A candidatura de Aécio claudicou. Tive essa nítida sensação na noite da
última segunda-feira, 21.07, quando vi, na TV, o candidato gaguejar feio
no Jornal Nacional no instante em que era indagado, em meio a um evento
de campanha, cercado por correligionários, sobre o caso do "aeroporto"
construído em terras desapropriadas de um seu tio-avô, no tempo que
ainda era governador de Minas.
Foi constrangedor. Embaraçoso. Vergonhoso. Apesar de estar ali cercado
por correligionários, alguns destes por sinal velhas raposas da política
mineira, Aécio parecia um infante abandonado. O sorriso amarelou, o
rosto empalideceu, os gestos eram como os de um afogado. A sombra do seu
avô, já falecido, não poderia lhe acolher naquele momento de apuro. FHC
também não estava ali, para lhe dizer o que falar ou como proceder —
tampouco o “amigo” José Serra.
Repito, para aqueles que ainda não atentaram para a gravidade do
episódio: Aécio Neves, candidato à Presidência pelo PSDB, gaguejou, em
close up, em rede nacional, no horário nobre da TV, diante de milhões de
telespectadores!
E por que teria gaguejado o candidato Aécio? Porque a denúncia era
verdadeira e ele se sentiu impactado, embaraçado, quando colocado contra
a parede? Ou apenas porque é ainda um candidato “verde”, sem o couro
curtido ou o dorso felpudo das velhas raposas? Por que gaguejou Aécio
Neves? Engasgado pela culpa?
O fato é que Aécio demonstrou, indubitavelmente, incapacidade de
assimilar, impávido, com galhardia, o primeiro golpe que levou — isso,
note bem, no primeiro round de uma disputa para a Presidência que
anuncia-se longa e renhida.
Sempre achei Aécio um candidato fraco, inepto. E apesar de ser essa
apenas uma opinião, pessoal e intransferível, talvez eu já não esteja
tão sozinho assim com relação a essa minha primeira avaliação. Muito
provavelmente, alguns tucanos já devem estar se questionando a essa
altura, em suas reflexões mais íntimas, se escolheram de fato o homem
certo para disputar a Presidência da República contra o PT.
A denúncia é grave e pode estar a nos gritar que Aécio, apesar de
“verde”, digamos assim, age como se para lá de “maduro” estivesse —
“maduro”, no sentido corrompido do termo, ao governar com práticas e
modos anacrônicos, dos velhos coronéis. Pois, ao que indica a denúncia,
se confirmada/comprovada, Aécio cometeu o velho pecado do
patrimonialismo, do clientelismo. O de se utilizar da máquina e dos
recursos públicos para fins privados.
O governo de Minas Gerais teria desapropriado parte de uma fazenda
pertencente a um parente do então governador para ali fazer um simulacro
de aeroporto — está mais para uma pista de pouso — e assim
facilitar-lhe a vida e os negócios, seus e de seus parentes.
O candidato pode estar demonstrando nesse episódio, sejamos honestos,
ser um político ainda sem o estofo necessário para disputar uma eleição
para a Presidência, mas... Foi o escolhido pelo PSDB. E, como diziam os
antigos: quem pariu Mateus que o embale.
No que interessa à sociedade, ao espírito republicano e à legalidade dos
fatos, a questão será avaliada pelo Ministério Público que deverá
investigar e decidir se o Aécio governador, ao desapropriar terras no
pequeno município de Cláudio para a construção de um “aeroporto”, estava
pensando e agindo de acordo com os interesses de Minas — ou dos seus
próprios e da sua família. E, mais ainda, por fim, se os recursos
dispendidos pelo Estado foram bem utilizados a serviço da coisa pública.
Lula Miranda
No 247
Também do Blog CONTEXTO LIVRE.
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