Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho
“Deixando para o próximo papa uma igreja
dividida e um balaio de problemas, que vão dos escândalos de pedofilia abafados
por cardeais, a negócios escusos flagrados no Banco do Vaticano e o roubo de
documentos pessoais que se tornaram públicos, Bento 16 encerrou nesta
quinta-feira (28) os oito anos de seu melancólico pontificado.
No ritual do "beija-mão" do qual
participaram cerca de cem cardeais, o ainda papa Bento 16 resumiu assim seu
trabalho como chefe da Igreja Católica: "Nesses oito anos, vivemos com fé
momentos belíssimos de luz radiosa no caminho da igreja, junto a momentos em
que algumas nuvens se adensaram no céu".
Como tem feito em todas as suas aparições
públicas desde que anunciou a sua renúncia em meio ao Carnaval, Bento 16 não
explicou quais foram os momentos de luz nem a que nuvens ele se refere,
"em que o Senhor parecia estar adormecido", como disse no dia
anterior em sua derradeira aparição pública na praça de São Pedro, diante de
150 mil fiéis.
O fato é que ele passou suas últimas
semanas no trono de São Pedro se queixando das dificuldades que enfrentou na
vida de papa, não vendo a hora de se retirar para o palácio de Castel Gandolfo,
onde passará os próximos dois meses, enquanto não são concluídas as reformas do
convento que escolheu para morar dentro do Vaticano.
Ficam para trás três encíclicas, quatro
exortações apostólicas, a nomeação de 83 cardeais e 53 viagens, mais da metade
dentro da Itália _ nada que tenha mudado os rumos da igreja, mas apenas
reafirmado velhos dogmas.
"Prometo minha incondicional
obediência e reverência ao futuro papa", disse Bento 16, ao final do
encontro com os cardeais reunidos para lhe dar adeus na Sala Clementina, em seu
último dia de um papado que não deixará saudades. Melhor assim.
Afinal, pela primeira vez em mais de dois
mil anos de história, teremos um papa e um ex-papa convivendo na minúscula
Cidade do Vaticano.
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