Com o país ainda em estado de choque em decorrência da morte do
candidato Eduardo Campos (PSB), maior tragédia registrada numa campanha
eleitoral e na história de uma eleição nacional, o mundo político de
luto ainda se refaz, mas é uma questão de dias — daqui 9 dias no
máximo, que é o que determina a legislação eleitoral — e o PSB deverá
lançar a candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência da
República.
No novo quadro político, mudado de forma radical com a tragédia que
levou um dos mais promissores políticos da nova geração, o PSB não tem
outra alternativa a não ser transformar Marina em candidata ao Planalto.
Ela é a substituta natural. Não foi candidata a presidenta quando
fechou a parceria com o PSB dia 4 de outubro do ano passado porque a
vaga já estava ocupada por Eduardo Campos, mas torna-se candidata agora
pela fatalidade.
Apesar do recall de votos com que aparece em todas as pesquisas em que
entrou o nome dela, resultado dos 20 milhões de votos que obteve como
candidata ao Planalto em 2010, Marina não tem, no entanto, um caminho
róseo, uma estrada fácil a percorrer pela frente como candidata.
Incógnita é como Marina vai superar resistências
Ela enfrenta — sempre enfrentou — resistências no PSB, que a aceitou
lá, mas a encarava, como diziam expoentes do partido ontem, apenas como
parceira de um “casamento de conveniência”. E enfrenta resistência,
também, de todo o vasto leque conservador brasileiro, dos ruralistas, do
agronegócio, do mercado, de tudo o que está à direita. Não bastasse
isso, terá de administrar resistência de grande parte da esquerda,
também, que a vê como pouco pragmática e muito fundamentalista. Como ela
vai enfrentar e superar isso tudo é a pergunta.
Além do mais, encontra um quadro fechado de alianças, coligações no
Brasil inteiro, Estado a Estado, patrocinado por Eduardo Campos e ao
qual ela foi contra — a começar por São Paulo, o Estado que decide a
eleição e no qual o PSB está coligado (como sempre e há 20 anos) com os
tucanos.
Dá até o candidato a vice-governador na chapa da tentativa de reeleição
de Geraldo Alckmin, o deputado Márcio França (PSB-SP). Sem contar
Pernambuco, único Estado até agora onde o PSB tem chances reais de
vencer o pleito, e embora tenha candidato próprio a governador, está
coligado também com o PSDB. E por ai vai, Estado por Estado…
Quadro eleitoral Estado a Estado não é do gosto da candidata
Ela vai querer ou vai conseguir desmontar tudo isso a 53 dias da
eleição? Tem até a questão da legislação. Já estão fechados os prazos de
registro de candidaturas, salvo essa exceção em que ela entra,
decorrência da morte do candidato a presidente.
A candidatura Marina, no entanto, mesmo com todas essas incógnitas é
uma questão de tempo, ou melhor, de dias. Outra opção o PSB não tem. Há a
possibilidade, ainda em aberto, de uma adesão do pessoal do PSB e
orfão da candidatura Campos à reeleição da presidenta Dilma Rousseff, ou
ao candidato tucano, Aécio Neves.
Mas aí, acaba a chamada 3ª via. E o PSB nem tem jeito de resistir muito
a Marina e rejeitá-la como candidata a presidente, porque se não, é
como pergunta o articulista Elio Gaspari, qual o sentido de tê-la
aceitado lá, e de vice? Eles tem 10 dias para registrar o novo
candidato(a).
Pesquisas podem ser decisivas na definição da candidatura
É preciso lembrar, também, que nessa definição da candidatura
substituta à de Eduardo Campos terá imenso peso a pesquisa Datafolha (e
outras que surgirem essa semana) que o Instituto Datafolha registrou
na justiça eleitoral e que já começa a fazer hoje e amanhã até a noite.
O jornal anuncia que a pesquisa já será feita com Marina como candidata
(e sem ela candidata).
E candidato a vice-presidente? De expressão? Eles não tem. Não nos
quadros do PSB, da Rede Sustentabilidade e dos partidos aliados (eles
tem poucos). Anunciam-se as primeiras mudanças nas estratégias de
campanha dos outros dois adversários, Aécio e Dilma. Os tucanos são os
mais preocupados.
Uma superexposição de Marina, agora, em função da candidatura a
presidente e na esteira da tragédia da morte de Eduardo Campos pode
derrubar facilmente o senador Aécio Neves do 2º lugar na disputa. E aí,
se ele não correr e não conseguir se recuperar, alijá-lo de vez do 2º
turno. O que o anima é que no trio de principais aspirantes ao Planalto
ele é, agora, mais do que nunca, o candidato dos conservadores. A ver,
então, o que a direita fará para não perder com ele.
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