28/10/2014
Uma das principais garantias para a construção e manutenção da democracia é o jornalismo de qualidade, comprometido com fatos e dados relevantes para a sociedade.
Dal Marcondes, via CartaCapital
O jornalismo costuma ser a primeira vítima das ditaduras. A censura e a mentira são armas utilizadas por forças autoritárias, de direita ou de esquerda, para manter o controle da sociedade. Durante mais de 20 anos no Brasil o jornalismo esteve no centro da resistência ao autoritarismo, com publicações “alternativas” defendendo bandeiras específicas, como os jornais Movimento, Ex, Mulher, CooJornal, Pasquim, Lampião e muitos outros já registrados em livros e documentos históricos. Além disso, mesmo jornalões como O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde tiveram seus capítulos de oposição, assim como a Veja, que um dia foi muito diferente do que é hoje, sob a batuta do jornalista Mino Carta e uma valorosa equipe de profissionais.
No entanto, nem só de patrões venais é feito o mau jornalismo. Jornalistas descomprometidos com a sociedade e que buscam apenas a fama da bazófia fazem da profissão um exercício inútil e sem relevância. Nesse novo momento da democracia brasileira o jornalismo de qualidade precisa ressurgir das cinzas em que foi lançado durante a campanha eleitoral e reassumir um papel relevante como guardião da democracia. Agora que as eleições foram decididas, manda a democracia que quem venceu governe e quem perdeu assuma a oposição responsável, com foco maior em políticas públicas, lambendo as feridas partidárias na espera por um novo pleito.
O jornalismo comprometido precisa ajudar na recomposição das teias sociais e políticas sem o peso do partidarismo. É preciso que jornalistas reassumam a vanguarda informativa tomada de assalto pelas redes sociais durante a campanha eleitoral. O momento é outro, de formação de opinião não mais sobre propostas, mas sobre ações que deverão repercutir no cotidiano da cidadania.
Talvez seja bom, também, lembrar que o jornalista está em um momento especial de libertação das grandes mídias, como ator principal em novos meios que podem chegar a milhões de pessoas com a velocidade de um click. Essa libertação transforma os profissionais em grifes, em referências onde os leitores buscam uma “certificação” da informação que está sendo divulgada.
Acabou a campanha, é preciso trabalhar pela boa governança do Estado e da democracia, e isso somente é possível com fatos e versões comprometidos com a sociedade brasileira e não mais apenas com bandeiras partidárias. O bom jornalismo foi uma das vítimas da campanha presidencial, no entanto, para o bem do Brasil, é melhor que esteja apenas combalido e não mais um corpo estendido no chão.
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