O esquema de autoproteção só foi vencido por uma multinacional
alemã, a Siemens, que tomou a decisão de pedir um acordo de leniência
Ainda é cedo para procurar equivalências entre o esquema financeiro que
deu origem ao mensalão petista e o esquema que está por trás dos
negócios sombrios que envolvem duas décadas de gestão tucana em São
Paulo.
O que já se pode assegurar é que em matéria de autoproteção o esquema tucano mostrou-se muito mais eficiente.
A blindagem tucana era tão bem sucedida que só foi vencida por uma
multinacional alemã, a Siemens, que tomou a decisão de pedir um acordo
de leniência junto às autoridades brasileiras, confessando duas décadas
de práticas condenáveis, apresentando nomes, cargos e endereços.
Foi essa iniciativa, que envolve uma das maiores empresas do mundo, que mudou a história.
As primeiras denuncias sobre o propinoduto tucano remetem a 1998 e, como
se vê, jamais foram apuradas nem investigadas como se deveria.
Adormeceram em inquéritos que não esclareceram todas as provas e
indícios. A imprensa nunca mostrou o mesmo apetite para explicar o que
acontecia.
Se há algo realmente novo a ser apurado hoje consiste em perguntar por
que havia tantos indícios e pouco se investigou, ao contrário do que se
fez no mensalão petista.
Num país que hoje debate até erros e possíveis abusos ocorridos no
julgamento do mensalão, que traiam a vontade de punir os acusados de
qualquer maneira, ninguém irá acusar o procurador Antônio Carlos
Fernandes, nem seu sucessor Roberto Gurgel nem o relator Joaquim Barbosa
de fazer corpo mole, certo?
A recíproca não é verdadeira.
Mesmo reportagens pioneiras sobre o propinoduto, como a de Gilberto
Nascimento, que em 2009 mostrou tanta coisa que hoje deixa tanta gente
boquiaberta em relação ao PSDB paulista, não causaram ruído nem
preocupação. Neste período, denuncias parciais sobre o caso entravam e
saíam dos jornais, de forma esporádica e superficial.
A situação se modificou quando ISTOÉ permaneceu duas semanas
consecutivas nas bancas, com duas capas dedicadas ao assunto. As
reportagens de Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sergio
Pardellas trouxeram revelações importantíssimas e consolidadas sobre as
entranhas do cartel de empresas que administrava o esquema.
ISTOÉ faz muito bem em lembrar, na edição que acaba de chega às bancas,
a existência de dezenas de inquéritos e investigações iniciadas e
encerradas sem maiores consequências. A revista mostra que ninguém pode
alegar que não sabia de nada.
O dado político é simples. Se o mensalão petista tivesse sido apurado e
investigado no mesmo ritmo do propinoduto tucano, que levou quinze anos
para ganhar a estatura atual, apenas em 2020 teríamos uma CPI para
ouvir as denúncias de Roberto Jefferson. Em vez de ser retirado à força
da Casa Civil, José Dirceu quem sabe tivesse sido promovido a candidato
presidencial, em 2010, e em 2013, como sonhavam tantos petistas, pudesse
estar sentado na cadeira de Dilma Rousseff. Ou talvez Lula tivesse
escolhido Antonio Palocci como sucessor.
Em qualquer caso, a palavra mensalão ainda não faria parte do
vocabulário dos brasileiros. Joaquim Barbosa até poderia ter virado
ministro do Supremo – afinal, desde a posse Lula queria colocar um
ministro negro no STF – mas dificilmente teria acumulado tanta
popularidade em função de um julgamento que talvez só fosse ocorrer,
quem sabe, em 2027.
Seguindo nessa pequena ficção científica, também seria curioso perguntar
quais, entre os líderes do PSDB, quais teriam sido levados ao banco
dos réus.
Teriam direito a um julgamento isento ou teríamos aplicado a teoria do
domínio do fato? Ou, a exemplo do mensalão PSDB-MG, teriam sido todos
levados a um tribunal de primeira instância? Os juízes se divertiriam
fazendo piadinhas sobre os tucanos e seus discursos éticos?
