segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Por que a direita teme que Marina seja um novo Jânio



A direita teme Marina.

Entre os candidatos fortes, os conservadores ficam, é claro, com Aécio.

Mas entre Marina e Dilma a opção tende a ser por Dilma. Por uma razão básica: eles conhecem Dilma. Sabem o que ela pode fazer e o que não pode fazer. Ela é previsível.

Marina, não.

A direita teme o que ela possa fazer uma vez no Planalto.

E se ela, por exemplo, decide cortar drasticamente as verbas publicitárias do governo federal?

Isso significaria um alto risco para os 600 milhões de reais que, todos os anos, a Globo recebe em verbas publicitárias governamentais.

Num momento em que a internet assola as grandes companhias de mídia, fechar a milionária torneira publicitária de Brasília — ou mesmo reduzir o jorro — seria uma pancada fortíssima. Talvez letal.

Dilma não fará isso. Marina pode fazer. Quer dizer, pelo menos na fantasia paranóica conservadora.

Não à toa, nos últimos dias, a mídia começou a publicar seu medo de Marina.

“Marina presidente é prenúncio de uma crise depois da outra”, disse o Estadão num editorial.

O Globo comparou-a a Jânio Quadros. Jânio, um campeão de votos como Marina, era ele, ele e mais ele. Não se submetia à disciplina de partido nenhum.

A direita, reunida na UDN, que jamais ganhara uma eleição presidencial, achou que o tinha conquistado na sucessão de JK. Apoiou-o e venceu com ele.

Pouco depois, Jânio já estava condecorando Guevara e se indispondo com os cardeais da direita, a começar pelo mais poderoso deles, Carlos Lacerda.

Num episódio de extrema simbologia, Lacerda, então governador do Rio, foi a Brasília para se encontrar com Jânio.

Uma das questões que Lacerda queria discutir era a situação financeira de seu jornal, Tribuna da Imprensa, dirigido pelo filho Sérgio. O jornal estava à beira da quebra, e Lacerda queria uma ajuda do governo.

Lacerda imaginava ficar hospedado no Palácio da Alvorada, com a devida deferência. Deixou lá sua mala, ao chegar a Brasília, e saiu para um compromisso.

Ao voltar, o mordomo do Alvorada o esperava na guarita, com a mala na mão. Foi uma bofetada moral em Lacerda, que jamais perdoaria Jânio.

Este era Jânio, inadministrável.

Os conservadores temem que a história se repita com Marina.

Ao contrário do que muitos possam imaginar, num segundo turno entra Dilma e Marina, a direita torcerá muito provavelmente por Dilma.

É uma boa notícia para Dilma — com a ressalva de que a direita tem dinheiro, mas não tem voto.

Paulo Nogueira
No DCM

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