Estudo feito com pessoas de 18 a 24 anos revela que a geração atual pensa no coletivo e sonha com o fim da violência e corrupção
Foto: Getty Images
Brasil possui 25 milhões de jovens entre 18 e 24 anos. Desta faixa, 76% acreditam que o país está mudando para melhor
A cara da nova geração
Mas, se o país vai bem, qual é a cara da juventude, associada normalmente a movimentos de ruptura? No passado, ela enfrentava realidades distintas. Nos anos 1960, o jovem tinha sonhos grandiosos e utópicos. A geração seguinte possuía sonhos possíveis, porém individualizados. A atual tem desejos alcançáveis e quase sempre focados no coletivo. Desses jovens, por exemplo, 77% acreditam que o seu próprio bem-estar depende da satisfação da sociedade em que vive. “É dever do cidadão pensar no coletivo”, afirma o estudante Felipe Gonçalves Guimarães, de 18 anos.
A pesquisa, antes mesmo de constatar o otimismo com o país, provocou os jovens a refletirem sobre os anseios pessoais. Assim como Felipe, cujo maior sonho é ser bem-sucedido nos cursos de Cinema e Publicidade e Propaganda, a maioria, 55%, cita como primeira opção o desejo de se formar e conseguir emprego. Outros 24% logo escolhem alcançar o trabalho dos sonhos. Mais uma constatação dos pesquisadores é a de que essas pessoas querem fazer aquilo que gostam e não pensam apenas no dinheiro. Roberto Moreira Lage Júnior, de 20 anos, estuda direito, mas coloca a vontade de se sentir realizado profissionalmente na frente da estabilidade financeira. “Fazer o que dá dinheiro, mas não dá prazer, pode vir a se tornar insuportável”, acredita.
Esse pensamento é compartilhado por Gabriel Vasques, 18 anos, que afirma categoricamente: “Meu maior sonho é conseguir viver de música”. Para ele, a realização pessoal é o mais importante. “Estou colocando como prioridade aquilo que gosto, não faço questão de um salário absurdo para me sentir realizado”, acrescenta. O que a pesquisa mostra é que essa geração não nega questões como dinheiro e estabilidade, mas a diferença é que não se contenta só com isso e quer unir a realização pessoal com a profissão dos sonhos. “Fazer o que gosta, mas não ter condições de sobreviver, também não é possível”, pondera Roberto. A percepção é de que os profissionais mais admirados são os que conseguem aliar trabalho e felicidade.
Sonhos para o Brasil
Quando o tema em pauta é o país, e não o indivíduo, 18% sonham com menos violência, seguido pelos 13% que citam a necessidade de menos corrupção. Gabriel se encaixa nesse quadro e acredita que o desvio de verba pública acontece em quantidade absurda e deseja a diminuição dessa realidade. Para mudar o que está errado, o estudo aponta o próprio jovem como catalisador do progresso, isso porque historicamente essa faixa de idade busca ampliar suas liberdades de escolha e expressão ao revolucionar costumes.
Dentro do grupo pesquisado, 56% acreditam que a transformação será alcançada agindo com honestidade no dia a dia, e outros 30% por meio das oportunidades que o Brasil oferece. Todo o otimismo em relação à nação surge com os 87% que acham o país importante no mundo atual. O curioso é que o jovem acredita no Brasil, mas não atribui o progresso a nenhum partido político. A pesquisa mostrou que eles, além de apontarem os problemas, já enxergam as maneiras pelas quais podem atuar pela mudança, que parte do desejo individual para alcançar o coletivo.
O diferencial para qualquer outro tempo é a maneira pela qual essas manifestações começaram, o que reflete o novo jeito de se relacionar. Por isso, são considerados a primeira geração global de brasileiros. Eles não veem barreiras na comunicação e enxergam a tecnologia como espaço para trocas sem limites físicos ou sociais, assim seus anseios pessoais são expostos em rede e outras pessoas se identificam e começam a se mobilizar. Essa característica é definida pelo projeto Sonho Brasileiro como hiperconexão. “A internet é, hoje em dia, o meio de comunicação que mais influencia os jovens, o papel dela é primordial”, salienta Gabriel.
Os jovens-ponte
De acordo com a pesquisa, os jovens-ponte são os formadores de opinião e equivalem a 8% das pessoas entre 18 e 24 anos. São dois milhões de brasileiros nessa condição. E o principal diferencial é que eles convivem com grupos bastante distintos e levam o que aprendem de um para o outro, redistribuindo os pensamentos e conectando pessoas que não se falariam espontaneamente. O projeto as define como catalisadores de ideias.
Outra característica é que essas pessoas não aceitam discursos preconceituosos, porque acreditam que essa ponte deve ser feita entre diferentes realidades. Como esse jovem transita por muito mais grupos do que a média, age por múltiplas causas, está aberto a trocas e não defende bandeiras unidimensionais. Felipe, que se relaciona com mais de seis grupos, acredita que se encaixa nesse perfil. “Quando converso sobre política, por exemplo, sempre tento mostrar os dois lados.”
Segundo o estudo, a geração atual é menos individualista e está cansada de hierarquia. Não à toa, 74% afirmam se sentir na obrigação de fazer algo pelo coletivo no seu dia a dia e a profissão dos sonhos mais citada foi “ser dono do próprio negócio”. Seus anseios estão mais alcançáveis por acreditarem em pequenas revoluções no dia a dia. Todo esse processo é exemplificado pela simples frase de Gabriel: “A juventude e a mudança estão ligadas.”
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