São
preocupantes mas não surpreendentes para o PSDB as notícias que chegam
das periferias de São Paulo. Reportagem do jornal Valor desta
segunda-feira sinaliza que candidatos do partido à vereança já
abandonam a candidatura Serra. A sangria nas franjas da pobreza onde o
tucano nunca foi popular não chega a espantar. Mas agrava uma anemia
de fundo, essa sim de consequências aflitivas para o tucanato. O
declínio que ela sinaliza extrapola em muito o fiasco insinuado no
pleito municipal.
Chega a ser irônico que Serra tenha sido capturado pelo destino para
protagonizar esse momento de desmanche do partido. O ex-governador
sempre fez questão de se diferenciar de seus pares por uma suposta
opção 'desenvolvimentista' - ' de boca', corrigiria Maria da Conceição
Tavares, que o conhece bem.
A decana dos economistas brasileiros tinha razão. Se o
desenvolvimentismo de Serra fosse mais que ornamental esse seria o
momento de exercer uma liderança mudancista no PSDB.
O fato de se agarrar pateticamente à tecla do 'mensalão', e ao 'apoio
de FHC' no horário eleitoral, diz mais sobre o esgotamento político
desse personagem do que o salve-se quem puder de correligionários nas
periferias conflagradas, de resto imiscíveis com o seu higienismo
social.
O grande cabo eleitoral de que se ressente o tucanato hoje, na verdade,
é o capital a juro. Não que o dinheiro grosso lhe seja hostil.
Vice-versa. As marcadas 'advertências' do sociólogo Fernando Henrique
Cardoso à presidenta Dilma, desde que seu governo iniciou uma sequência
de cortes que baixaram em cinco pontos a Selic, dão o testemunho de
uma aliança carnal.
Mas o que era apenas socialmente nefasto agora se tornou disfuncional.
A hegemonia financeira não gera mais sobras suficientes para promover a
coagulação de interesses rentistas que se agregavam no entorno do
PSDB, bem como de sua mídia algo catatônica nesse momento, a repetir
'análises' e editoriais que trombam com o noticiário da página
seguinte.
A orquestra desafinada do fim de festa do dinheiro a juro subtrai
credibilidade ao conjunto. Dos discursos às analises isentas, passando
pelos bordões programáticos tudo parece levitar indiferente à mais ampla
crise do capitalismo em 80 anos.
FHC começa a falar, a frase seguinte é perfeitamente previsível na
anterior. Escorrem platitudes sobre as virtudes dos mercados e
advertências sobre o Estado interventor. Tudo soa anacrônico, levemente
obsceno, confrontado com a contrapartida dessa lógica no mundo real.
A rapidez do 'desalavancagem histórica' supera em muito a capacidade de
renovação de um repertório que fez dos tucanos interlocutores
preferenciais do dinheiro grosso, nativo e globalizado.
A confraria dos acionistas de bancos mostra-se inconsolável. A saudade
dos dividendos com os quais se lambuzava é dolorida; endinheirados de
fundos de investimento agressivos terão que mourejar de agora em
diante na difícil busca de rentabilidade no mundo real. É forçoso
admitir: será preciso incluir em seus cálculos a Nação com todos os
seus 'ruídos de carne e osso'.
Nem o consolo de uma fuga de capitais com crise cambial encontra-se à
vista. Fugir para onde? Aplicar em títulos da Grécia? Ou nos EUA - quem
sabe na confiável Alemanha de Merkel - a juros negativos?
O corner do dinheiro grosso e de sua órbita política fecha todas as portas de um ciclo.
A incapacidade de o PSDB para ir além do denuncismo udenista contra o
PT torna comovente a solidariedade que recebe da parte de togados do
STF e da mídia nessa hora difícil.
A realidade, porém, é implacável. Pululam no noticiário sintomas de uma
ladeira que se estreita e de inclina indiferente a muxoxos e
chiliques emitidos do palanque de Serra.
A entrevista do presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, à
Folha desta segunda-feira, ilustra a correnteza submersa que arrasta
os 'valores universais' do PSDB - rentistas, bem entendido - para o
canto escuro da história.
Trechos:
Saul Leblon(...)"...Taxas de retorno sobre o investimento nas proporções que o mercado de capitais quer exigir... Vai exigir em outro lugar. Aqui não tem mais espaço para isso. Vamos ter que trabalhar com essa realidade".
"...É enganar as pessoas prometer rentabilidades que você tinha dez anos atrás. Isso não existe mais."
"..Vamos dar um excelente retorno para nosso acionista, não tenho dúvidas disso. Ninguém vai cortar rentabilidade do dia para a noite. Não vou virar a chave de 20% para 10%. Vai acontecer uma acomodação e depois ficar no patamar internacional"
(... )Acabou o negócio do "spread"? Acabou. O "core business" de banco continuará sendo a intermediação financeira. Como você vai compensar essa redução de "spread"? Com volume (maior de crédito)"
O "spread" bruto no mundo está na faixa de 3% a 4%. No Brasil, o do BB gira em torno de 7%. Nos demais, é maior.
(...) Falar em 19%, 18% com juros reais de 2%... Está certo a presidente [Dilma] gritar, né? (Folha, 10-09)
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Um comentário:
Zé(Bolinha de Papel)Descendo a Serra........................KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK #soeurindo
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