O Conversa Afiada reproduz de Carta Capital:
Para a Polícia Federal, a acusação
do doleiro contra Lula e Dilma pode ter sido estimulada pela defesa de
Youssef, com intenção eleitoral, um dia antes da publicação de “Veja”
O jornal O Globo traz em sua edição
desta quarta-feira 29 uma informação que pode ajudar a elucidar a
história por trás da “bala de prata” da oposição contra Dilma Rousseff
(PT), a indicação, feita pelo doleiro Alberto Youssef, de que a
presidente reeleita e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham
conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras. Segundo o jornal, os
investigadores suspeitam que a declaração do doleiro pode ter sido
forçada pela defesa para influenciar o resultado do segundo turno das
eleições.
A Polícia Federal investiga como o
depoimento de Youssef vazou e, segundo a reportagem do Globo indica,
suspeita da ação da defesa do doleiro. De acordo com o jornal, Youssef
prestou depoimento na terça-feira 21, como vinha fazendo normalmente, e
não citou Lula ou Dilma. Na quarta-feira 22, diz o jornal, um dos
advogados de Youssef pediu para “fazer uma retificação no depoimento
anterior”. No interrogatório, afirma o Globo, o advogado “perguntou quem
mais, além das pessoas já citadas pelo doleiro, sabia da fraude na
Petrobras”. Youssef disse, prossegue o jornal, “acreditar que, pela
dimensão do caso, não teria como Lula e Dilma não saberem”. A
retificação acabou exatamente neste trecho.
No dia seguinte, a quinta-feira 23,
antecipando sua circulação semanal em um dia, Veja publicou as
declarações de Youssef a respeito de Lula e Dilma. Segundo a reportagem
da revista, o doleiro não apresentou provas e elas não foram
solicitadas.
A suspeita da PF levanta uma
questão temporal curiosa. Enquanto a retificação do depoimento de
Youssef teria ocorrido na quarta-feira, segundo O Globo, Veja afirmou em
nota que sua apuração “começou na própria terça-feira, mas só atingiu o grau de certeza e a clareza necessária para publicação na tarde de quinta-feira”.
A defesa de Youssef é coordenada
pelo advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto. Por um ano, Basto teve
um cargo de conselheiro do Conselho de Administração da Sanepar, a
Companhia de Saneamento do Paraná. Como consta no site da empresa, ele assumiu o cargo em 17 de janeiro de 2011,
16 dias após a posse de Beto Richa (PSDB) como governador do Paraná. Em
25 de abril de 2012, a carta de renúncia de Basto foi lida em
assembleia geral da Sanepar, como consta em ata também publicada no site da companhia. No último 23 de outubro, no mesmo dia da publicação de Veja, Basto disse ao mesmo jornal O Globo que desconhecia o teor do depoimento dado por Youssef na terça-feira 21.
A reportagem sobre a suspeita da PF, publicada nesta quarta-feira 29 pelo Globo, no pé da página 6
A notícia veiculada pelo Globo, apurada de Brasília e Curitiba e que não tem assinatura em sua edição imprensa, apenas na versão online,
foi relegada à parte inferior da página 6 do periódico, uma escolha que
chama atenção diante da repercussão que teve a capa da revista Veja.
Na sexta-feira e no sábado, véspera
do segundo turno, panfletos com a capa impressa de Veja foram
distribuídos em várias cidades do Brasil. Na madrugada de sábado 25 para
domingo 26 começou a circular pelas redes sociais o boato de que Youssef, internado em Curitiba, teria sido envenenado.
A Polícia Federal e o hospital em que ele esteve desmentiram a
informação, que circulou pelas redes sociais em uma velocidade
impressionante, assustando a militância petista na reta final da votação
e provocando um impacto que dificilmente poderá ser mensurado.
Também na imprensa brasileira houve
repercussões. No domingo 26, um colunista da Folha de S.Paulo, que
publicou reportagem de teor semelhante ao de Veja a respeito do suposto
conhecimento de Lula e Dilma sobre a corrupção, acusou a TV Globo de ter
“medo” ao não repercutir as denúncias dos dois veículos no Jornal
Nacional. Em resposta, o diretor de jornalismo da Globo afirmou que as
fontes da emissora não confirmaram “com suas fontes o sentido do que
fora publicado” pela revista e classificaram como “distorcida” da
reportagem da Folha.
(Por José Antonio Lima)
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