Em várias declarações já ouvimos Aécio dizer que os petistas não podem
perder a presidência da República, dentre outros motivos, para não ver
cair seu padrão de vida. Provocação barata que ocupa o espaço dos
debates estruturais que deveriam presidir uma disputa eleitoral da
magnitude desta que temos à frente.
Mas, entremos no clima por ele proposto.
Aécio, de fato, não precisa se preocupar com seu padrão de vida.
Ganhando ou perdendo eleições. Aliás, nunca se preocupou. Descendente
das oligarquias conservadoras mineiras, que foram geradas nas entranhas
do Estado, desde o império, ele não tem a menor ideia do que seja
empreender na iniciativa privada. Do que seja arriscar em negócios e
disputas de mercado. Do que seja encarar uma falência, uma cobrança
bancária, uma perda de patrimônio.
Pasmem: é esse o candidato que faz apologia do livre mercado, da
iniciativa individual como base para a ascensão social e da ideia do
“cada um por si” como critério de sobrevivência na selva do capitalismo
contemporâneo.
Até sua carreira eleitoral tem como fato gerador a agonia terminal do
avô, cuja morte “coincidiu” com o dia de Tiradentes. Seu primeiro cargo
eletivo é tributário disso: em 1986 ele obteve mais de 200 mil votos
para deputado federal sem lastro político próprio. Quatro anos mais
tarde, distante do “fato gerador”, ele se reelegeu com magros 42.412
votos.
No quadro a seguir temos um diminuto resumo da versão de sua “bolsa família”.
Reitera-se: trata-se de um “diminuto resumo”. A história de seus avós
paternos e maternos é a reprodução integral de como foram formadas as
elites mineiras: indispensável vínculo estatal (cargos de confiança no
Executivo, cartório e muita influência no Judiciário), formação de
patrimônio fundiário à base da incorporação de terras devolutas e
estreitas ligações com carreiras parlamentares.
O pai, Aécio Cunha, por exemplo, morava no Rio de Janeiro quando, em
1952 retorna a Belo Horizonte e, com 27 anos de idade, em 1954,
“elegeu-se deputado estadual, pela região do Mucuri e do Médio
Jequitinhonha, ainda que pouco conhecesse a região (…)” conforme
descrição no Wikipédia. Seus oito mandatos parlamentares nasceram de sua
ascendência oligarca. Do avô materno, Tancredo, dispensa-se maiores
apresentações. Atípico sobrevivente de várias crises institucionais que
levaram presidentes à morte, à deposição e ao exílio, Tancredo Neves
sempre esteve na “crista da onda”. Nunca como empresário. Quase sempre
como interlocutor confiável dos que quebravam a normalidade democrática.
Aécio Neves, por sua vez, era um bon vivant quando passa a
secretariar o avô, governador de Minas Gerais, a partir de 1983. Nunca
foi empresário, nunca prestou concurso público, nunca chefiou nenhum
empreendimento privado. Sua famosa rádio “Arco Íris” foi um presente de
José Sarney e Antônio Carlos Magalhães. Boa parte de seu patrimônio é
herança familiar construída pelo que se relatou anteriormente. O caso do
aeroporto do município mineiro de Cláudio é apenas mais uma ponta do
iceberg.
Enfim, ele é isso: um produto estatal que prega liberalismo,
competição, livre mercado… para os outros. Uma contradição em movimento.
Herdeiro, portanto, de uma típica “bolsa família”; só que orientada
para poucos.
Aliás, esse parasitismo estatal é característico da maior parte das
elites brasileiras. Paradoxal é defenderem os valores neoliberais.
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