No caso Cláudio, o piloto mentiu
Tucano passou 11 dias mentindo e tenta encerrar caso com desculpa esfarrapada
No artigo
que publicou na Folha de S. Paulo, o candidato tucano Aécio Neves procura
reduzir o escândalo do aeroporto de Cláudio a um “equívoco”: ter utilizado uma
pista de pouso sem saber se ela estava homologada pela ANAC. Gasta o
tempo do leitor tentando explicar a disputa judicial pelo valor da
desapropriação das terras do tio, como se isso fosse o mais relevante num
caso de patrimonialismo escancarado. De quebra, confessa que, “por
escrúpulo”, negou à população da paupérrima Montezuma o direito a uma
estrada asfaltada, mas distraidamente deixou asfaltar uma pista de pouso que
serve a ele e ao latifúndio de sua família no município. É comovente, mas voa
longe da verdade.
Levando em conta a entrevista do candidato ao Jornal
Nacional, as duas notas
de sua assessoria e o artigo na Folha, o foco desse caso continua
sendo: Aécio Mente.
1) Ele disse que era uma pista de terra que foi reformada. Falso.
É só ver o edital
para construção e conferir a transformação
da área pelo Google Earth. Foi feita uma pista novinha, de 14 milhões,
sem aproveitar necas da velha.
2) Ele disse que seu governo fez mais de 30
aeroportos no interior. Falso. Ele fez dois: o da Zona da Mata e o de Cláudio. E
8 reformas, de 14 anunciadas.
3) Ele disse que Cláudio é um pólo com mais
de 300 indústrias, produzindo para exportar. Falso. Claudio
tem hoje 63 fundições de ferro e alumínio. É responsável por
0,002% das exportações do país.
4) Ele disse que a obra foi decidida por critérios técnicos.
Quais, numa cidade de 28 mil habitantes, localizada a menos de 70 quilômetros
de dois aeroportos regionais?
5) Ele disse que o aeroporto não beneficia a família. Falso,
por óbvio. O que é melhor: ter uma fazenda perto ou distante da rodovia? Perto
ou distante de um aeroporto? Com um aeroporto dentro (a cerca só isola o
aeroporto da rodovia, não da fazenda), melhor ainda, não é? O valor da
desapropriação é troco perto da valorização das terras.
6) Ele levou onze dias para admitir o que todos
desconfiavam: usou, sim, a pista. O nome mais suave para esse comportamento é
dissimulação.
Aproveito para comentar uma pergunta que ronda a cabeça de
muita gente:
Por que a Folha publicou a matéria do Aecioporto?
1) Porque a imprensa brasileira vive sua maior crise de
credibilidade desde o êxito da Copa. Atolou-se na pauta da oposição e precisa
mostrar alguma independência ao público lesado. O custo-benefício da operação
favorece o jornal, que não vai trocar de candidato.
2) Porque a FSP sempre agiu assim: eventualmente bate em um
aliado, mas não abre mão de cobrir o PT de forma sistematicamente crítica.
Essa é a diferença de tratamento, disfarçada por matérias pontuais para
sustentar suposta “isenção”.
3) Porque precisa dizer ao seu candidato (a quem
considera o futuro presidente) que a FSP não é o Estado de Minas: “Tu és nosso,
mas não somos tua”. É um chega pra lá preventivo em dona Andréa Neves. Só
quem pode mandar na Folha é o Serra, que por sinal também deve ter
sido surpreendido, pois a pauta veio de Minas.
4) Porque pretendeu fazer uma operação cirúrgica sobre um
tema explosivo. Deu manchete no impresso, mas escondeu o caso na
home do UOL, que é a verdadeira metralhadora da casa. Manteve o assunto em
pauta, mas não foi a Montezuma. O editorial ambivalente de domingo
é apenas isso: um editorial ambivalente.
O PT pode esperar por pancadaria brava daqui em diante,
mas ficou no direito de reivindicar isonomia: o espaço que a FSP e o Jornal
Nacional deram para Aécio Neves se defender é maior do que tudo que já se deu
aos petistas acusados de qualquer coisa nos últimos tempos.
Um comentário:
Olha a cara dele! Se um filho meu chegasse assim em casa eu internava.
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