Brasil 247 -
MAURO SANTAYANNA

A queda da aeronave, que levava 290 pessoas, nas imediações de
Krasni Luch, perto de Shaktarsk, em território ucraniano, próximo da
fronteira com a Rússia, ocorre em um momento em que - coincidentemente? -
boa parte da opinião pública mundial ainda tem a sua atenção voltada
para a tragédia do misterioso desaparecimento, sem deixar pistas, de um
avião do mesmo modelo, e da mesma companhia, sobre o Oceano Índico, em 8
de março deste ano, com 223 passageiros, entre eles, 150 cidadãos
chineses, a bordo.
Segundo agências de notícias ocidentais, o acidente ocorreu em
território controlado por separatistas de etnia russa, que foram
imediatamente acusados, pelo governo ucraniano, de terem derrubado o
avião, usando mísseis terra-ar.
Em conversa telefônica, anteriormente agendada, com o Presidente
Obama, dos EUA, o Presidente russo, Vladimir Putin, negou
peremptoriamente essa possibilidade, também desmentida pelo líder dos
separatistas do Leste da Ucrânia, Alexander Borodai.
Como o avião se encontrava há dez mil metros de altura, ele só
poderia ser abatido, teoricamente, por mísseis de uma bateria antiaérea,
e não pelos projéteis portáteis usados, normalmente, pelos combatentes
independentistas da região, que têm entre 3 e 4 mil metros de alcance.
Afastada a hipótese da explosão de uma bomba a bordo, e em caso de
confirmação de que a queda do avião malaio - que contava com 15 cidadãos
norteamericanos entre seus passageiros - foi provocada pelo disparo de
um míssil, é preciso desconfiar das versões apressadamente apresentadas
pelas autoridades do atual governo ucraniano.
É estranho que o incidente aconteça justamente depois da recente
derrubada de um avião militar da Ucrânia, por rebeldes separatistas, e
quando os Estados Unidos estão anunciando novas sanções contra a Rússia.
E isso, em um momento em que o Presidente Vladimir Putin acaba de
colher importantes vitórias diplomáticas, junto com o seu colega chinês,
Xi Jinping, em périplo pela América Latina, no contexto da Cúpula dos
BRICS de Fortaleza, e do lançamento do Novo Banco de Desenvolvimento e
do Fundo de Reservas do grupo.
Considerando-se a permeabilidade da vasta fronteira que separa a
Rússia e a Ucrânia, e os estreitos contatos na área de defesa -
incluindo a fabricação de armamentos - que existiam entre os dois
países, desde os tempos da antiga União Soviética, seria fácil, para
qualquer uma das partes em confronto, derrubar uma aeronave usando um
foguete ar-ar de origem russa disparado de outro avião, hipótese que
está sendo investigada, com base em informações de satélites, tanto por
Washington como Moscou neste momento.
É preciso não esquecer que, quando da queda de Yanukovich, teoricamente precipitada por disparos feitos por policiais contra manifestantes da Praça Maidan, correu a versão, ainda não totalmente desmentida, ou devidamente esclarecida, de que os tiros teriam partido, na verdade, de franco-atiradores ligados a facções da extrema-direita neonazista ucraniana, com a intenção de jogar a opinião pública contra o governo que estava no poder em Kiev até fevereiro deste ano.
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