. Consideram que a burguesia,
preconceituosamente, odiaria Dilma “devido ao seu intervencionismo, sua
inaptidão ao diálogo e, quiçá, seu simples jeito de ser”.
“A redução na marra das tarifas cobradas pelo suprimento de energia
elétrica é emblemática”, apontam Bettencourt e Faro, entre tantos outros
exemplos recolhidos ao longo da pesquisa sobre o confronto.
Há, no entanto, fatores que deveriam contrabalançar eventuais desgostos
provocados por decisões monocráticas da presidenta. Eis um deles que
também figura em rol imenso. Dados recentíssimos da Fipecafi, fundação
ligada à Universidade de São Paulo, por exemplo, mostram que, entre 2012
e 2013, os lucros das 500 maiores empresas do País cresceram 39,3
bilhões de dólares. Isso traduz alta de 24% em relação ao ano anterior.
Mas a história desse conflito estaria agora se preparando para
desembarcar nas urnas. Dúvida? O ex-ministro Delfim Netto, em variadas
ocasiões, tem reafirmado a certeza “de que o ambiente econômico é um
grande eleitor”. “Delfim não chega a concordar com a hipótese de um
‘golpe branco pela economia’, mas afirma que o humor da burguesia conta,
sim, nas eleições”, dizem os autores.
Como isso se dá? De acordo com Delfim, forma-se “um clima de
hostilidade, um ambiente de negócios que o governo se esforça em negar,
mas que existe e que influiu de forma importante para a redução nos
investimentos e agora impacta também o consumo”.
Bettencourt e Faro se remetem a uma frase de Lula: “O mau humor do empresariado não está deixando a economia andar”.
Impulsionaria esse mau humor um projetado confronto eleitoral: “Se o PT
tem a sua militância e o voto da inclusão social, a burguesia tem o
controle absoluto da mídia”, deduzem os analistas. E apontam:
“A cólera burguesa é mais visível estampada nas bancas de jornal e
vocalizada nos programas de tevê. Em jornais e revistas analisados nos
últimos 573 dias, somente 9% do noticiário econômico foi favorável,
mesmo assim ligeiramente, ao governo Dilma – nessa contabilidade não
foram levados em consideração os artigos do corpo editorial ou de
articulistas convidados”.
Para João Bettencourt e Luiz Cesar Faro não há dúvidas: “A mídia comprou
um lado e está sitiando, sim, a presidenta, o PT e o seu entorno. E é
no cerne da imprensa que o ódio viceja; porque, se por um lado não são
reconhecidos avanços, por outro são exacerbadas as críticas. O
oligopólio da mídia não gosta de Dilma, e ponto final”.
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