27/10/2014
A frase-título é de Karl Marx, referindo-se à situação de momento na Alemanha do século 19. Nada mais atual, neste Brasil do século 21, onde a mídia se encarrega de disseminar essas ideias.
Laurindo Lalo Leal Filho, via RBA
O resultado do primeiro turno da eleição presidencial, especialmente em São Paulo, é exemplar. No estado mais rico do país, os números indicam e os contatos de rua confirmam, a existência do voto comum entre o magnata abastado do Jardins e os trabalhadores modestos, moradores das periferias. Na mídia está a explicação para essa comunhão no voto de vidas tão distantes. Ela unifica o discurso, apelando para mensagens de fácil assimilação e passa a repeti-las de forma incessante. Nesta campanha eleitoral os temas em destaque foram a tragédia de uma morte inesperada e a corrupção corroendo o país.
O acidente aéreo, diante da fragilidade da oposição, serviu para impulsionar uma candidatura alternativa que, depois, provou-se inconsistente. Restou a tarefa, executada pela mídia, de inculcar na população a ideia de que o PT teria de ser retirado do poder a qualquer custo, uma vez que seria o responsável pelo maior surto de corrupção já visto no país. As duas candidaturas oposicionistas abraçaram essa bandeira com sofreguidão.
Assim como fizeram os opositores de Getúlio Vargas e de João Goulart. Na atual campanha, as entrevistas realizadas pelos telejornais da Rede Globo e os debates realizados pelas emissoras tornaram-se canais de difusão de propaganda política travestida de jornalismo. Basta citar como exemplo uma pergunta feita a candidata Dilma Rousseff pelo apresentador do Jornal Nacional. Nela, a palavra corrupção foi repetida sete vezes. Ali o conteúdo da pergunta era o de menos, o que interessava era vincular a entrevistada ao mote repisado pelo entrevistador.
No debate da Bandeirantes, as perguntas dos jornalistas nada mais foram do que um resumo dos editoriais da empresa para a qual trabalham. É conhecido o repúdio dos donos da emissora ao MST e à fiscalização do trabalho escravo. Além de rejeitarem qualquer forma de participação social mais democrática e, lógico, uma lei de meios que amplie a liberdade de expressão. Essas posições políticas foram embutidas nas perguntas feitas aos candidatos. Por exemplo: “O governo federal criou por decreto o Conselho de Participação Social. É uma instância direta vista com apreensão por muitos setores. Seria uma ameaça ao Congresso Nacional e, consequentemente, ao equilíbrio institucional. Seria uma bolivarização do Brasil nos moldes chavistas (…)”.
Outra pergunta editorializada: “Por considerar um assunto importante e grave, que envolve a liberdade no país, vou voltar à questão do controle social da mídia. O partido da presidenta, o PT, insiste num plano de censura à imprensa, que eufemisticamente chama de democratização da mídia (…)” A reforma política tão necessária ao país deve incorporar um conjunto de regras capazes de pôr fim a essas distorções.
Para começar os debates eleitorais não podem seguir filtrados apenas pelos interesses da mídia comercial. Devem ser produzidos e realizados por emissoras públicas e realizados em espaços públicos, num campus universitário, por exemplo, como ocorre nos Estados Unidos. Transmitidos nos chamados horários nobres do rádio e da TV, com tempo suficiente para que os candidatos exponham ideias e propostas, sem as interrupções constantes, vistas por aqui. Afirmações, réplicas e tréplicas fragmentadas servem apenas para fazer do debate um espetáculo televisivo, sem relação com a possibilidade de esclarecimento do eleitor.
A contaminação do debate pelas pesquisas eleitorais é outro fator de distorção que necessita ser banido. Essas enquetes não podem servir de referência para a presença dos candidatos diante das câmeras. E muito menos serem divulgadas nos dias que antecedem as eleições, fato que contamina a decisão soberana do eleitor.
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