Marcelo Semer - Terra Magazine
Pode até ser que a seleção brasileira não esteja lá muito
bem das pernas –o sufoco na classificação por pênaltis contra o Chile acendeu a
luz amarela. Mas é fato de que nesta Copa, a imprensa e a torcida estão ainda
piores que ela.
Se é verdade, como diz a manchete da Folha de S. Paulo de
domingo, que a trave salvou o time de um vexame, a mídia não vem tendo a mesma
sorte.
O blogueiro de Veja foi ridicularizado na imprensa
estrangeira por sugerir uma teoria da conspiração com o emblema da Copa, onde
números em vermelho estariam fazendo uma subliminar propaganda do governo. Um
dos colunistas mais respeitáveis da imprensa escrita, que escreve para os dois
maiores diários do país, se notabilizou por fazer uma entrevista com o sósia do
Felipão, supondo ser o treinador.
Mas nada se equipara à derrocada do catastrofismo, que
pautou a grande mídia nos meses que antecederam ao início da competição. Os
estádios não ficariam prontos, os aeroportos não dariam conta da demanda, a
mobilidade e a segurança estavam seriamente ameaçadas, tudo convergindo para
uma vergonha nacional.
Não foram poucos os que replicaram a toada e que
sentenciavam o fiasco do evento –no que foi certamente a previsão mais
equivocada que o jornalismo brasileiro já fez, contando todos os furos da
meteorologia.
O medo se espalhou por muitos, a demora na empolgação fez
parecer que a torcida também se contaminara desse pessimismo calculado. Quando
a Copa começou, se iniciaram os arrependimentos de quem se deixou levar pelo
fim de mundo proclamado e perdeu chances de aproveitar os jogos ou a festa.
Outro dia, na própria Folha de S. Paulo, o colunista Luiz
Caversan se perguntava quem pagaria o prejuízo dos comerciantes que, aderindo
ao pessimismo, deixaram de se preparar para os lucros? Não se espere daí um mea
culpa. A mídia local cuidou logo de transferir o erro para a “imprensa
estrangeira”, que dias depois de começado o evento, já não reconhecia o “Copa
das Copas” como um slogan assim tão ufanista.
Contaminada também pelo momento eleitoral, parte da torcida
demorou demais a se engajar no ânimo da Copa –muitos com o pensamento
equivocado de que algum candidato poderia ter ganho eleitoral com a vitória ou
a derrota da seleção.
O país já passou por várias Copas e seus eleitores já
mostraram o quão pouco a classificação influencia o pleito. Mas por incrível
que pareça, o assunto é frequente nas rodas mais VIPS do país, aquelas mesmas
que se arrogam em ter o “fundamento do pensar” e desfilam pessimismo mais como
plataforma do que estado de espírito.
Pior ainda foram os episódios grotescos que a torcida tem
proporcionado nos estádios, como o de xingar a presidenta ou vaiar o hino do
adversário.
O desrespeito nada tem a ver com a precária educação pública
-86% da torcida brazuca nos campos tem ensino superior completo. É
apenas caso de arrogância, de quem olha para o seu selfie como
o retrato do país. Felizmente não é.
Torço para que o Brasil reencontre o futebol, que parece ter
sido sequestrado de seu próprio passado pela Colômbia, e os jogadores tenham
força para resistir à sufocante pressão que um favoritismo sem base real
colocou em suas costas. Afinal diante de uma torcida imensa para que o
campeonato nem sequer acontecesse, ou que fosse um verdadeiro fiasco, jogar em
casa não é uma grande vantagem.
Realizar bem o mundial, mesmo que seja o melhor de todos os
tempos, não significa esquecer os demais problemas que circulam em seu entorno,
como o enorme déficit de moradia e a permanência da violência policial, só para
citar aqueles com os quais nos deparamos todos os dias, com ou sem jogos.
Mas com esses problemas nem a grande imprensa nem a torcida instagram
parecem estar lá muito preocupados.
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