Dez dias após a reeleição de Dilma Rousseff, a campanha eleitoral de
2014 ainda não terminou, mas a de 2018 já começou. Com a renhida disputa
do terceiro turno ainda ocupando as redes, as ruas e o Congresso
Nacional, mal saímos de uma eleição e já temos três candidatos
perfilados para a largada na próxima: Lula, Aécio e Marina.
No dia mesmo da vitória de Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão,
lançou a candidatura do ex-presidente Lula para a sucessão dela. Nos
dias seguintes, Lula divulgou vídeos com análises sobre o Brasil e o
cenário internacional, mostrando que está na área. E o partido colocou
no seu Face um cartaz vermelho cheio de estrelas, resgatando a estética
revolucionária dos anos 1960, com uma conclamação: "Militância, às
armas!"
Aécio Neves voltou ao Senado nesta terça-feira, aclamado como grande
líder da oposição, e disposto a garantir sua vaga na urna em 2018. Com
discurso de campanha, como se tivesse vencido as eleições, convocou "um
grande exército a favor do Brasil".
Marina Silva, por sua vez, avisou que está voltando a recolher
assinaturas para criar o seu próprio partido, Rede da Sustentabilidade,
depois de ter se abrigado no PSB para disputar as últimas eleições. A
líder ambientalista não quer ficar fora do noticiário, como aconteceu
após a derrota em 2010.
Se depender dos principais líderes do PSDB e do PT não teremos paz tão
cedo. Os dois eternos adversários, agora inimigos juramentados,
resolveram partir para uma guerra permanente.
Claro que não é para levar ao pé da letra as proclamações de apelo
militar feitas pelo PT e por Aécio. Certamente são apenas figuras de
retórica empregadas neste momento para manter suas tropas unidas e fazer
um chamamento à militância.
Os três pré-candidatos para 2018 têm cada qual motivos diferentes para
se posicionar desde agora, antes mesmo da posse de Dilma no seu segundo
mandato.
Mais do que ninguém, Lula sabe que o PT saiu bastante desgastado da
eleição de 2014, apesar de Dilma ter sido reeleita. A onda de
antipetismo alastrou-se pelo país, quase deu a vitória à oposição, e
agora urge reformular o partido, uma operação que só ele mesmo pode
comandar. Quanto antes começar, melhor para Lula e o PT, mas não para a
presidente. Por isso, o ex-presidente já foi ontem mesmo acertar os
ponteiros com Dilma na Granja do Torto.
Na primeira tentativa de voltar às ruas após a campanha, para defender a
reforma política em contraponto à manifestação golpista da oposição do
último sábado na avenida Paulista, as tropas da CUT e do MST,
principais aliados do PT no movimento social, fracassaram. Sob forte
chuva, apenas 200 militantes apareceram na mesma avenida Paulista, dez
vezes menos do que as tropas comandadas por Lobão e o filho do
Bolsonaro para pedir o impechment de Dilma e a volta dos militares.
Enquanto isso, o PSDB organizou no capricho a festa da volta de Aécio
ao Senado, que teve direito até a fogos de artifício. Convocou
funcionários e militantes, também cerca de 200 pessoas, que ocuparam um
enorme espaço nos telejornais noturnos aos gritos de "Fora PT!" e
"Aécio presidente!".
É verdade que terão de esperar pelo menos quatro anos para que isso
aconteça, mas os tucanos deixaram claro que desta vez não estão para
brincadeira. Empolgado com seu novo papel, Aécio prometeu fazer uma
oposição sem tréguas ao segundo governo de Dilma Rousseff. Tem motivos
para isso: embora saia da eleição com um arsenal de mais de 50 milhões
de votos, o senador mineiro sabe que não pode se descuidar dos paulistas
Geraldo Alckmin e José Serra, que ainda não desistiram de disputar a
presidência da República, muito ao contrário.
Também já está em franca campanha, ainda não se sabe bem com qual
finalidade, o líder da oposição no STF, Gilmar Mendes, que não perde uma
oportunidade para atacar a presidente recém reeleita e seu partido. Na
sessão desta terça-feira, em que o Tribunal Superior Eleitoral
discutiu o pedido de auditoria nas urnas eletrônicas solicitado pelo
PSDB, ao proferir seu voto, Mendes mandou bala, lembrando frases de
Lula e Dilma durante a campanha. "Será que chegariam a fraudar as
urnas?", deixou no ar a pergunta, sob aplausos de militantes tucanos
que estavam no plenário com adesivos do PSDB.
Pelas últimas informações que chegam de Brasília, não corremos o menor
risco das coisas melhorarem tão cedo: agora, a presidente reeleita só
deve anunciar nomes e medidas do seu novo governo depois de voltar
de viagem ao exterior para participar de uma reunião do G-20, na próxima
semana. Até lá, o general Eduardo Cunha e seu "blocão", agora com o
apoio ostensivo de Aécio Neves, vai tomando conta da cena, para gáudio
dos analistas políticos inconformados até agora com o resultado da
eleição.
Calma, pessoal. É preciso ter muita paciência nesta hora para esperar a chegada de 2018 sem botar fogo no circo.
Também do Blog CONTEXTO LIVRE.
2 comentários:
Se o Aécio e a Marina não fizerem isto o que eles vão fazer? Não precisam trabalhar.
E o Alckmin? Vai se contentar com o cargo de Senador ou vai querer a Presidência do Brasil?
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