Eleições no Brasil: Marina Silva e a CIA-EUA é “caso”
antigo
12/9/2014, [*]
Nil Nikandrov, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Marina Silva é atual candidata do Partido Socialista à
presidência do Brasil. Em meados dos anos 1980s, ela já atraíra a atenção
da CIA, quando frequentava a Universidade do Acre. Naquele momento,
estudava marxismo e tornara-se membro do Partido Comunista Revolucionário,
clandestino. Durou pouco aquele “compromisso”: ela rapidamente se transferiu
para a “proteção do meio ambiente’ na Região Amazônica. Os serviços especiais
dos EUA sempre tiveram interesse muito especial naquela parte do continente, na
esperança de construírem meios para controlar a área no caso de emergência
geopolítica.
A CIA fez contato com Marina Silva. Não por
acaso, em 1985 ela alistou-se no Partido dos Trabalhadores (PT), o que lhe
abriu novas possibilidades de crescimento político.
Em 1994, Marina Silva foi eleita para o senado brasileiro,
com fama de ativista apaixonada a favor da proteção ao meio ambiente. Foi quando
começaram a circular informações sobre laços entre Marina Silva e a CIA.
Em 1996, ela recebeu o Goldman Environmental Prize. [1]E recebeu inúmeras outras
importantes condecorações: é praxe, quando se trata de “candidatos” que a CIA tem
interesse em promover, que o “candidato” seja coberto de medalhas e
condecorações.
Marina Silva serviu como Ministra do gabinete do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva até que, interessada em”‘voos mais altos” e, preterida,
ela abandonou o Partido dos Trabalhadores e mudou-se para o Partido Verde, de
início dedicada a protestar contra políticas ambientais apoiadas pelo PT. Foi
realmente um choque, na política brasileira, que a ex-ministra tenha mudado tão
completamente de lado, depois de quase 30 anos de atividade a favor do Partido
dos Trabalhadores.
Nas eleições de 2010, a candidata da CIA obteve
quase 20 milhões de votos, como candidata do Partido Verde; na sequência, para
as eleições de 2014, aceitou lugar na chapa de Campos, como vice-presidenta,
quando fracassaram seus esforços para criar seu “não partido”, mas “rede”,
chamada “Sustentabilidade”. Dilma Rousseff, candidata do PT contra a qual se
alinhavam já em 2010 todas as demais candidaturas, trazia planos para dar
continuação às políticas independentes do presidente Lula. Nada disso
interessava a Washington em 2010, como tampouco interessa hoje, em 2014.
Daquele momento até hoje, as relações entre Brasil e EUA só
fizeram piorar, resultado do escândalo da espionagem & escutas
clandestinas. A Agência de Segurança Nacional dos EUA espionou a presidenta
Dilma Rousseff e membros de seu gabinete. A presidenta brasileira chegou a
cancelar visita oficial que faria aos EUA, como sinal de protesto. Os EUA
jamais apresentaram pedido de desculpas ou comprometeram-se a pôr fim às
atividades de espionagem. A presidenta Dilma, então, agiu: denunciou as
atividades da Agência de Segurança Nacional e da CIA dos EUA
na América Latina e tomou medidas para aumentar a segurança nas comunicações e
controle sobre representantes dos EUA ativos no Brasil. Obama não gostou.
As eleições presidenciais no Brasil estão marcadas para 5 de
outubro de 2014. E Washington está decidida a fazer de Dilma Rousseff
presidenta de mandato único. Não há dúvida alguma de que os serviços especiais
já iniciaram campanha para livrar-se da atual governante brasileira. Começaram
a agir com movimentos de protesto ditos “espontâneos”, que encheram algumas
ruas e foram amplamente “repercutidos” na imprensa-empresa, nos quais os
“manifestantes” pedem mudanças (aparentemente, qualquer uma, desde que implique
“mudança de regime”) e o fim das “velhas políticas” [de fato, nenhuma
política é ou algum dia será “mais velha” que o golpismo orquestrado pela CIA
no Brasil e em toda a América Latina (NTs)]. Ouviram-se grupos de
jovens em protestos contra a propaganda e os símbolos dos partidos políticos,
especialmente do PT.
Não se sabe até hoje de onde surgiram os recursos com os
quais Marina Silva começou a organizar sua “rede” Sustentabilidade. A nova
“organização” visava a substituir os partidos tradicionais, que a candidata
declarou “velhos”. Tendo obtido 19 milhões de votos, o que lhe valeu o 3º lugar
nas eleições passadas, ela contudo não conseguiu cumprir todas as exigências
legais para criar oficialmente sua nova “rede”. Até que a tragédia que matou
Eduardo Campos e seis outras pessoas, perto de São Paulo, mês passado, deu a
Marina Silva uma surpreendente segunda chance para tentar chegar à presidência
do Brasil. Para conseguir ser a primeira mulher mestiça a chegar à presidência
do Brasil, terá de derrotar a primeira mulher que chegou lá antes dela, Dilma
Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, PT; além o candidato Aécio Neves do
PSDB, partido pró-business, que hoje amarga um 3º lugar nas pesquisas. A
Casa Branca tem-se sentido frustrada.
