O erro “venezuelista” da direita brasileira
29 de outubro de 2014 | 12:53 Autor: Fernando Brito
Ontem, comentando o que havia escrito um homem uma das honras do jornalismo brasileiro, Mauro Santayanna, saudando o fato de que Aécio Neves, tanto quanto Dilma Rousseff, não insistiria em novos ataques ou acusações, nem cederia espaço para a frustração e o ódio.
Seria, de fato, muito bom que isso acontecesse e, até, corresponderia à natureza de Aécio, neto do mineirismo político de Tancredo.
Mas não é o que está acontecendo e não parece que será, por um bom tempo.
Ontem, Aloysio Nunes Ferreira – o ex-vice de Aécio – fez, no Senado, um discurso afirmando que Dilma “não tem autoridade moral” para falar em diálogo.
Hoje, é o próprio Aécio quem divulga um vídeo belicoso, dizendo que foi derrotado pelo “uso da máquina pública”, pela “mentira” e “pela infâmia” e acena com “uma outra coisa extraordinária, que foi o Brasil acordando, as pessoas indo para as ruas” .
A direita brasileira está querendo produzir um “3° turno” que só existirá mesmo nas cabeças que extravasaram sua natureza preconceituosa e golpista, como se fossemos aqui uma Venezuela, que é um país pequeno e sempre rachado por uma divisão feroz de classes.
Estão cavando um caminho terrível para si mesmos, esquecidos de que, ao contrário da mídia, por onde açulam e pela qual são açulados, precisam de votos.
Deveriam ter compreendido que, se havia muita decepção com a política e até restrições ao desempenho do governo Dilma, foi justamente este ódio e radicalismo que transformaram o Aécio que saiu pujante do primeiro turno daquele que chegou declinante à eleição e, sem o terrorismo da Veja nos instantes finais, teria perdido por diferença maior do que a registrada.
Terminaram as eleições, por mais que a direita e a mídia se recusem a ver isso.
Os industriais querem produzir, os comerciantes querem vender, os donos do agronegócio querem plantar e colher, os trabalhadores querem a recomposição dos salários, a vida continua para além do que a concebem os políticos tradicionais.
Até seu principal quartel general, São Paulo, quer que a vida volte ao normal, a começar pelas torneiras.
Aliás, talvez por isso seu mais bem sucedido candidato, Geraldo Alckmin, esteja discreto e que em “ruas” seja tudo o que não quer ouvir falar.
O primarismo desta direita hidrófoba que se construiu está mais próximo de ser a sua ruína que sua esperança.
O governo eleito pelos brasileiro vai insistir no diálogo, mas exercerá o poder legítimo que lhe foi concedido pelas urnas para, enquanto urram, dirigir o país.
Conspiração pós-urna não funciona, senhores.
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