Basta colocar rostos e nomes nos dois escândalos para compreender que nunca teriam o mesmo desfecho, certo?
Até agora, nem a Assembléia Legislativa nem o Congresso conseguiram
assinaturas para abrir uma CPI. É um recorde, quando se lembra que,
entre 2005 e 2006, funcionavam três CPIs para tratar do mensalão.
O governador Geraldo Alckmin decidiu montar uma comissão para acompanhar
as investigações. Imagine se Lula tivesse feito a mesma coisa, em 2005.
No mínimo teria sido acusado de usar o “aparelho petista” para
influenciar os trabalhos do Congresso e da Justiça, certo?
A semelhança entre os escândalos não se encontra nos personagens, nem em seus compromissos políticos.
A semelhança reside no caráter do Estado brasileiro, na sua fraqueza
para se proteger de interesses privados que procuram alugar e controlar o
poder político.
É um drama que está na origem do mensalão petista e ajuda a entender a prolongada e impune existência do propinoduto tucano.
Depois de ensinar que a história ocorre uma vez como tragédia e uma
segunda, como farsa, Karl Marx nos lembrou que os homens não atuam sob
condições ideais, que aprendem nos livros de boas maneiras nem nos
cursos de civismo, mas atuam sob condições dadas, que herdaram de seus
antepassados.
O discurso moralista gosta de atribuir a corrupção à falta de escrúpulos
de nossos políticos, o que é uma visão ingênua e perigosa.
Não há dúvida de que pessoas inescrupulosas podem enriquecer com o
dinheiro dos esquemas políticos. (Também há pessoas inescrupulosas que
enriquecem na iniciativa privada, na próxima esquina, no primeiro
botequim e até em aniversário de criança, vamos combinar).
Mas o dinheiro dos partidos, que circulou nos dois casos, é fruto da
natureza distorcida e abrutalhada de nosso regime político, onde a
democracia foi acompanhada por uma libertinagem de alta tolerância nas
regras financeiras, sob medida para que o Estado pudesse ser capturado e
alugado pelas potencias privadas.
Numa sociologia rápida, pode-se dizer que, com o fim da ditadura
militar, a turma do alto da pirâmide passou a utilizar o sistema
privado de financiamento de campanha como um contrapeso para enfrentar
demandas populares.
Num regime democrático, a questão social não pode ser um caso de cadeira
de dragão no DOI-CODI, não é mesmo? Tenta-se, então, amaciar o pessoal
de cima.
É por isso, e não por outra coisa, que sempre se tratou com palavras de
horror fingido todo esforço para regulamentar verbas de campanha e mesmo
para impedir que eleitores de R$ 1 bilhão de votos pudessem se impor
sobre um regime que, no papel, prevê a regra de que l homem = 1 voto.
Neste aspecto, as confissões dos executivos da Siemens contém ensinamentos úteis a todos.
Um dos mais preciosos é o diário de um gerente, que detalha as
negociações para a construção da linha 5 do metrô paulista. Fica claro,
ali, que as empresas privadas são senhoras da situação. Negociam
acordos, partilham obras, serviços e, é claro, verbas. Interessado no
metrô, uma obra mais do que necessária, tanto para a população como para
seus planos políticos, o governo – o titular, na época, era Mário Covas
– está reduzido a impotência absoluta.
Não tem força política para impor aquilo que a lei manda, que é a
concorrência impessoal e absoluta entre as partes. Não lhe passa pela
cabeça denunciar suas práticas à Justiça.
Em tempos de privatização acelerada, novidade que o PSDB ajudava a
trazer ao país na época, junto com controles de gastos que proibiam
qualquer gasto maior, não se cogita a possibilidade de entregar um
investimento tão grandioso ao Estado.
Nessa situação o governo é forçado a ceder ao cartel de falsos
concorrentes e adversários de araque, sob o risco de enfrentar ações
judiciais, protestos e investigações que irão paralisar os
investimentos.
É assim que o governador, chamado de “cliente” no diário, manda dizer
que quer que “eles se entendam”. O “cliente” também avisa que após o
acordo entre os concorrentes, irá recusar reclamações e queixas futuras.
Num artigo sobre o caso, a colunista Maria Cristina Fernandes, do Valor,
recorda que, com o passar dos anos, os governos petistas também fizeram
a mesma coisa, instalando no ministério dos Transportes – armazém de
gastos de vulto -- partidos com “notória especialização nos contratos da
política.”
Essa situação cinzenta tem uma finalidade. Quer-se impedir o surgimento de novos entraves a investimentos necessários ao país.
Bobagem querer enxergar o que se passa nos bastidores com olhares simplórios do simples moralismo.
O país necessita de investimentos para criar empregos e se desenvolver.
As obras de infraestrutura, como metrô, se destinam a superar uma
omissão histórica. A questão é política e envolve a definição de regras
que permitam a democracia brasileira recuperar sua soberania, mantendo o
dinheiro dos interesses privados longe da política e dos políticos. Seu
lugar é a economia e não o Estado.
Nós sabemos que a necessidade de uma reforma política é apoiada por 85%
dos brasileiros. Ela pode proibir o uso de dinheiro privado no
financiamento político, cortando o laço material que se encontra na
origem de tudo. Um escândalo desse tamanho pode ser de grande utilidade
neste debate.
Quem dizia que o debate sobre reforma eleitoral era desculpa do
adversário tem a oportunidade de assumir uma postura honesta e encarar a
discussão. Não se trata de uma guerra de propineiros x mensaleiros mas
de um esforço para emancipar a democracia de outros interesses além da
soberania popular.
Um comentário:
A Super-Quadrilha do PSDB, estao desviando os focos e chantagiando a parte boa do STF…..pois a parte podre(JB. Gilmar, FUX, Weber, Marco Aurellio, Celso) já estao no bolso!!!
Vejam isto……e repassem!!!
por Slider
Muitos já tem conhecimento que a Globopar, empresa holding da Rede Globo, pegou empréstimo junto ao Banco Rural nos mesmos moldes do PT e que estes empréstimos foram considerados fraudulentos, sendo que no mensalão< a AP 470, só os petistas estão sendo julgados e a Globopar foi preservada e isso é muito estranho.
Muitos já sabem que o Banco Rural está sob intervenção.
O que poucas pessoas sabem é que o dinheiro para o empréstimo que o Banco Rural fez para à Globopar foi captado no exterior …. tchan !!!
E é aqui que a coisa começa a se complicar e junta TUCANOS, Banco Rural e Globopar.
A Globo estava quebrada, o Banco Rural captou dinheiro no exterior emprestou para a Globo e até hoje a Globo não teria liquidado a operação de empréstimo.
E não liquidou por um motivo muito simples, TUDO INDICA, segundo fonte que pede para ser preservada, que o dinheiro foi captado no exterior junto a tucanos de alta plumagem que tinham dinheiro em paraísos "VIRGENS".
Estaria aí o motivo de tanta "UNIÃO" entre os tucanos e a Rede Globo que insiste em preservá-los mesmo diante da avalanche de comprovações do propinoduto do TRENSALÃO.
Os tucanos e a Globo contaram para suas impunidades com a prestimosa contribuição da PGR/MPF e do JB que colocaram a operação de empréstimo (acima relatada) no SIGILOSO GAVETÃO, o inquérito 2474, e tudo mais que pudesse desviar o foco do PT e petistas, o alvo a ser atacado. LEMBRANDO que é neste GAVETÃO, o inquérito 2474, que dormitou por longo tempo os documentos que inocentam Pizzolato e que desmontam a tese central da acusação.
A "fonte" que pede para ser preservada irá disponibilizar documentos comprovando as informações que estamos divulgando em primeira mão.
AGUARDEM QUE VEM CHUMBO GROSSO POR AÍ.
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