Dia 13 de agosto de 2014, a campanha eleitoral
presidencial no Brasil foi lançada em área de incerteza, quando um
jato que conduzia o candidato do partido socialista, Eduardo Campos,
tombou sobre bairro residencial de Santos, próximo de São Paulo. Morreram o
candidato e seis outras pessoas, passageiros e da tripulação, no acidente que
pode ter acontecido por causa do mau tempo, quando o Cessna preparava-se para
pousar. As mortes geraram uma onda de comoção nacional, que provavelmente
evoluirá para especulações sobre o efeito que terão nas eleições do próximo 5
de outubro de 2014. A presidenta Rousseff declarou três dias de luto
oficial por Campos, ex-ministro do governo do presidente Lula. A aeronave
passara por manutenção técnica regular e nenhum problema foi detectado. De
estranho, só, que o gravador de vozes da cabine do avião não estava operando, o
que gerou suspeitas. O gravador operara normalmente e gravara várias
conversações na cabine, mas nada gravou no dia da tragédia. O avião já passara
por vários proprietários (empresários norte-americanos e brasileiros,
representantes de empresas de reputação duvidosa), antes de chegar à campanha
dos candidatos Eduardo Campos e Marina Silva.
Para alguns comentaristas brasileiros e dos EUA, há forte
probabilidade de que tenha havido um atentado, que resultou no
assassinato de Eduardo Campos. Antes da tragédia, o avião foi usado pela
agência antidrogas dos EUA, Drug Enforcement Administration (DEA).
Enviados de antigos proprietários do avião tiveram acesso ao local do acidente,
sob os mais diferentes pretextos. Difícil não conjecturar se teria havido
agentes dos EUA por trás da tragédia. Mas ainda não se sabe exatamente
sequer o que aconteceu. Saber quem fez, se algo
foi feito, demorará ainda mais.
O avião decolou do Rio de Janeiro, onde opera uma estação
da CIA, em território do consulado dos EUA. Não há dúvidas de que
aquele escritório é usado pela Agência. Talvez os serviços especiais do Brasil
devessem dar atenção especial a personagens que rapidamente deixaram o país,
imediatamente depois da tragédia em Santos. A morte de Eduardo Campos teve
efeito instantâneo sobre a candidatura do Partido Socialista: Eduardo Campos
jamais passara dos 9-10% de preferência nas pesquisas, mas Marina Silva rapidamente
surgiu com 34-35%, na votação em primeiro turno. Agora, se prevê que a eleição
seja levada para o segundo turno.
O principal problema de Marina Silva é que é sempre difícil
entender quais seriam suas reais intenções e projetos. É uma espécie de
“imprecisão” que se observa constantemente no discurso de candidatos promovidos
pelos EUA. Marina Silva mudou de lado, sempre muito dramaticamente,
inúmeras vezes. Ao unir-se a Eduardo Campos, por exemplo, a candidata várias
vezes se manifestou a favor de manter bem longe do Brasil as ideias de Chavez
(Hugo Chavez – falecido presidente da Venezuela, conhecido pelas convicções socialistas
e políticas de esquerda). Mas ela serviu ao governo do presidente Lula,
conhecido e muito respeitado defensor do chavismo. (...)
De fato, ao tempo em que a campanha avança e as eleições
aproximam-se, Marina Silva vai-se tornando cada vez mais neoliberal. Já disse
que não vê sentido em fazer dos BRICS um centro de poder multipolar, nem em
apressar a implementação de medidas já decididas dentro do bloco, como criar um
banco de desenvolvimento, um fundo de reserva, etc. Já manifestou “dúvidas”
sobre o Conselho Sul-Americano de Defesa, e diz, em discussões com assessores
íntimos, que quer dar menos atenção ao MERCOSUL e à UNASUL (União das Nações
Sul-Americanas, união intergovernamental em que se integram duas uniões
aduaneiras, o MERCOSUL e a Comunidade de Nações Andinas, como parte do processo
de integração sul-americana). Para Marina Silva, mais importante é desenvolver
relações bilaterais com os EUA.
Fato é que os brasileiros estão já habituados a quase 20
anos de progresso social no país, com os governos do presidente Lula e da
presidenta Rousseff. A população é ouvida, as reformas acontecem, o que foi
prometido está sendo construído, o Brasil vive tempos de estabilidade e de
avanços.
Se Marina Silva chegar à presidência (George Soros, magnata
norte-americano, investidor e filantropo, tem alimentado a campanha dela com
quantidade significativa de fundos), deve-se contar com o fim de vários
programas sociais e políticos, o que pode vir a gerar grave descontentamento
popular. Há quem diga que os escritórios dos EUA no Brasil estão repletos de
agentes dos serviços especiais, encarregados de “gerar” “protestos” naquele
país.
Nota dos tradutores:
[1] Conheça o “Goldman
Environmental Prize”; além de Marina Silva, outro brasileiro recebeu
esse prêmio, um “Carlos Alberto Ricardo”, fundador da ONG “Instituto
Socioambiental”, em 1992.
___________________
[*] Nil Nikandrov é
um jornalista sediado em Moscou cobrindo a política da América Latina e suas
relações com os EUA; crítico ferrenho das administrações neoliberais sobre
as economias nacionais latino-americanas. Especializou-se em desmascarar os
esforços feitos pela CIA e outros serviços de inteligência ocidentais para
minar governos progressistas na América Latina. Autor de vários livros - tanto
de ficção e estudos documentais - dedicados a temas latino-americanos,
incluindo a primeira biografia em língua russa de Hugo Chávez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário