Antonio Lassance
Quase a metade dos nomes listados na delação premiada do
ex-diretor da Petrobrás é de políticos ligados à campanha de Aécio
Neves e Marina Silva.
Se o escândalo contra a Petrobrás era para ser a bala de prata desta eleição, o tiro saiu pela culatra.
Quase a metade dos nomes listados na delação premiada do ex-diretor da
Petrobrás, Paulo Roberto Costa, é de políticos ligados não à campanha de
Dilma Rousseff, mas à de Aécio Neves e Marina Silva. Dos 16 nomes, sete
estão contra Dilma, pública, notória e oficialmente.
O detalhe, que é do tamanho de um elefante, tem passado desapercebido na "grande" mídia. Será por quê?
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), é candidato ao
governo do Rio Grande do Norte, apoia Aécio e tem uma chapa formada
pelo PSDB, DEM e também pelo PSB.
Romero Jucá, do PMDB de Roraima, declarou apoio e fazia entusiasmada
campanha para Aécio. Jucá brigou com Dilma quando foi afastado, em 2012,
da liderança do governo no Senado, o cargo quase vitalício que ocupou,
pela primeira vez, durante o governo FHC.
Ao finalmente romper com um governo e ir para a oposição, Jucá declarou
que o fazia por razões ideológicas e "acusou" Dilma de ser socialista.
O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) liderou a resistência que tentou
impedir o apoio de seu partido a Dilma. Depois, organizou a dissidência
do Diretório do Rio de Janeiro, que apoia Aécio.
A mesma coisa fez João Pizzolatti, que é presidente do PP de Santa
Catarina e articulou o apoio desse diretório a Aécio. O PP-SC também fez
barba, cabelo e bigode: além de estar com Aécio, o chapão de Pizzolatti
inclui a aliança com as candidaturas de Paulo Bauer a governador, pelo
PSDB, e de Paulo Bornhausen ao Senado, pelo PSB.
Eduardo Cunha, deputado federal pelo PMDB-RJ, dispensa maiores
apresentações. É o inimigo público nº 1 de Dilma dentro do PMDB e foi o
principal articulador do apoio majoritário desse partido, no Rio, ao
candidato Aécio Neves.
Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, embora publicamente tenha
feito declarações favoráveis a Dilma, patrocina a aliança conhecida como
"Aezão", ou seja, a adesão dos tucanos à candidatura do governador
Pezão (PMDB), que é candidato à reeleição. Em troca, a maior parte do
PMDB fluminense garantiu apoio governista à combalida campanha de Aécio
naquele estado.
Eduardo Campos (PSB) - também citado na delação -, como é notório, saiu
candidato à presidência da República, levou o PSB para a oposição ao
governo Dilma, aliou-se a Marina Silva e organizou as dobradinhas com
Aécio em vários estados.
A propósito, até o momento, a defesa de Campos tem ficado restrita a
alguns membros do PSB. Marina nem mesmo se deu ao trabalho de rechaçar
prontamente as denúncias feitas contra uma pessoa de quem ela se dizia
firme aliada por uma nova política.
A enigmática frase da candidata - de que "não queremos ver Eduardo
morrer duas vezes" - mostrou que, até mesmo em relação a Eduardo Campos,
Marina Silva está mais que propensa, de novo, a mudar de ideia.
Uma simples conferida na lista deixa claro que o escândalo foi qualquer
coisa, menos algo feito com o claro propósito de ajudar a campanha de
Dilma.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
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