domingo, 20 de julho de 2014

O aeroporto de Aécio e a comportamento da mídia


Aécio ganhou manchete da Folha
Algumas pessoas estão eufóricas com a informação, divulgada hoje pela Folha, de que na gestão de Aécio foi construído um aeroporto com dinheiro do contribuinte numa propriedade de um tio dele.

14 milhões de reais foram gastos na obra, segundo a Folha.

A euforia que me chama a atenção não é a dos petistas. Esta é previsível, dadas as circunstâncias.

É a de pessoas para as quais o furo da Folha é a prova definitiva de que a mídia não favorece o PSDB e nem, muito menos, se esmera nas denúncias contra o PT.

Cada um fique com sua crença, mas quem acredita nisso — na demonstração de neutralidade apartidária por conta do aeroporto denunciado — acredita em tudo, conforme disse Wellington.

Observe.

Primeiro, entra aí uma espécie de cota da Folha de notícias negativas para o PSDB. Assim como tem uma cota de colunistas de pensamento  independente — para cada Janio de Freitas há vários Magnollis — a Folha tem também uma para notícias.

Faz parte do esforço em manter de pé o slogan com o qual ela conquistou, no passado, a liderança entre os jornais: aquele que afirma que a Folha não tem rabo preso com ninguém.

Muito mais por razões de marketing do que propriamente por razões jornalísticas, a Folha é entre as publicações das grandes companhias jornalísticas a que mais parece se preocupar com a imagem de imparcialidade.

É por isso que, de vez em quando, você vai ler lá coisas como o aeroporto de Minas. É uma característica da Folha, e só da Folha.

Saia da árvores e analise a floresta.

A grande diferença entre uma denúncia contra o PT e uma denúncia contra o PSDB está na repercussão dada pelas demais empresas de jornalismo.

Num caso, quando a vítima das acusações é o PSDB, o assunto vai morrendo, à falta de interesse de jornais e revistas. No outro, quando contra o muro está o PT, são manchetes incessantes, e desdobramentos se multiplicam.

Compare a cobertura dada, algum tempo atrás, à Petrobras, depois da compra de uma refinaria em Pasadena, com o noticiário relativo ao escândalo das propinas do metrô de São Paulo.

O episódio que melhor mostra a distinção no tratamento de temas assemelhados diz respeito à compra de votos no Congresso para que fosse aprovada a emenda que permitia a reeleição de FHC.

Como agora, a denúncia partiu da Folha.

Como o Jornal Nacional, por exemplo, repercutiu a compra? Nos últimos anos, o JN se habituou a pegar denúncias anti-PT da Veja e, na edição de sábado, dá-las com extremo alarido.

Eram amplificados assim, com o mesmo expediente, ataques ao governo petista. O espaço dado pelo JN às acusações levava depois, durante a semana, o resto da mídia — jornais, sobretudo — a se engajar na exploração dos “furos” da Veja.

Este comportamento padrão, repetido metodicamente ao longo de tanto tempo, acabou minando a credibilidade da grande mídia perante a parcela mais esclarecida do público — e não apenas entre petistas.

Alguns detalhes mudaram: a radicalização progressiva da Veja levou os editores do Jornal Nacional a tomarem mais cuidado com o noticiário da revista. Acabou a repetição mecânica.

Mas o processo, em si, continua o mesmo. Notícia ruim contra o PT é, para a mídia, notícia boa. Notícia ruim contra o PSDB é, para a mídia, notícia ruim.

O aeroporto de Aécio, por tudo isso, rapidamente vai sumir do noticiário da mídia nesta semana.

Não porque o assunto não seja importante, mas pelas preferências ideológicas e partidárias das grandes empresas de jornalismo, para as quais notícia é algo definitivamente subjetivo.

Paulo Nogueira
No DCM

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