Não adianta se desculpar, a pisada na bola foi feia. |
Escrevendo sobre a sabatina presidencial, ele cravou no título que houve "três momentos patéticos" (vide íntegra aqui). Eis o segundo deles, com meus comentários de testemunha ocular da História em vermelho:
"Dilma, sob o codinome Estella, foi a mentora de um roubo milionário. Em julho de 1969, três carros com 11 guerrilheiros da VAR-Palmares estacionam em frente à casa no bairro carioca de Santa Teresa, onde morava um irmão de Ana Capriglioni, notória amante do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. Lá, executando uma operação minuciosamente planejada por 'Estella', que não tomou parte na ação, a VAR-Palmares roubou um cofre de chumbo pesando 300kg, recheado com uma bolada de US$ 2,16 milhões.
Dilma não foi "Mentora" nem "Minuciosa planejadora", pois tal papel coube ao Juarez Guimarães de Brito, o maior planejador de operações deste tipo durante a luta armada. Ele tinha sido o cérebro do grupo tático do Colina e continuou sendo-o depois que o Colina se fundiu à VPR, dando origem a Var-Palmares.
Eis o real "mentor" |
Dilma não participou da ação simplesmente porque suas funções na Organização eram políticas, nada tendo a ver com as operações armadas (das quais, por questões de segurança e especialização, desincubuam-se outros militantes, sempre os mesmos), ao contrário do que consta na Ficha Policial fajuta que a extrema-direita disseminou na internet para caracterizar "terrorista/assaltante de bancos".
As fantasias mirabolantes do Reinaldo Azevedo são idênticas às do Ternuma: utilitárias, e não históricas.
"Pouco tempo depois, a VAR-Palmares se desintegra, por desentendimentos entre 'Estella' e Carlos Lamarca. A maior parte do grupo seguiu a agora presidente — na época, Cláudio, seu primeiro marido, partira para Cuba a bordo de um avião sequestrado, e Dilma já se enamorava de Carlos, o gaúcho da VAR-Palmares — com quem veio a se casar e com quem teve Paula, a única filha, hoje juíza do Trabalho em Porto Alegre — de quem se separou já depois da redemocratização.
A Var-Palmares rachou no Congresso de Teresópolis (outubro de 1969) como consequência do descontentamento dos chamados militaristas com o que acreditavam ser um desvio massista dos militantes originários do Colina: não estariam priorizando devidamente a montagem da coluna móvel estratégica nem as ações de propaganda armada nas cidades, por entenderem ser necessária a manutenção de alguns elos com os movimentos operário e estudantil.
Ou seja, os primeiros tinham em mente uma vanguarda que cumpriria estritamente as ações armadas da resistência, deixando as outras tarefas para outros grupos, enquanto os segundos queriam uma organização que mantivesse algum enraizamento nas massas.
Falsificações pululam |
A ideia de desfazer a fusão e recriar a VPR partiu de dois comandantes estaduais de São Paulo, o José Raimundo da Costa e eu, tendo como plataforma teórica um documento-proposta do Ladislau Dowbor intitulado "Teses do Jamil".
No Congresso de Teresópolis, os verdadeiros protagonistas da ruptura foram o Lamarca, pelo lado dos militaristas; e o Carlos Franklin Paixão e o Antônio Roberto Espinosa, pelos massistas. Os três eram comandantes nacionais. O casal Juarez Guimarães e Maria do Carmo Brito, igualmente de primeiro escalão, tentava apaziguar os ânimos e manter a Organização unida. Dilma secundava os líderes massistas e foi nesta condição que contestou em alguns momentos o Lamarca.
No final, a VPR recriada teve a adesão de alguns quadros de origem Colina (como o casal Brito) e na Var-Palmares permaneceram militantes de origem VPR (como o Espinosa). Foi então que se abriram vagas no Comando Nacional da VAR e a Dilma a ele ascendeu.
"Parte do dinheiro — US$ 1 milhão — teria sido doada aos rebeldes argelinos. O resto teria sido usado para financiar a guerrilha. Seja como for, uma das guardiãs da grana era… Dilma! Virá daí a sua fixação por dinheiro em moeda sonante?."
Puro samba do crioulo doido. Tudo leva a crer que Reinaldo Azevedo tenha se lembrado vagamente desta entrevista de Maria do Carmo Brito, publicada em O Estado de S.Paulo.
Tão obcecado estava em atacar Dilma que trocou as bolas, atribuindo-lhe o papel que Maria do Carmo Brito afirma ter desempenhado (há que faça restrições a sua versão), relativo à parte do dinheiro que ficou com a VPR, não à parte da VAR. O Reinaldo Azevedo ouviu o galo cantar, mas não sabe onde...
Finalmente, o US$ 1 milhão não foi doado aos rebeldes argelinos, mas sim colocado sob a guarda deles, para devolução quando fosse necessário.
Resumo da opereta: creio ter escancarado a tendenciosidade e absoluta
falta de rigor histórico do Reinaldo Azevedo. Que continue acreditando
nele quem quiser... ser manipulado!
Celso Lungaretti
No Náufrago da Utopia
Um comentário:
Ninguém ajuda mais a campanha de Dilma que que Reinaldo Azevedo, pois na insana vontade de denegrir a imagem dela a transforma em vitima, e o povo adora vítima. Que bom!
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