Congresso de fundação da CUT - S. B. do Campo/SP - 1983 |
Lula
pede atuação unificada da comunicação sindical para garantir autonomia perante
a velha mídia
Com
a presença de todos seus ex-presidentes, de prefeitos, ex-ministros e de Lula,
a Central Única dos Trabalhadores deu início à comemoração dos 30 anos em
reunião da direção nacional na manhã desta quarta-feira (27), em São Paulo
São Paulo/SP - Um
dos fundadores da maior entidade sindical da América Latina, Lula falou sobre o
papel da CUT na redemocratização do Brasil, na ampliação de direitos e citou a
importância de a comunicação atuar de maneira articulada para vencer o bloqueio
da mídia conservadora.
“Não
vivo reclamando do espaço que me dão, agora eu reclamo do que falta fazer para
ter o espaço que quero, independente deles”, afirmou Lula, referindo-se aos
veículos da velha mídia. Segundo ele, o movimento sindical produz muito, mas de
maneira desarticulada.
“Temos
uma arma poderosa e totalmente desorganizada. Temos que mapear a quantidade de
panfletos, jornais, revistas rádios e sites que já existem. Por que a gente não
organiza o nosso espaço, porque não começa a organizar a nossa mídia, porque
não tentamos organizar um pensamento mais coletivo, unitário? Temos condição de
fazer isso e o movimento vai precisar. Não temos que pedir favor”, definiu.
Sem
pedir licença
Lula
lembrou que a criação da Central foi um ato de ousadia e desobediência e que o
“radicalismo” não pode perder espaço.
“Quando
a CUT foi fundada, diziam que era muito radical, mas era necessário ser radical
para ser firmar. Porque as pessoas não convidavam a gente para a festa deles,
precisávamos falar grosso para as pessoas deixarem subirmos um degrau. A CUT
não pode perder radicalidade e isso não significa ser sempre do contra, mas,
que no final do ano tenha cesta de acúmulo da classe trabalhadora. A “peãozada”
espera de vocês, seja numa escola, num banco, numa repartição pública, que
conquistem para eles o que precisam e o que querem, não apenas o discurso”,
lembrou.
Para
ele, é necessário imaginar um país sem a Central para ter a noção da sua
importância.
“Não
é pouca coisa num Brasil com tão pouco experiência democrática uma central
completar 30 anos. Estamos vivendo o mais longo período democrático. Se
pegarmos a constituinte, são 25 anos. Fomos construindo a CUT com gestos,
atitudes e quase 100% das nossas ações contrariavam a legislação sindical
vigente, quase uma cópia da Carta del Lavoro, de Mussolini. Fomos fazendo as coisas sem pedir licença,
arrancando pedacinho por pedacinho sem pedir licença. Inclusive aqueles que
saíram da CUT por crítica teriam que avaliar se conseguiríamos o que
conseguimos sem a CUT, não apenas a conquista material, um aumento de salário,
horas a mais ou menos, mas o alto grau concentração política que a Central
conseguiu imprimir à classe trabalhadora.”
Referindo-se
ao presidente da Central, Vagner Freitas, Lula comentou que acredita num
mandato exitoso por conta da disposição do governo em atender as tratativas dos
trabalhadores e porque, acredita, a economia brasileira e a massa salarial vai
continuar crescendo, “apesar dos que torcem para dar errado."
De
olho no futuro, o ex-presidente afirmou que a entidade deve estar sempre
preocupada em investir na inovação de pensamento, da pauta de reivindicação e,
principalmente, não esquecer nunca de manter-se em seu lugar.
“A
direção nacional tem que viajar esse país, que é muito desigual, nós temos muitos
“brasis”. Façam reuniões que tiverem que fazer, a luta interna que tiverem de
fazer. Mas, que sempre ao final vá para a rua. O lugar da CUT é nas ruas.”
Comunicação
é prioridade
Presidente
Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Falcão, lembrou lutas
históricas comandadas pela CUT: as greves gerais contra o arrocho salarial e
planos econômicos, contra as políticas neoliberais e as privatizações de Collor
e FHC – e pelo impechment do primeiro –, a defesa da reforma agrária por meio
de mobilizações como o Grito da Terra, na década de 1990, e as marchas que
resultaram na política de valorização permanente do salário mínimo,
contribuindo para tirar milhões de brasileiros da pobreza.
O
dirigente citou ainda as prioridades do partido para o próximo período, temas
que também integram a agenda de lutas da CUT: a reforma política e a
democratização da comunicação.
Haverá
uma coleta de assinaturas para uma emenda popular legislativa a favor do
financiamento público de campanha, das listas partidárias, para a ampliação do
espaço da mulher na política e da participação do povo nos espaços de decisão
do governo.
No
caso da comunicação, Falcão lembrou que o PT integra a campanha encabeçada pelo
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), do qual a CUT faz
parte, que também luta por uma emenda popular legislativa pela democratização
dos meios de comunicação, um dos eixos estratégicos do Congresso Nacional da
Central (CONCUT), em 1991.
“Vamos
percorrer o país com Lula e Dilma para debater com população o que significam
as transformações e conquistas da última década.”
Defasagem
de lideranças e institucionalização das conquistas
Para
o presidente da CUT, Vagner Freitas, o momento é propício para que a classe
trabalhadora amplie o espaço de atuação.
“O
capitalismo não se mostra capaz de resolver os problemas da humanidade. A crise
econômica demonstrou isso e as grandes lideranças do mundo estão perdidas,
incapazes de apresentarem alternativa. Chegou o momento de ocuparmos espaço de
protagonismo na conjuntura mundial. Temos condições de apresentar propostas e
ideias muito mais efetivas”, acredita.
Freitas
ressaltou também que a Central deve manter-se autônoma, mas, sem jamais deixar
de assumir posições.
“A
CUT é uma central independente, mas tem lado e é o do projeto que construiu um
país com justiça social nos últimos 10 anos, tirando trabalhadores da miséria.”
Secretário-Geral,
Sérgio Nobre, acrescentou que é preciso manter a relação com os partidos para
que as conquistas sejam institucionalizadas. “Precisamos transformar em lei
aquilo que conquistamos”, disse.
Homenagens
– O primeiro coordenador da Conclat, Avelino Ganzer, o primeiro secretário de
Imprensa e Divulgação, Gilmar Carneiro, a primeira mulher a coordenar um
CONCUT, Mônica Valente e a primeira mulher a ocupar uma secretária nacional,
Rosiver Pavan, foram homenageados. Funcionário mais antigo da CUT, Gilmar
Burgani também recebeu uma placa como agradecimento aos trabalhadores que
ajudaram a construir a história da Central.
Por
fim, todos os ex-presidentes – Jair Meneguelli, Vicentinho, Luiz Marinho, Kjeld
Jakobsen, João Felício, Artur Henrique – e o atual, Vagner Freitas, também
foram homenageados.
O
próximo palco das comemorações é, como pregou Lula, as ruas, no dia 6 de março,
em uma grande marcha por Brasília. (por Luiz Carvalho )
Fonte:
http://www.cut.org.br
...
*Nota:
Este Editor, à época funcionário da Cia Jornalística Caldas Júnior (trabalhava
então no Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre/RS), teve a honra de ser eleito
e de participar como delegado no
histórico Congresso - eleito pela base do Sindicato dos Gráficos de Porto
Alegre - tendo sido, portanto, um dos
fundadores da Central Única dos Trabalhadores, a nossa gloriosa CUT, que completa este ano 30
anos de existência, sempre com garra, lucidez, luta, compromisso e
determinação. (Júlio Garcia)
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