O país hoje se reinventa, apostando em projeto de desenvolvimento
melhor para o conjunto do seu povo. A compreensão deste momento é tarefa
de quem acredita que o Brasil pode e merece mais
Desde a irrupção da crise de dimensão global em 2008, acreditou-se que a
hegemonia do pensamento único imposto pelo neoliberalismo estaria com
os seus dias contatos. Ledo engano. Seis anos depois, constata-se que
somente duas regiões (Ásia e América Latina) e alguns países não se
encontram alinhados com o receituário econômico e social neoliberal
anglo-saxônico.
Em certa medida, as experiências atuais dos governos pós-neoliberais
possibilitam ensaiar a construção das bases do desenvolvimento num novo
mundo multipolar, ao contrário da perspectiva unipolar reinante nos
Estados Unidos, após o desaparecimento da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS) no final da década de 1980. Nesse sentido,
a evolução dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem
apontado para a formação de um sistema monetário e financeiro favorável
ao desenvolvimento, alternativo ao quadro internacional desolador da
desregulação competitiva.
Isso, contudo, exerce enorme tensão e pressão sobre os governos dos
países que soberanamente buscam construir caminhos próprios para o
enfrentamento simultâneo dos problemas de seus povos e do mundo, com
maior justiça social. Exemplos disso não faltam hoje em dia no Brasil,
que tem registrado resultados muito satisfatórios, sobretudo se
comparado às nações assentadas nas políticas neoliberais.
Entre 2008 e 2013, o Brasil obteve a criação de 11 milhões de empregos
formais. Para o mesmo período de tempo, segundo a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), o mundo registrou a destruição de 62
milhões de postos de trabalho. De acordo com a Organização das Nações
Unidas (ONU), o Brasil vai conseguindo – como poucos países no mundo –
reduzir a pobreza e a bárbara desigualdade de renda. Nas economias
submetidas às orientações do receituário neoliberal, o quadro tem sido
desolador, com rebaixamento dos direitos sociais e do trabalho, em meio
ao maior desemprego, pobreza e concentração de renda.
Continuar nessa perspectiva não será simples, como permite observar a
complexidade atual da condução da economia brasileira. O gradualismo
adotado no conjunto das medidas de transição econômica para um novo
modelo produtivo com justiça social exige apoio popular e uma maioria
política engajada no desbravamento do caminho próprio do país.
As críticas ao projeto em curso buscam oferecer o paraíso, sem
apresentar o caminho a ser seguido. Implicitamente, defendem que o
combate à inflação deveria se dar com a elevação drástica na taxa de
juros e a valorização cambial, permitindo que o tarifaço a ser cedido
pela elevação do preço do petróleo, da energia elétrica e outros preços
básicos da economia se completasse como uma terapia do choque. Ao mesmo
tempo, o corte nos gastos públicos, com a suspensão dos concursos, a
promoção do arrocho salarial no funcionalismo e o menor recurso para as
áreas sociais e de investimento completassem o ajuste fiscal
aprofundado.
Em síntese, a recessão como meio de contenção do tamanho do mercado de
trabalho, provocando aumento do desemprego e o rebaixamento do nível de
remuneração. Esse filme – é verdade – já passou nos anos 1990 no Brasil,
quando a base da pirâmide social foi a que pagou pelo custo do ajuste
econômico, sem sucesso sustentável no tempo.
Na Grande Depressão de 1929, o Brasil foi um dos primeiros países que
mais rápido recuperou a sua economia e perseguiu um novo modelo de
desenvolvimento nacional. Mesmo assim, a década de 1930 foi repleta de
críticas daqueles que não aceitavam o caminho próprio construído pelo
país a partir de então. O país hoje, guardada a devida proporção, se
reinventa, apostando em projeto de desenvolvimento melhor para o
conjunto do seu povo, não obstante as contradições que apresenta. A
compreensão deste momento constitui tarefa substancial de todos aqueles
que acreditam que o Brasil pode e merece muito mais, não menos.
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