Para
se compreender a gênese do processo de propaganda e contrapropaganda é
bom se entender um pouco da formação do novo testamento. Os judeus
provavelmente tenham sido o povo que primeiro usaram o espírito da ideia
de que "a propaganda é a alma do negócio".
A
bíblia, ainda hoje, é a peça de propaganda de maior sucesso da história
da humanidade, nem mesmo Hollywood foi tão eficaz em disseminar os
valores, costumes e moral de um povo.
No
estudo deste processo é preciso voltar ao século primeiro depois de
cristo, uma época em que o poder militar do império romano sufocava todo
mundo ocidental: oriente baixo (Síria e Turquia), gauleses, britânicos,
gregos, egipicios e judeus. Aos romanos não bastava a conquista, era
necessário submeter e humilhar os conquistados. Emblemático desta
situação eram as estátuas erigidas pelos romanos nos centros de suas
conquistas, como a clássica estátua de um poderoso guerreiro,
representando Roma, submetendo uma fêmea frágil que representava o
conquistado. Diante do avassalador poderio militar romano restava aos
conquistados apenas o lento processo de propaganda anti-romana, e,
provavelmente, os melhores propagandistas da época foram os judeus.
A
maior peça de propaganda anti-romana foi o livro da revelação ou o
livro do apocalipse de João (não o apóstolo). No ano de 66 d.c. houve
uma sublevação na Judeia que foi reprimida com enorme crueldade e
violência pelas tropas do imperador Nero. Entre os poucos judeus que
escaparam do massacre estava o profeta João que se exilou no oriente
baixo, provavelmente Turquia. Em conjunto com turcos, gregos e sírios,
João iniciou a criação de documentos apócrifos que tinham como motivação
a propaganda anti-romana.
O
apocalipse surge de uma ideia radical. Os livros da revelação tinham
origem egípcia e babilônica e a finalidade era fundamentar o divino na
nova era, João, o profeta judeu, admite a impossibilidade dos povos
conquistados em suplantar Roma no plano militar e passa a pregar o fim
do mundo e o surgimento do reino de Cristo, numa alusão à queda do
império romano. Simbolismos e arquétipos persistentes até os dias de
hoje, como o número 666 o da "besta", tem origem no apocalipse e são
alusão ao ano de 66 d.c. e a "besta" não seria outro senão Nero. Rogar
pragas já fazia muito sucesso naquela época e há passagens
particularmente terríveis no Apocalipse que dão uma noção da angústia e
da vontade de vingança dos povos conquistados, como a passagem onde João
anuncia o retorno de Cristo que acorrentaria a "besta" (Nero) e o
aprisionaria num lago de angústias e aflições por milhares de anos.
O
sucesso dos panfletos apócrifos é tamanho que por volta de 312 d.c. o
imperador Constantino deixa de confrontar o cristianismo diretamente e
inventa a contrapropaganda.
Assume
o cristianismo como religião oficial do império, cria a igreja católica
com sede em Roma. A igreja católica passa, então, a ser o órgão oficial
de censura aos panfletos apócrifos. Com a edição de seus canônes, a
igreja católica determina quais documentos apócrifos podem ser
publicados. Não seria exagero imaginar que o novo testamento não passa
de uma resenha dos documentos autorizados pelo império romano através da
sua igreja, já que nem mesmo os próprios judeus jamais assumiram o
cristianismo e a bíblia hebraica ainda é uma peça sectária do
ortodoxismo judeu .
Aspectos
deste processo de propaganda e contraproganda podem ser reconhecidos na
mídia contemporânea. Um estudo detalhado tem sido realizado pela
professora de religião da universidade de Priceton, Elaine Pagels. Neste site (em inglês), Elaine oferece uma panorâmica do livro da revelação do profeta João.
Nenhum comentário:
Postar um comentário